Revolta de agricultores chega à Espanha; na França, sindicato pede bloqueio de centros de distribuição
A revolta dos agricultores está se espalhando por toda a Europa. Depois da França, nesta terça-feira (30) foi a vez da Espanha anunciar que se une às mobilizações. Paris tenta conter a crise anunciando novas medidas, mas os produtores rurais estão decididos a fazer um "bloqueio simbólico" da capital.
Depois das manifestações na Alemanha, Polônia, Romênia, Bélgica e Itália nas últimas semanas, os três principais sindicatos agrícolas espanhóis anunciaram "mobilizações" em todo o país durante as "próximas semanas".
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"O setor agrícola na Europa e na Espanha enfrenta uma crescente frustração e desconforto", devido em particular à "burocracia sufocante gerada pelas regulamentações europeias", explicou num comunicado de imprensa conjunto a Asaja, a UPA e a Coag.
As três organizações, que não especificam nesta fase as datas exatas das manifestações, dizem querer um "relaxamento" e uma "simplificação" da política agrícola do bloco, bem como um "plano de ação ambicioso" no âmbito europeu e das regiões espanholas.
Na França, os agricultores continuam a perturbar o trânsito em quase todo o país. Mais de um quarto dos departamentos franceses (30) são afetados.
Vários bloqueios estratégicos foram organizados em torno de Paris, mas também em várias estradas. No entanto, apesar das ameaças sindicais, o anunciado "cerco" à capital francesa não se concretizou até agora.
Na Itália, dezenas de agricultores que dizem que foram "traídos pela Europa" protestaram na terça-feira com seus tratores perto de Milão (norte).
O governo grego, também confrontado com protestos crescentes do mundo agrícola, prometeu acelerar o pagamento de ajuda financeira aos agricultores afetados pelas graves inundações do ano passado.
Promessas de ajudas na França não funcionam
O primeiro-ministro francês, Gabriel Attal, que fez a sua declaração de política geral na terça-feira, prometeu "estar presente" e dar resposta à crise. Ele também garantiu que as ajudas europeias da Política Agrícola Comum (PAC) para 2023, que tinha prometido acelerar, serão pagas "até 15 de março". Attal enumerou as medidas já tomadas, como o abandono do imposto sobre o diesel para veículos não rodoviários e prometeu que o governo iria "ainda mais longe".
Sem dar detalhes, Attal se referiu também a um reforço da ajuda fiscal aos criadores e "um grande plano de controle da rastreabilidade dos produtos".
O presidente francês Emmanuel Macron, durante uma visita de Estado à Suécia, por sua vez comprometeu-se a defender várias reivindicações dos agricultores franceses em Bruxelas, sobre as importações de aves da Ucrânia, o projeto de acordo comercial entre a UE e o Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai).
Mas as promessas não surtiram efeito. A Confederação Agrícola da França pediu na noite de terça-feira aos agricultores para "bloquear os centros de compra" dos supermercados e "atacar os predadores da renda rural", após o discurso de política geral de Gabriel Attal, que, segundo ela, não ofereceu "nenhuma perspectiva de longo prazo" para o setor.
"Ainda não há compromisso do governo para abrir trabalhos sobre a proibição de compras abaixo do preço de custo dos nossos produtos agrícolas", lamentou o sindicato. Por isso, "pede que as mobilizações sejam direcionadas, bloqueando os locais onde se exerce esta pressão sobre os nossos preços: centros de compras (plataformas logísticas da grande distribuição), mercados atacadistas, indústrias agroalimentares".
Proibir "a compra dos nossos produtos agrícolas abaixo do preço de custo", "esta é a primeira resposta que se espera para responder à indignação rural", indicou a Confederação Agrícola, que pretende apresentar esta denúncia na quarta-feira (31), às 10h, durante uma reunião com o primeiro-ministro.
Os agricultores planejam prolongar a mobilização e os bloqueios de estradas por vários dias. "Não vamos nos mexer (...) até que sejam tomadas medidas de emergência concretas", disse Alice Avisse, secretária-geral adjunta da seção Oise (norte de Paris) da FNSEA, o sindicato agrícola maioritário.
(Com AFP)