Jogado da ponte: Derrite tem de ser demitido já. Ou Tarcísio peça pra sair
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), acreditava nos próprios dogmas ou era um fiel do "Capitão" quando escolheu Guilherme Derrite -- que fez de cadáveres a sua plataforma eleitoral -- para a Secretaria de Segurança Pública? Enquanto esse cara -- ressentido e vingativo, como sabem os coronéis da PM honrados que ele chutou -- continuar à frente da pasta, é bom que se saiba:
1: nenhum preto estará seguro em São Paulo porque poderá ser jogado do alto de uma ponte ou ser executado pelas costas num supermercado;
2: nenhum branco estará seguro: mesmo de classe média e estudando medicina, não estará a salvo porque poderá levar um tiro à queima-roupa;
3: não haverá pardo sobre uma moto que possa dizer: "Eu sou um cidadão". Enquanto Derrite for secretário, ninguém é cidadão. Todo mundo só tem de seu o lombo exposto à porrada.
Enquanto Derrite estiver à frente da Secretaria de Segurança Pública do Estado mais importante da Federação, Deus está demitido. Tarcísio é quem fala na Sarça Ardente, e seu profeta é um policial que se fez notável e deputado porque produzia cadáveres com mais facilidade do que seus pares. É o braço executor do governador.
Gilberto Kassab, um analista fino da política — e isso não é ironia; ele é bom mesmo — diz ser Tarcísio uma das três maiores lideranças do país. Está errado desta vez. Candidato a Pigmaleão, o presidente do PSD parece ter errado de estátua. Essa que escolheu mostra ter ambições bem mais mesquinhas do que as pretensões de seu escultor. Este busca um estadista; aquele demonstra se dar bem no mundo da porradaria. E, por essa razão, subiu em palanque com golpistas e pediu anistia àqueles que tentaram dar um golpe de Estado.
TARCÍSIO É DIFERENTE DE SEU SECRETÁRIO?
No dia 14 de setembro de 2023, comentei em "O É da Coisa" uma delinquência produzida por Derrite: publicou em suas redes fotos de pacotes de maconha apreendidos pela Polícia de São Paulo com adesivos do presidente Lula e adesivos com a mensagem "Faz o L". Na legenda da foto, Derrite escreveu que um casal transportando a droga havia sido preso na cidade de Euclides da Cunha Paulista transportando uma grande quantidade de maconha. O secretário publicou a imagem nas suas páginas da rede e parabenizou os policiais pela demonstração de que "em São Paulo, o crime não compensa".
Defendi, então, que Derrite fosse demitido. Não aconteceu, é claro! Ao contrário. Seu prestígio junto ao "estadista" Tarcísio só cresce. É considerado um nome preferencial para a sucessão do governador caso este decida disputar a Presidência. Muitos querem que o governador seja um moderado cercado de reacionários. A minha leitura é outra: é um reacionário esperto cercado de reacionários ignaros.
MENINO RYAN E ELOGIO
Como esquecer a morte do menino Ryan? Vai fazer um mês nesta quinta, o menino Ryan da Silva Andrade Santos, de 4 anos, foi morto com um tiro de uma espingarda calibre 12, da Polícia Militar. Sabem como é... Troca de tiros com bandidos. As balas costumam encontrar os quase pretos de tão pobres, os quase pobres de tão pretos. Dois dias depois, Tarcísio não apenas silenciou sobre o cadáver do infante como elogiou a atuação de Derrite:
"Você tem se saído muito bem e se tornado uma referência para todo o Brasil".
Quando teremos a ousadia de votar o correspondente, nos diretos humanos, à Lei de Responsabilidade Fiscal, que mesmeriza editorialistas? Votemos a "Lei da Responsabilidade Humanista". Aí dirá o estilista de ideias sempre "magras e severas", para citar alguém: "Deixe de ser demagogo, Reinaldo!" É mesmo?
Os despropósitos vão se multiplicando naquela que chegou a ser uma das PMs mais profissionais do país. A culpa, na esfera penal, é de quem mata e de quem se omite. A reponsabilidade política é do governador e de seu secretário de Segurança. No dia 8 de março, informado que órgãos de defesa dos direitos humanos pensavam apelar a cortes internacionais para denunciar a matança da tal Operação Baixada, sob o pretexto de combater o PCC, Tarcísio, "o estadista", afirmou:
"[Tem] uma turma profissional para caramba que está dando o máximo. Está dando a vida e está se expondo ao risco para proteger você, para proteger ele e me proteger, para proteger a sociedade. Então, sinceramente, tenho muita tranquilidade com relação ao que está sendo feito. E aí o pessoal pode ir na ONU, na liga da Justiça, no raio que o parta que eu não tou nem aí".
Naquele mesmo dia, eu afirmei em "O É da Coisa":
"O senhor está percebendo que a violência da PM pode lhe render dividindo junto à direita; que [ela] é um ativo eleitoral. Isso que o senhor tá falando incentiva a violência (...) O senhor deve saber a frase que se atribui a Pedro Aleixo, vice de Costa e Silva, um ditador, em 1968, quando se baixou AI 5 (...): "Presidente, não temo tanto seus homens, mas o guarda da esquina".
E acrescentei:
"Quando o senhor fala isso, o senhor dá sinal verde para a violência. E o senhor está dizendo: 'É nesse pau que nós vamos; é assim mesmo: é fabricando cadáveres; é fabricando presunto de pobre e de preto".
MAUS AUGÚRIOS
Tarcísio carrega em suas entranhas maus augúrios na segurança pública. O então candidato do PL foi à favela de Paraisópolis, hoje a maior de São Paulo. Estava do Polo Universitário, no dia 17 de outubro de 2022. Tiros foram disparados no lado de fora. O então candidato se apressou em ir às redes para anunciar:
"Em primeiro lugar, estamos todos bem. Durante visita ao 1º Polo Universitário de Paraisópolis, fomos atacados por criminosos. Nossa equipe de segurança foi reforçada rapidamente com atuação brilhante da PMESP".
Depois corrigiu a própria fala. O tal "ataque" nunca foi demonstrado. O que é certo? O homem que, segundo a versão oficial, teria atacado a comitiva era Felipe Silva de Lima. Seu corpo ficou lá, por algumas horas, estendido no chão. Nunca se encontrou a arma que ele estaria portando no momento. Começava uma trajetória sinistra na segurança pública.
DEMISSÃO
O governador só pode ser demitido pelo povo, por intermédio de impeachment (sim, também estão sujeitos: Lei 1.079, Arts. 74 a 79) ou pela Justiça, em razão de condenação transitada em julgado. Mas ele pode demitir o secretário de Segurança Pública.
Quando Tarcísio escolheu Derrite para a Segurança Pública, coronéis responsáveis da PM se espantaram. E alguns anteviram: "Será um desastre". O escolhido respondeu demitindo desafetos e promovendo aliados numa área que lida com vida e morte. Agora mesmo, está empenhado em criar uma Ouvidoria paralela à já existente. Para quê? Só cabe uma resposta: produzir ainda mais impunidade.
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