Sem Pimenta, grupo de Janja e base governista disputam comunicação de Lula

Integrantes da base de apoio do governo Lula (PT) no Congresso e aliados da primeira-dama Janja da Silva entraram em uma espécie de disputa para influenciar na Secom (Secretaria de Comunicação Social) após a saída de Paulo Pimenta, nomeado ministro da Secretaria Extraordinária da Presidência para Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul.

O que aconteceu

Com a saída de Pimenta, briga por influência na nova Secom se acirrou. De um lado, pessoas ligadas à primeira-dama, que já controlam as redes do governo, têm ganhado mais influência, enquanto parlamentares e membros da base do governo tentam sugerir nomes com melhor interlocução no Congresso.

Pimenta deixou o cargo no meio de maio e foi substituído por Laércio Portela. Integrante de antigas gestões petistas, a escolha do ministro interino já mostra parte da força do grupo da primeira-dama, que endossou seu nome junto a Pimenta. Segundo membros do Planalto, a primeira-dama já estaria participando ativamente do debate junto ao marido.

Aliados reclamaram de ações da primeira-dama durante o combate à tragédia no Rio Grande do Sul, como o UOL mostrou. Publicações nas redes sociais causaram mal estar na base.

Janja nega. A assessoria da primeira-dama disse ao UOL que ela "não participa de debates nem de decisões" sobre ministros. A Secom não comentou.

Janja quer foco na estratégia digital

Laércio é, por ora, interino, mas a disputa está grande. Interlocutores do Planalto dizem que Pimenta deverá ficar pelo Sul, onde é cotado como candidato ao governo estadual, e que os debates sobre a sucessão correm nos bastidores.

O grupo de Janja pede foco nas redes sociais. A primeira-dama já tem grande influência na Secretaria de Estratégia e Redes, comandada por Brunna Rosa — indicação sua — e busca expandir essa estratégia.

Janja trata da estratégia digital abertamente com seus aliados, dizem pessoas ligadas ao PT e ao governo. Ela recomenda que o presidente Lula, que não tem celular nem usa as redes sociais, aumente o investimento em engajamento e em estratégia digital.

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A primeira-dama também tem sugerido que Lula escolha uma mulher para o cargo, segundo membros do Planalto. Janja reclama sobre o número diminuto de representantes femininas na política e no governo. Ela teria, ainda, vetado indiretamente sugestões de indicações que circularam. Janja nega e o UOL não conseguiu confirmar os nomes supostamente vetados.

Parlamentares querem melhorar proximidade

Do outro lado, a bancada pede um nome para a Secretaria de Comunicação Social que melhore a interlocução no Congresso. Deputado federal desde o primeiro governo Lula, em 2003, Pimenta tinha livre circulação na Câmara, recebia ex-colegas e conseguia, às vezes, conversar com a oposição — lideranças petistas e da base querem alguém que siga esse estilo.

Reclamação já começa pela escolha do interino. Parlamentares afirmam que o "substituto lógico" de Pimenta seria Ricardo Zamora. Atual secretário-executivo, ele já conhece como a máquina funciona e também tem boa relação com parlamentares. Laércio, por sua vez, que participou da comunicação do governo Dilma Rousseff (PT), não teria esta entrada, mas teve o apoio de Janja.

Aliados dizem que a influência da primeira-dama já aumentou. No Congresso e no Planalto, brincam que o CTG (Centro de Tradições Gaúchas, como era chamado o grupo de Pimenta nos corredores) era "a última barreira" para segurar a primeira-dama. Pimenta e Janja se dão bem, mas ministro conseguia passar parte das reclamações a Lula.

Base aliada tenta mostrar ao PT que relação pode melhorar. Parlamentares que integram a base aliada têm tentado argumentar com colegas petistas que a escolha de um ministro de algum outro partido poderia ajudar na articulação no Congresso. Para este grupo, um novo ministro deveria ter um bom relacionamento com deputados e senadores e ser alguém que 'saiba jogar o jogo'.

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Pimenta também gerava insatisfações. Embora a influência de Janja tenha pesado na escolha de Laércio, auxiliares diretos de Lula afirmam que, embora ele goste de Pimenta, o presidente estava insatisfeito há tempos com a comunicação. A decisão de não manter o número 2 seria uma indicação de que pode usar o cargo para negociações e até para movimentar outras cadeiras da Esplanada.

Janja nega e Secom não se manifesta

O assunto é tratado como tabu. Lula não tem falado sobre a sucessão na Secom em reuniões maiores —o que ainda deixa no ar uma possível volta de Pimenta. E qualquer possível influência de Janja, reconhecida no governo como alguém interessada em comunicação, também não é um tema público.

Em entrevista recente, Janja admitiu que se vê como "articuladora do governo", mas negou influência. "A primeira-dama, Janja Lula da Silva, não participa de debates nem de decisões com relação a escolha de ministros, seja para indicar ou vetar", disse a assessoria.

Secom não se manifesta. Procurada, a secretaria não respondeu aos questionamentos da reportagem. O espaço fica aberto para atualização.

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