Países-membros da OMS não chegam a acordo para prevenir novas pandemias

Após dois anos de negociações, os países-membros da Organização Mundial da Saúde (OMS) não conseguiram chegar a um acordo nesta quinta-feira (28) para preparar melhor o mundo para uma futura pandemia como a da Covid-19. As negociações serão retomadas em maio.  

Os 194 países reunidos na OMS esperam elaborar um texto para evitar os mesmos erros cometidos durante a gestão da epidemia de Covid-19, que revelou a falta de preparo dos Estados para enfrentar uma crise sanitária desse porte.

A nona e última rodada de negociações começou em 18 de março e terminou nesta quinta-feira, sem um documento final. "Vocês não estão longe de chegar a um acordo", incentivou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, no fim das negociações na sede da organização, em Genebra.  

"Ainda tenho esperança e espero que cheguem lá", disse, lembrando que "um acordo é um instrumento que salva vidas, não apenas um pedaço de papel". Ele pediu que as nações "voltem ao trabalho" para chegar a uma resolução até o final de maio.

Um novo texto deve ser entregue até 18 de abril e o objetivo é que as negociações terminem até 5 de maio. As discussões começaram em fevereiro de 2022. A meta dos países é adotar formalmente o texto na próxima Assembleia Mundial da Saúde, que começa em 27 de maio, em Genebra. 

Mas, com o trauma da pandemia ficando para trás, aumentam as divergências. As principais questões envolvem o acesso a patógenos emergentes, uma melhor prevenção e vigilância e o financiamento e a transferência de tecnologia para países mais pobres.  

Os países europeus esperam que mais dinheiro seja investido na prevenção, enquanto os países africanos - deixados de lado durante a Covid - querem o know-how e o financiamento, mas também o acesso adequado a testes, vacinas e outros tratamentos.  

Já os Estados Unidos buscam uma garantia de transparência e compartilhamento rápido de dados sobre qualquer surto de doenças desconhecidas.

Consenso difícil

Os membros da OMS chegam a acordos por consenso, um processo que geralmente leva anos e dificulta as negociações.

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O projeto atual foi reduzido de 30 para quase 100 páginas, com propostas de emendas. Alguns participantes queriam uma redução de 20 páginas. "É muito detalhado e muito amplo. É impossível chegar em um acordo de 30 páginas com tantas incertezas e em tão pouco tempo", comentou um diplomata que participa das discussões.

Grupos que trabalham no rascunho alertaram que a pressão para chegar a um acordo pode resultar em um texto "diluído", que não tornaria o mundo mais seguro do que era antes da pandemia de Covid-19.  

K.M. Gopakumar, membro da Rede do Terceiro Mundo, que participa das discussões, disse à AFP que o novo texto provavelmente será um documento mais curto, que poderá ser concluído posteriormente. "Eles passaram de um tratado completo para um documento muito mais conciso", disse na sede da OMS.

Epidemia do "cada um por si"

A falta de distribuição equilibrada das vacinas e dos equipamentos de proteção, a exposição e exaustão dos profissionais de saúde e as doações de estoques quase vencidos de vacinas de países ricos para países pobres são apenas algumas das muitas disfunções reveladas pela última pandemia.  

Na opinião de especialistas, a China também demorou demais em dezembro de 2019 para compartilhar informações sobre a Covid-19, o que tornou impossível evitar a propagação do vírus.

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Sem um acordo, "veremos as mesmas desigualdades, a mesma falta de coordenação, a mesma perda evitável de vidas e meios de subsistência e as mesmas consequências sociais, econômicas e políticas que vimos com a Covid-19", alertou nesta semana o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.

Com informações da AFP

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