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'Nós somos a resistência no Brasil', diz Sonia Guajajara em Cannes

A ministra dos povos indígenas, Sonia Guajajara, foi a convidada de honra de um evento de lançamento de um fundo para a Amazônia - 17.abr.2023 - Michael M. Santiago/Getty Images/AFP
A ministra dos povos indígenas, Sonia Guajajara, foi a convidada de honra de um evento de lançamento de um fundo para a Amazônia Imagem: 17.abr.2023 - Michael M. Santiago/Getty Images/AFP

21/05/2023 22h03

Um jantar de gala beneficente para a arrecadação de recursos para o programa Amazônia Fund Alliance reuniu neste domingo no Hotel Carlton de Cannes os principais líderes indígenas do Brasil. A ministra brasileira do Povos Indígenas foi uma das convidadas de honra do evento. "Nós somos a resistência no Brasil", disse Sonia Guajajara em entrevista à RFI durante o evento na Riviera Francesa.

O jantar de gala reuniu centenas de pessoas e celebridades que pagaram um pouco mais de 1.800 para participar do evento. Além da ministra dos Povos indígenas do Brasil, Sonia Guajajara, estavam presentes o secretário de Estado do Ministério do Desenvolvimento Social, Osmar Almeida Junior, e a deputada federal indígena, Célia Xakriabá (PSOL).

Os líderes indígenas Raoni, Bemoro, Tapi, Watatakalu e Yabuti, que estão em Cannes para o lançamento do filme "Raoni: uma amizade improvável", do cineasta belga Jean-Pierre Dutilleux, e para mais uma campanha internacional pela preservação da Amazônia, também foram convidados. Leonardo DiCaprio, anunciado pelos organizadores, apareceu rápida e discretamente no início, cumprimentou a ministra brasileira dos Povos Indígenas e foi embora.

Renda mínima para famílias indígenas

O evento em Cannes foi organizado pelo Better World Fund (BWF), uma entidade sem fins lucrativos sediada em Paris que apoia projetos humanitários. Este ano, entre os programas contemplados está o "Amazônia Fund Alliance" da Federação Brasileira de Clubes e Associações de UNESCO (BFUCA, na sigla em inglês), que atua na preservação dos ecossistemas amazônicos.

O projeto vai investir diretamente para garantir renda mínima para 300 comunidades indígenas e povos da Amazônia Legal. Projetos de pesquisa, de reflorestamento, preservação de rios e nascentes, e um campanha para reduzir o lixo e a emissão de CO2 também estão entre os objetivos do fundo independente.

O projeto espera levantar US$ 5 milhões (cerca de R$ 25 milhões) no primeiro ano de atuação. A campanha de arrecadação começa durante o Festival de Cannes, com o jantar de gala, mas também com a realização de leilões para a arrecadação de fundos.

Prêmio

A ministra brasileira dos Povos Indígenas recebeu durante o evento um prêmio de reconhecimento por sua atuação na proteção das florestas e no combate à crise climática. Em seu discurso, ela disse que "pela primeira vez os indígenas brasileiros ocupam um lugar estratégico", e que "para reflorestar territórios, é urgente reflorestar as mentes das pessoas". Juntas, Sonia Guajajara e Célia Xakriabá entoaram para os doadores presentes cantos indígenas.

Em entrevista à RFI, a ministra brasileira dos Povos Indígenas esclareceu que esse programa não tem nada a ver com o Fundo Amazônia, mas afirmou que essas iniciativas internacionais são muito importantes.

"Essas iniciativas são importantes para dar visibilidade a essa destruição do meio ambiente, para mobilizar pessoas. Para nós é muito importante essa articulação internacional para que de fato esse apoio chegue e que a gente possa de fato implementar políticas de proteção, de fiscalização e, também, para essa gestão sustentável do meio ambiente no Brasil."

Sobre prêmio, ela considera que esse reconhecimento "é sempre muito importante porque ajuda a consolidar e a valorizar a causa e a cultura indígenas". Em um balanço dos primeiros quatro meses de governo, Sonia Guajajara avalia que "estamos em um momento de articular e, inclusive, de buscar garantir esse orçamento para a implementação (das políticas). Claro que resistência sempre vai ter, inclusive nós somos a resistência nesse país e vamos seguir lutando para que a gente consiga essa igualdade de direitos".