Realização da COP28 em Dubai é "contradição assumida" diante da urgência climática, diz imprensa francesa

A imprensa francesa desta quinta-feira (30) aborda em peso o início da 28ª Conferência da ONU sobre Mudanças do Clima (COP 28), em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. Os editoriais adotam um tom pessimista sobre possíveis avanços sobre a urgência climática com o evento.

"Uma COP em Dubai, é sério?", questiona o jornal Le Parisien, classificando a sede da conferência como a megalópole do luxo desenfreado, onde o consumo de energia é "extravagante", diz. A enviada especial do diário a Dubai descreve a capital como "um local de contradição assumida" do "desdém descomplexado" diante das questões climáticas. 

"É difícil dar crédito a uma cidade onde a loucura imobiliária transforma há trinta anos o litoral desértico em uma megalópole de construções espetaculares", diz a matéria. A repórter cita como exemplo a torre Burj Khalifa, a mais alta do mundo com 828 metros, o hotel Burj-al-Arab, o mais luxuoso do planeta com 7 estrelas, e as ilhas artificiais construídas no mar em formato de palmeiras ou de mapa mundi. 

Cereja do bolo

A "cereja do bolo", segundo Le Parisien, é a presidência da COP estar a cargo de Sultan Ahmed al-Jaber, ministro da Indústria dos Emirados Árabes Unidos, acusado de greenwashing e de ter se beneficiado de seu status para impulsionar as relações comerciais entre a companhia petroleira que dirige e os países participantes do evento. 

Al-Jaber estampa a capa do jornal Libération que traz como manchete: "Alma de Petróleo". O diário traz uma reportagem especial de quatro páginas sobre a presidência desta 28ª COP, "estranha por essência", diz. Em editorial, o jornal questiona: "é necessário negociar com inimigos, até com aqueles que temos desacordos profundos?". 

Para o diário, a escolha do ministro emiradense para presidir o evento é "lunática", em um momento particularmente grave do estado do planeta, com derretimento de geleiras, aumento do nível do mar e fenômenos extremos cada vez mais frequentes. "Procure o erro", diz o editorial que destaca que o que mais contribui para o aquecimento global são as energias fósseis. "Al-Jaber, sua companhia e os Emirados Árabes Unidos, com seus campos de gás e petróleo, fazem parte dos principais produtores", reitera. 

O que esperar da COP28?

O jornal La Croix, que pergunta no título de sua reportagem especial: "O que esperar da COP28?". Embora o evento tenha início com um clima de pessimismo, vários especialistas acreditam que essa também é uma oportunidade de tratar de assuntos que as edições anteriores da conferência ignoraram. "A questão das energias fósseis estará finalmente no centro de uma COP", afirma.

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A matéria lembra que em 28 anos de evento, os países mais exigentes jamais conseguiram que a questão da energia fóssil figurasse em um acordo final. Em Glasgow, na Escócia, em 2021, uma tímida referência à necessidade da diminuição do uso do carvão entrou no texto. "Muitos esperam que dessa vez dê certo", publica o jornal La Croix

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