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Dependência de produção chinesa provoca falta de paracetamol e amoxicilina no mundo

30/12/2022 13h40

Uma escassez do antibiótico amoxicilina e de paracetamol, dois medicamentos muito receitados pelos médicos, afeta atualmente um grande número de países no mundo, entre eles França e Estados Unidos. Fatores estruturais, agravados pela queda da produção após a pandemia de Covid-19 e a volta da epidemia na China explicam a falta dos remédios.

A escassez, que já dura meses na França, levou o governo francês a organizar um acompanhamento semanal dos estoques das farmácias.

A Federação dos sindicatos farmacêuticos da França (FSFF) anunciou na quinta-feira (29) que o Ministério da Saúde tomaria medidas concretas para dividir o estoque de remédios em todo o território.

"A situação é muito tensa desde o começo do ano", diz Pierre-Olivier Variot, presidente da União dos Sindicatos dos Farmacêuticos de Farmácias (USPO). "A falta de medicamentos aumentou 15% em relação ao ano passado e 3.000 moléculas têm problemas na cadeia de fornecimento. Neste momento, falta particularmente paracetamol e amoxicilina", explica.

Os dois remédios estão ausentes das prateleiras das farmácias francesas principalmente sob sua forma pediátrica. A Agência pública do medicamento (ANSM) alertou que o problema poderia durar até março.

Problema mundial

Mas a situação não se limita à França. Segundo o Agrupamento Farmacêutico da União Europeia (PGEU), 25 dos 27 estados-membros sofrem com escassez de amoxicilina. Itália, França, Reino Unido, Espanha e Portugal são os mais atingidos.

Estados Unidos, Canadá e Austrália também encontram dificuldades para encontrar este antibiótico, inscrito, desde outubro, na lista de remédios em falta no mundo. Atualmente, 80% dos 35 países acompanhados pela OMS relatam situações de escassez.

As farmácias americanas, assim como as francesas, também relatam falta da forma infantil do paracetamol.

Dependência da China

Vários fatores podem estar na origem da escassez de medicamentos. Entre eles, o principal é a explosão da epidemia na China. Pequim chegou a requisitar a produção de suas fábricas para alimentar o mercado nacional.

De acordo com o especialista em Ásia da Science Po, em Paris, Hubert Testard, em entrevista à France24, a China é responsável pela produção da maioria das matérias-primas necessárias para a fabricação da amoxicilina e do paracetamol há 30 anos.

"Estes remédios não são muito rentáveis e sua produção exige grandes investimentos, o que levou à transferência para a China, provocando uma dependência forte desse país. Por outro lado, a China depende dos países ocidentais para os medicamentos que tratam doenças crônicas complexas", diz.

O problema é anterior à crise da Covid-19 e se agrava desde 2000. Desde o começo da década, o número de vezes que faltas de medicamentos foram sinalizadas na França se multiplicou por 20.

"A indisponibilidade de medicamentos está aumentando na Europa e as insuficiências são uma preocupação mundial", alerta Ilaria Passarani, secretária geral do PGEU, em seu relatório anual.

(Com informações da France24)