Josias de Souza

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Opinião

Falta ao Gilmarpalooza um painel de debates sobre ética e decoro

Em sua 12ª edição, o Fórum Jurídico de Lisboa já virou tradição. Entrou para o calendário. Ganhou até apelido sestroso: Gilmarpalooza. A diferença em relação ao festival musical é que os shows mais atraentes do festival que tem Gilmar Mendes como promoter não estão no palco principal. O melhor do espetáculo está nos eventos paralelos —festas, jantares, coquetéis...

Ano após ano, políticos patrimonialistas, magistrados aristocráticos, empresários pré-coloniais e advogados pós-republicanos refazem a rota de Pedro Álvares Cabral. Cruzam o Atlântico para debater na capital de Portugal as aflições do Brasil. Não ambicionam as soluções. Apenas admiram os problemas que servem de biombo para o lobby e o tráfico de influência.

Formalmente, a coisa começou na quarta-feira. Informalmente, o rito inaugural foi o coquetel servido na véspera, na cobertura lisboeta do dono da Riachuelo, Flávio Rocha. Nele, roçaram cotovelos e interesses parlamentares, juízes e plutocratas. O orquidário emprestou seu aroma para o jantar do aniversário de 55 anos de Arthur Lira. Foi patrocinado por João Camargo, do grupo Esfera Brasil, cujo propósito é unir o privado e o público.

Numa conta modesta feita pela Folha, pelo menos 160 autoridades dos Três Poderes e de governos estaduais foram para Lisboa. Há dinheiro público no custeio da revoada. O Congresso ficou às moscas. Quem não foi tomar vinho português está pulando fogueira de São João ou desfrutando do ócio remunerado. O Supremo apressou o julgamento sobre a maconha para não atrapalhar o voo de certas togas. Nesse contexto, para que o Gilmarpalooza alcance a perfeição, falta apenas incluir no fórum um painel de debates sobre ética e decoro. Matéria-prima não falta.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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