De olho na China, cúpula da Otan marca mudança na geopolítica mundial
A reunião da Otan em Madri marcou uma mudança de direcionamento de extrema importância para a geopolítica mundial. Naturalmente, esperávamos um foco contínuo, durante a cúpula, na Guerra na Ucrânia e seus desdobramentos. Sim, isso aconteceu, inclusive com as principais lideranças da aliança convencendo a Turquia a "liberar" a entrada de Suécia e Finlândia ao bloco.
Thiago de Aragão, analista político
No entanto, o que mais chamou atenção, foi o foco que a cúpula acabou dando para a China. Primeiramente, os convites feitos à Coreia do Sul, Japão, Austrália e Nova Zelândia, já indicariam que uma atenção considerável seria dada ao Indo-Pacifico.
A China, tendo sido relegada a segundo plano durante a primeira metade de 2022 por conta da invasão russa à Ucrânia, estava gostando de ser tratada como "segunda página" nos jornais do mundo. Afinal, após as Olimpíadas de Inverno, o país passou por graves dificuldades que incluíram lockdowns, indícios de crise econômica, crise gerencial dentro do partido e aumento de tensões com outros países (Austrália como um exemplo importante). Além disso, o endosso à invasão russa afetou fortemente a boa vontade dos europeus em relação à China.
No momento em que a Coreia do Sul e o Japão foram convidados a participar da cúpula, a China imediatamente se manifestou com uma mensagem esperada de repúdio. Argumentou que a Otan, liderada pelos EUA, quer arrastar a força as tensões europeias para a Ásia. A verdade é que as tensões já estavam na Ásia muito antes de reaparecerem na Europa. A disputa por influência no Indo-Pacifico levou à criação do QUAD (aliança naval-militar entre Índia, EUA, Austrália e Japão) e da AUKUS (aliança naval-militar entre Austrália, Reino Unido e Estados Unidos). Além disso, a disputa por influência em diversas ilhas do Pacifico gerou uma batalha diplomática entre China, Austrália, EUA e Nova Zelândia, tendo como alvos as Ilhas Salomão, Kiribati, Vanuatu, Fiji, Tonga, entre outras.
A movimentação chinesa em relação às ilhas do Pacifico, precisamente Fiji, Ilhas Salomão e Kiribati, acabaram estimulando a aceleração, por parte da Otan, em considerar uma adesão rápida de Austrália e Nova Zelândia. Esses dois países, além de Coreia do Sul, Japão e os outros 30 membros da Aliança do Atlântico Norte, afirmam que "a China não é uma inimiga, mas as ações de Pequim geram ansiedade em outros países da alianca".
Por mais que a Otan não tenha conseguido encerrar a guerra na Ucrânia, a aliança se mostrou mais unida do que nunca. Afinal, há apenas alguns anos, o ex-presidente Donald Trump disse em diversas oportunidades que a Otan não servia para nada. Considerando a revitalização ocorrida após a invasão russa, nada mais natural do que expandir o foco para a China.
Tornar-se foco da Otan, é um problema estratégico grave para a China. Se as tensões existentes contra os EUA e Austrália, já são um prato cheio, se tornar o centro de planejamentos e estratégias de contenção de 30 membros da Otan, é um problema muito maior para o gigante asiático.
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