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Política de "zero plástico" da prefeitura de Paris será aplicada nos Jogos Olímpicos de 2024

26/05/2023 15h38

A partir de segunda-feira (29) e até 2 de junho, Paris vai sediar a segunda rodada de negociações da ONU para a conclusão de um Tratado internacional contra a poluição gerada pelo plástico. A prefeita socialista de Paris, Anne Hidalgo, aproveitou a presença dessas autoridades na cidade e as negociações na ONU para divulgar medidas contra o uso de plástico nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2024.

Anne Hidalgo reuniu-se nesta sexta-feira (26) com prefeitos de várias cidades do mundo no Fórum Internacional de Paris dedicado a acabar com a poluição gerada pelo plástico descartável. O exemplo típico desse resíduo são as garrafas de água e outras bebidas, que as pessoas consomem uma vez e depois jogam no lixo ou abandonam nas ruas e praias, causando danos ambientais hoje comprovados às espécies marinhas e até para nossa cadeia alimentar

No evento, a prefeita anunciou que todos os locais de competição esportiva da capital (Concorde, Grand Palais, Invalides, Ponte Alexandre IIl, Champ-de-Mars/Torre Eiffel) e a Arena La Chapelle receberão os visitantes sem garrafas descartáveis. A Coca Cola, patrocinadora oficial dos Jogos, venderá água, refrigerantes e bebidas quentes principalmente a granel, em cerca de 200 fontes de distribuição, em dois tipos de recipiente: garrafas de plástico reciclável, as chamadas rPET, e de vidro reutilizáveis. A empresa tem o histórico de ser um dos grupos industriais que mais geram lixo plástico no mundo.

Paris quer reduzir a pegada ambiental dos Jogos de 2024 à metade, em comparação às edições anteriores, ocorridas no Rio de Janeiro e Londres.

Nas maratonas, garrafas e copos descartáveis também serão banidos. Para ter uma ideia do volume de resíduo poluente gerado nesse tipo de evento, a Maratona de Paris, realizada em abril, consome em média 400 mil garrafas de água descartáveis para 50 mil participantes. Isso vai acabar no ano que vem. O objetivo é evitar o acúmulo de 12 toneladas de lixo plástico por ano, um veneno para o meio ambiente.

A equipe de Hidalgo quer usar o evento para conscientizar as pessoas sobre a viabilidade da mudança de comportamento de consumo e acelerar, em seguida, a implantação de outras propostas de urgência ambiental. A partir de setembro de 2024, a prefeitura de Paris só dará autorização de pontos de venda na capital aos organizadores que cumprirem essa regra do rPET reutilizável ou da garrafa de vidro. 

Em abril, a prefeitura criou um selo de certificação para empresas comprometidas com a política de "zero plástico". Vários nomes dos setores cultural, esportivo, turístico, de hotelaria e casas noturnas aderiram ao projeto. Na Torre Eiffel, em 14 museus da cidade e 300 hotéis parisienses do grupo Accor, entre outros interessados, o plástico de utilização única vai desaparecer. 

Diminuir a pegada ambiental nos prédios residenciais 

Atualmente, os franceses estão se mobilizando para cumprir o programa de obras destinado a economizar energia nos prédios residenciais, outra medida indispensável para lutar contra o aquecimento global. As 20 subprefeituras de Paris têm feito reuniões noturnas para dar uma arrancada nas reformas que devem tornar os apartamentos mais econômicos no consumo de energia. 

Os belos prédios de arquitetura antiga, construídos no século passado, dão aquela atmosfera romântica e única a Paris, mas são um desastre do ponto de vista ambiental. Tudo precisa ser trocado: o revestimento das paredes, as janelas térmicas de vidro duplo ou triplo, os aquecedores, o encanamento e as instalações elétricas, para diminuir as emissões de CO2. Em média, esse tipo de obra demora seis anos para se concretizar e exige a realização de uma auditoria do que precisa ser feito, um orçamento bem planejado para se obter as subvenções que o Estado e a prefeitura dão para esse tipo de reforma, até a conclusão das obras.

Para cumprir os objetivos do plano climático de Paris até 2030, a prefeitura reservou € 250 milhões por ano em subvenções aos condomínios, sem contar o auxílio financeiro do Estado, que dedica € 4 bilhões para esse fim em 2023, no plano nacional. 

Pelos cálculos da prefeitura de Paris, será preciso reformar 40 mil apartamentos por ano na cidade, sendo que no ano passado apenas 2.000 foram modernizados. O aspecto positivo é que tem financiamento para quase tudo e, no final do processo, o custo para o morador pode ser pequeno. Mas como o acesso a esses programas públicos de transição energética exige a apresentação de documentos técnicos, e os condomínios precisam contratar profissionais especializados para correr atrás da papelada, as pessoas resistem. Os moradores têm receio de ser enganados por empreiteiros mal intencionados, medo de perder dinheiro, enfrentar o desconforto das obras e a burocracia.

Arquitetos e engenheiros dizem que não é fácil fazer esse planejamento. É toda uma cidade que se renova. Mas a consciência da urgência climática está mudando essa percepção, e os parisienses têm lotado as reuniões públicas de bairro para colocar a mão na massa.