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Com ajuda de governos, setor de armas resiste à crise e fatura mais de R$ 3 trilhões em 2020

06/12/2021 12h23

Enquanto o mundo vive os efeitos da crise econômica gerada pela pandemia da Covid-19, o setor do armamento vai muito bem. As 100 maiores empresas do setor até aumentaram suas vendas em 1,3%, em 2020, chegando a faturar US$ 531 bilhões (cerca de R$ 3 trilhões), de acordo com informações do Instituto Internacional de Estudos para a Paz de Estocolmo (SIPRI), publicadas nesta segunda-feira (6). A resiliência das grandes empresas é explicada pelas políticas de apoio dos governos diante da pandemia.

A cifra significa um aumento de 17% em relação a 2015, o primeiro ano em que o SIPRI incluiu dados sobre empresas chinesas. Este é o sexto ano consecutivo de crescimento na venda de armas mundial, mostrando que o ramo resiste bem à pandemia e à recessão econômica.

Empresas norte-americanas continuam a dominar o ranking, representando 54% do total, com 41 empresas cuja soma dos lucros no ano passado alcança US$ 285 bilhões (R$ 1,6 trilhão). A indústria de armas norte-americana está passando por uma onda de fusões e aquisições, como forma de ampliar seus portfolios e obter uma vantagem competitiva nas licitações por contratos.

A China representa 13% do total das vendas, a segunda maior parcela do ranking. As vendas de armas das cinco principais empresas chinesas somaram um total estimado de US$ 66,8 bilhões de dólares em 2020, um aumento de 1,5% comparado com 2019.

A parte da China é menor que a dos Estados Unidos, mas maior que a do Reino Unido, que fica com o terceiro lugar. "Nos últimos anos, as empresas chinesas se beneficiaram dos programas de modernização militar do país e do foco na fusão entre o campo militar e o civil", analisa Nan Tian, pesquisador sênior do SIPRI. "Essas empresas se tornaram algumas das mais importantes produtoras de tecnologia militar avançada do mundo".

As vendas de armas das 26 principais empresas europeias, somaram em conjunto US$ 109 bilhões, ou 21% do total. As vendas de armas da BAE Systems - a única empresa europeia no top 10 - aumentaram em 6.6%, alcançando o valor de US$ 24 bilhões.

Ajudas dos governos

"Os gigantes da indústria foram protegidos em grande medida por uma contínua demanda governamental por bens e serviços militares", diz Alexandra Marksteiner, pesquisadora do Programa de gastos militares e produção de armamentos do SIPRI.

Segundo os especialistas do instituto, o impacto da crise foi diminuído devido aos investimentos do governo no setor. "Em grande parte do mundo, os gastos militares cresceram e alguns governos aceleraram os pagamentos à indústria de armas como forma de mitigar o impacto da crise do Covid-19".

Impacto da pandemia

Mas ainda assim, algumas empresas sentiram o choque da pandemia. A venda de armas francesas registrou queda de 7,7%. Isto seria resultado, em grande parte, da diminuição abrupta nas entregas da aeronave de combate Rafale produzida pela Dassault.

A empresa de armamentos Thales, por exemplo, atribuiu a queda de 5,8 % nas suas vendas de armas ao lockdown imposto pelo governo na primavera de 2020. Algumas empresas também reportaram interrupções na cadeia de produção e atrasos nas entregas.

A venda de armas da Rússia também caíram pelo terceiro ano consecutivo. No último ano registraram uma queda de 6,5%. O decréscimo recente continua uma tendência observada desde 2017, quando as vendas de armas de empresas russas alcançaram seu ápice. Isso coincidiu com o fim do Programa estatal de armamento (2011-2020) e com atrasos nas entregas de armas.