A Copa da discriminação: Fifa ameaça com sanções e seleções desistem de usar braçadeira pró-LGBT
As sete equipes europeias ainda envolvidas na campanha antidiscriminação contra a comunidade LGBTQIA+ foram ameaçadas com "sanções esportivas" pela Fifa, se seus capitães usassem a braçadeira multicolorida "One Love" durante a Copa do Mundo do Catar. O acessório evoca o apoio ao amor sob todas as suas formas, manifestações, gêneros e opções sexuais.
O pequeno pedaço de pano com um coração ilustrado por seis faixas coloridas, destinado a simbolizar inclusão e diversidade, foi uma das "estrelas" dos jogos amistosos antes das equipes chegarem ao Catar. Mas o anfitrião do Mundial de 2022 insiste no respeito às regras locais e, por isso, tem sido muito criticado por seu tratamento aos LGBTQIA+. O bilionário emirado árabe proíbe as relações sexuais fora do casamento e criminaliza a homossexualidade.
Inicialmente, oito equipes - Bélgica, Inglaterra, Dinamarca, França, Alemanha, Holanda, País de Gales e Suíça - se comprometeram a usar a braçadeira, juntamente com a Noruega e a Suécia, que acabaram não se classificando para a Copa do Mundo. Mas a seleção francesa anunciou na semana passada que não desafiaria a crescente relutância do presidente da Federação Francesa de Futebol (FFF), Noel Le Graet, que cedeu à pressão das autoridades árabes.
A perspectiva de sanções financeiras não havia desencorajado os sete países europeus. Porém, a possibilidade de aplicação de sanções esportivas, na forma de um cartão amarelo para o capitão dos times, finalmente os convenceu a jogarem a toalha, não sem amargura.
Rigor ou discriminação?
"Como federações nacionais, não podemos pedir a nossos jogadores que arrisquem sanções esportivas, inclusive cartões amarelos", escreveram as entidades dos sete países em uma declaração conjunta.
"Estávamos preparados para pagar multas (...) mas não podemos colocar nossos jogadores numa situação em que eles poderiam ser advertidos ou mesmo ter que sair do campo", no caso de um segundo cartão amarelo, argumentaram as equipes.
A Fifa, que durante muito tempo ficou em silêncio sobre o assunto, reagiu no sábado (19) emitindo suas próprias braçadeiras de capitão com mensagens muito mais consensuais, tais como "Salvar o planeta", "Educação para todos" e "Não à discriminação".
Nesta segunda-feira, a entidade dirigente do futebol mundial anunciou que suas braçadeiras oficiais com a mensagem "Não à discriminação" estariam disponíveis para uso dos capitães a partir de agora, enquanto que este slogan deveria aparecer nas quartas de final.
Isto está de acordo com o artigo 13.8.1 do regulamento da Fifa, que estipula que "para as etapas finais das competições, o capitão de cada equipe deve usar a braçadeira fornecida pela Fifa", disse a organização. Seu presidente, Gianni Infantino, também reiterou que a Copa do Mundo 2022 estava "aberta" para a comunidade LGBTQIA+.
O "desprezo" da Fifa
"Eu falei com as mais altas autoridades do país. Eles reiteraram e eu posso confirmar que todos são bem-vindos. Se alguém diz o contrário, bem, essa não é a opinião do país e certamente não é a opinião da Fifa", disse ele na declaração.
Mas seria certamente um eufemismo dizer que a posição tardia e autoritária da Fifa não foi bem sucedida com as equipes envolvidas.
"Algumas horas antes do primeiro jogo, a Fifa (oficialmente) nos disse que o capitão receberia um cartão amarelo se usasse a braçadeira de capitão OneLove. Lamentamos profundamente que não tenha sido possível chegar juntos a uma solução razoável", disse a federação holandesa KNVB, que estava por trás da iniciativa anunciada há dois meses.
"A KNVB teria pago uma possível multa por usar a braçadeira de capitão OneLove, mas para a Fifa querer nos punir em campo por isso é inaudito", insistiu.
O assunto está longe de ter terminado: "Juntamente com os outros países envolvidos, vamos analisar criticamente nossa relação com a Fifa no próximo período", prometeu a KNVB.
Os torcedores também não estão contentes, com a Associação de Apoiadores de Futebol do Reino Unido (FSA) criticando as declarações de Infantino em sua coletiva de imprensa no sábado. "Hoje os torcedores LGBTQ+ e seus aliados sentem raiva. Hoje nos sentimos traídos. Hoje sentimos o desprezo de uma organização que mostrou seus verdadeiros valores ao dar um cartão amarelo aos jogadores e um cartão vermelho à tolerância".
(Com AFP)
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