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Presidente da Colômbia assume Forças Armadas e diz que militares agora vão "construir a paz"

21/08/2022 06h15

O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, assumiu na noite deste sábado (20) como o novo chefe das Forças Armadas do país e prometeu que a instituição colombiana agora terá a vocação de "construir a paz". Na juventude, Petro foi membro de uma guerrilha urbana de esquerda duramente combatida pelas forças de ordem colombianas.

Em uma cerimônia em uma escola militar de Bogotá, os novos comandantes do exército, da Marinha e da aeronáutica prestaram juramento diante do primeiro presidente de esquerda da história do país, eleito em junho.

Acompanhado do ministro da Defesa, o recém nomeado Ivan Velázquez Gomez, Petro convidou a cúpula militar a "uma reflexão sobre o significado da eleição": disse que "a população votou pela mudança", depois de "décadas de massacres" no combate ao narcotráfico.

Depois de "décadas de massacres" para "matar uns aos outros numa guerra fratricida, violência permanente, (...) mudar é sair dessa guerra perpétua e construir a paz (...). É uma ordem do povo", defendeu o mandatário. "O que isso significa para o exército? (...) Não se trata de substituir um general por outro (...). O exército não deve apenas se preparar para a guerra, mas também deve se preparar para a paz, terminar como um exército de paz", sublinhou o presidente de 62 anos, ex-integrante do Movimento 19 de Abril (M-19), uma guerrilha urbana de extrema esquerda dos anos 1980.

Em 12 de agosto, o novo chefe de Estado substituiu todo o comando militar, incluindo a polícia, enfatizando que sua missão seria a de "a reduzir a violência, a criminalidade e um aumento substancial do respeito aos direitos humanos e às liberdades públicas". Ele nomeou o general Helder Fernan Giraldo como comandante-em-chefe e instalou o general Henry Armando Sanabria como chefe da polícia, sob a autoridade do Ministério da Defesa.

Com as nomeações, o novo governo de esquerda levou à saída de cerca de 30 generais do exército e chefes da polícia, uma medida inédita que teve um efeito de terremoto na instituição.

Fim de "inimigos internos"

Após seis décadas de conflito contra as guerrilhas das FARC (Forças Armadas Revolucionarias da Colômbia), desarmadas com o acordo de paz de 2016, o exército continua a combater os múltiplos grupos armados que operam nas províncias do país - e, em particular, os dissidentes das FARC e os guerrilheiros guevaristas do ELN. Os militares mantêm amplo apoio popular.

Entretanto, escândalos mancharam a reputação da instituição, como alianças com paramilitares, casos de cumplicidade com o Clã del Golfo, a maior quadrilha de traficantes do país, ou a execução de mais de 6 mil civis falsamente apresentados como guerrilheiros mortos em ação entre 2002 e 2008.

Na sexta-feira (19), durante outra solenidade com o comando da polícia, o presidente fez uma severa advertência aos policiais, acusados pela violenta repressão às manifestações populares de 2021 e pelos fracos resultados no combate às drogas. Petro rejeitou "a velha doutrina de segurança baseada na falsa crença de que há um inimigo interno na Colômbia".

"Não há inimigo interno na sociedade colombiana", insistiu, em clara referência a uma abordagem excessivamente militarista da polícia, que sempre criticou.

Negociações

O exército também se destina principalmente a "defender os cidadãos", repetiu no sábado. Terá que lutar contra "o narcotráfico, cartéis estrangeiros cujo poder crescente ameaça nossa soberania". Também terá de proteger o meio ambiente e "a floresta amazônica", frisou.

Essas reviravoltas ocorrem no momento em que Petro pretende relançar as negociações de paz com o ELN, discutir com os narcotraficantes para que se submetam à justiça e retomar as relações normais com a vizinha Venezuela. Os dois países estão em conflitos há anos.

"Ficaremos na história se construirmos a paz. Estamos neste momento da história: podemos assumir, ou não", alertou o novo presidente aos generais.

Com informações da AFP