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França celebra contrato histórico de venda de 80 aviões Rafale para os Emirados Árabes Unidos

03/12/2021 13h08

Os Emirados Árabes Unidos assinaram nesta sexta-feira (3) um contrato para a aquisição de 80 aviões de combate "Rafale", durante visita de Emmanuel Macron ao país, uma das etapas do giro do líder francês pelo Golfo Pérsico. O contrato não tem precedentes, já que nenhum país havia encomendado tal volume de aviões de uma só vez, numa região onde os armamentos norte-americanos dominam. Mas o feito também levanta questões sobre direitos humanos e o presidente francês é criticado dentro de casa.

De uma única vez, um contrato para a compra de 80 aviões Rafale em um pedido fechado, sem outras opções de compra e, principalmente, sem compensações financeiras ou industriais. Esta compra em bloco, nesta quantidade, é um feito inédito na história desta aeronave que é o carro-chefe da empresa francesa Dassault.

O presidente francês Emmanuel Macron disse nesta sexta-feira que o contrato recorde demonstra que os Emirados consideram a França "um parceiro sólido" e "confiável", que "cumpriu seus compromissos".

Segundo o Ministério das Forças Armadas da França, o sucesso da operação se deve à excelência da "parceria estratégica" que há décadas liga a França aos Emirados Árabes Unidos. Paris, que saúda esta "grande conquista", lembra que os Emirados já haviam adquirido no passado 60 Mirage 2000-9, um de seus principais modelos de avião.

A escolha do Rafale se deve também a uma diminuição do envolvimento dos norte-americanos nos países do Golfo. Como os Estados Unidos parecem estar concentrando seus esforços na região Indo-Pacífico, os Emirados optaram - por prudência - por diversificar sua oferta de segurança com a França e a excelência de sua tecnologia.

Muitas contratações na Dassault

O Rafale adquirido será o mesmo da Força Aérea Francesa nos próximos anos. Ele foi atualizado para o padrão F-4, ou seja, uma aeronave comparável em todos os aspectos ao famoso F-35 norte-americano, da Lockheed Martin.

É uma aeronave muito conectada, precisa e capaz de trocar informações em tempo real entre vários dispositivos, podendo designar um alvo por voz ou rádio convencional.

Com um lucro estimado no valor total de € 16 bilhões (R$ 102 bilhões), trata-se de um grande sucesso para a empresa Dassault, cujas carteiras de pedidos estarão cheias para os próximos dez anos.

O fabricante terá de contratar maciçamente para multiplicar por dois ou três a capacidade de produção do Rafale: até o momento, apenas onze aeronaves são produzidas por ano.

Novos contratos com acusações ??de violações dos direitos humanos

Se outros contratos promissores estão à vista, a corrida por parcerias com regimes não democráticos levanta questionamentos na França, ainda mais sendo fechado apenas alguns dias após as revelações do site Disclose sobre os excessos, nem sempre justificados, da cooperação antiterrorista franco-egípcia.

Quanto às três monarquias do Golfo, Paris as considera claramente como aliadas úteis, porque são grandes clientes das indústrias armamentistas francesas, mas também interlocutores-chave na luta contra o terrorismo. "Cooperar com esses Estados é essencial para garantir a segurança dos franceses e europeus", argumenta o Palácio do Eliseu.

Aliados úteis, mas também aliados embaraçosos, porque são regularmente acusados ??de violar os direitos humanos. 

Washington e o reino saudita estão com as relações estremecidas desde a morte do jornalista Jamal Khashoggi em 2018: a CIA denunciou publicamente o envolvimento do príncipe herdeiro Mohammed Ben Salmane neste assassinato.

Direitos humanos, "uma mancha" no histórico diplomático de Emmanuel Macron?

No entanto, o presidente Macron se tornará, no sábado (4) o primeiro grande líder ocidental a apertar a mão do herdeiro saudita: aquele mesmo a quem o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, se recusa a dirigir a palavra.

A Arábia Saudita, assim como os Emirados Árabes Unidos, também são clientes da indústria de defesa francesa, embora algumas dessas armas são suspeitas de terem sido usadas na guerra do Iêmen, na origem de uma das piores crises humanitárias do mundo, segundo a ONU.

A ONG Human Rights Watch condenou "parcerias militares duvidosas em nome do contra-terrorismo e em detrimento dos direitos humanos que continuarão a ser uma mancha na história diplomática de Emmanuel Macron".