Falência do SVB deve aliviar alta de juros e colocar start ups ainda mais sob pressão
A falência repentina do Silicon Valley Bank, até então porto seguro de startups americanas e até brasileiras, causa apreensão mundial e pode ter consequências ainda difíceis de antecipar. Analistas apostam no fim do ciclo de alta das taxas de juros e impacto no acesso ao crédito para as jovens empresas de tecnologia.
O governo e autoridades bancárias dos Estados Unidos, cientes dos riscos e apressados em afastar os temores de uma nova crise como a de 2008, lançaram um pacote de medidas excepcionais para garantir que as dificuldades do SVB não se espalharão para outros bancos, principalmente os que financiam pequenas e médias empresas. O presidente Joe Biden assegurou que os depósitos na instituição, que há 40 anos se especializou no mercado de startups, estão garantidos pelo Estado.
"A particularidade do caso do SVB é que, em tese, ele tem não faz parte do tipo de banco que pode receber proteção nos Estados Unidos, via garantia de depósitos. Na maior parte dos países, existe hoje um sistema que indeniza os correntistas caso o banco venha a falir. Mas o SVB é um banco para empresas, principalmente, que depositaram valores superiores à garantia, de US$ 250 mil", explica Pierre-Charles Pradier, professor associado de Ciências Econômicas da Universidade Panthéon Sorbonne, à RFI. "Para colocar um fim às angústias, foi preciso que as agências do governo americano anunciassem que haverá uma garantia excepcional para este banco."
Na avaliação de Pradier, a rápida reação do governo bastará para dissipar, aos poucos, o risco de contágio que agita os mercados financeiros nesta semana, após o anúncio da falência na sexta-feira (10).
"Depois da crise de 2008, há muito menos atividade interbancária, ou seja, os bancos se devem muito menos dinheiro entre eles e o fato de que um esteja em falência não implica na solvência dos outros. Na prática, o banco do Banco Central agora empresta para os bancos", observa. "Entretanto, o que pode acontecer é que outros bancos estejam com o mesmo problema do SVB, de ter um modelo econômico que não se sustenta quando as taxas de juros aumentam, como agora."
Efeito cascata
A subida dos juros de 0,25%, em 2020, para os atuais 4,75%, impacta negativamente o valor dos títulos detidos pelas instituições financeiras e incita os clientes a buscar produtos mais rentáveis. No caso do SVB, mais da metade dos seus ativos correspondiam a títulos do governo, uma escolha que - associada a outros aspectos - se mostrou fatal diante do novo contexto.
Face às pressões dos mercados, a expectativa agora é que a FED (Banco Central dos Estados Unidos) paralise o ciclo de aumento da taxa, com provável repercussão internacional. No Brasil, o episódio serviu para o governo federal novamente defender a queda da Selic no país.
"Dado que, no plano interno, muito provavelmente haverá a divulgação de um novo arcabouço fiscal, o Banco Central aqui terá condições de reduzir a nossa taxa de juros por maio. Esse é o cenário que está se configurando", afirma Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, em São Paulo. "Mas não é porque lá nos Estados Unidos houve problema com bancos e aqui poderia ocorrer o mesmo, como disse o governo, até porque lá estamos falando de cerca de 6 mil bancos, e aqui no Brasil são só 140. São situações muito diferentes."
Startups sob pressão
Outra interrogação é o futuro do crédito para a inovação, que com frequência é classificado como investimento de maior risco. Empresas de tecnologia pelo mundo e também brasileiras se encontram expostas à quebra do SVB. O setor como um todo deve sofrer o impacto da falência - que, para alguns analistas, representa a confirmação de que a bolha das startups estourou.
Em 2022, o crédito acordado destinado às tech já foi amputado de 30%, em escala mundial, levando a uma onda de demissões à busca por maior "eficiência". "É claro que mudou a forma como investidores observam startups, mas isso é um processo natural de desenvolvimento do setor, que vem se consolidando", salienta Agostini. "O crédito bancário vai ser mais seletivo e eu acho que o impacto maior será nos fundos de investimentos, que vão olhar com ainda mais cautela para essas empresas. O histórico que gerou é que elas performam em um tempo maior do que o imaginado inicialmente."
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