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Na Turquia, oposição obtém vitória histórica em eleições municipais; Erdogan admite 'virada'

Recep Tayyip Erdogan, presidente da Turquia Imagem: Murat Cetinmuhurdar - 25.out.2023/via Reuters

01/04/2024 11h15Atualizada em 01/04/2024 15h25

O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, esperava que seu partido ganhasse as eleições de domingo (31) em Istambul e Ancara, as duas maiores cidades do país. Mas os primeiro resultados logo mostraram que a oposição conquistaria a maioria dos votos, inclusive nos principais zonas eleitorais. 

O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, esperava que seu partido ganhasse as eleições de domingo (31) em Istambul e Ancara, as duas maiores cidades do país. Mas os primeiro resultados logo mostraram que a oposição conquistaria a maioria dos votos, inclusive nas principais zonas eleitorais.

Anne Andlauer, correspondente da RFI em Istambul

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Este é exatamente o cenário que Recep Tayyip Erdogan temia: os prefeitos da oposição de Istambul e Ancara não apenas venceram pela segunda vez contra um candidato do governo - além disso, conquistando a maioria no Conselho Municipal - como também aumentaram sua pontuação em relação a 2019. E isso apesar do fato de que esses prefeitos foram apoiados apenas por seu partido, o Partido Popular Republicano, chamado pela sigla CHP. Cinco anos atrás, eles foram eleitos graças a uma aliança de partidos de oposição.

Em outras palavras, Erdogan está enfrentando dois rivais que são capazes de reunir os votos da oposição no sentido mais amplo e cuja popularidade rivaliza com a sua, principalmente no caso do prefeito de Istambul, Ekrem Imamoglu. Quatro anos antes da próxima eleição presidencial, ele aparece como um provável candidato.

"Um ponto de virada", admite Erdogan

O anúncio dos resultados definitivos pela Comissão Eleitoral Superior (YSK), esperado para o final da segunda-feira (1°), confirmará esses resultados, que já foram incorporados pelos principais partidos envolvidos, incluindo o chefe de Estado.

No final da noite, por volta da 1h, horário local, o presidente Erdogan admitiu um "ponto de virada" para seu campo. "Infelizmente, não obtivemos os resultados que queríamos", declarou o chefe de Estado, falando na sede de seu partido AKP em Ancara para uma multidão excepcionalmente silenciosa. "Não desrespeitaremos a decisão de nossa nação, evitaremos ser teimosos, agir contra a vontade nacional e questionar o poder da nação", acrescentou.

O clima na sede do CHP na noite de domingo era de otimismo e confiança. Sorrisos largos eram visíveis nos rostos dos líderes do partido. O prefeito oposicionista de Istambul, Ekrem Imamoglu, anunciou sua reeleição. "Estamos em primeiro lugar, com uma vantagem de mais de um milhão de votos (...) Ganhamos a eleição", disse ele à imprensa, acrescentando que os resultados se referiam a 96% das urnas.

O CHP está ainda mais satisfeito com o fato de que a vitória também está garantida na capital, Ancara. O prefeito da oposição, Mansur Yavas, deve conquista um segundo mandato e já reivindicou a vitória. "As eleições acabaram, continuaremos a servir Ancara e [seus] seis milhões de habitantes sem discriminação", prometeu o social-democrata.

"Os eleitores decidiram mudar a cara da Turquia" após 22 anos de domínio do partido muçulmano conservador AKP, disse Ozgur Ozel, líder do CHP, na noite das eleições municipais. "Eles queriam abrir a porta para um novo clima político em nosso país", disse ele.

No momento, entretanto, tem havido um grande silêncio por parte do AKP, o partido no poder. No domingo, alguns de seus redutos, como Bursa, a quarta maior cidade da Turquia, juntaram-se a Istambul, Ancara e Izmir no campo da oposição. As cidades de Balequessir, Denizli e Afioncaraquissar também podem passar para a oposição. Na totalidade, toda a região do Egeu, as províncias do interior e não apenas os litorais, devem passar para a oposição.

Do ponto de vista de Recep Tayyip Erdogan, os resultados são uma amarga decepção, mas também uma fonte de preocupação para o futuro de seu partido, o AKP, cujas pontuações se deterioram de uma eleição para outra. De fato, o partido presidencial não é mais o maior partido da Turquia: ele obteve 35,2% dos votos nacionais, em comparação com 37,7% do principal partido de oposição, o CHP, um resultado sem precedentes para Tayyip Erdogan. Foi, portanto, um duplo revés, que muitos atribuem ao estado da economia e aos erros na escolha dos candidatos.

Violência

As eleições foram marcadas pela violência em todo o país, deixando pelo menos três pessoas mortas. No sudeste do país, confrontos entre pessoas armadas com fuzis, paus e pedras deixaram uma pessoa morta e 11 feridas. Em outro incidente, um candidato foi morto e quatro outras pessoas ficaram feridas em confrontos, de acordo com a agência de notícias estatal Anadolu.

Em Sanliurfa (sudeste), 16 pessoas ficaram feridas, novamente segundo a agência, outro candidato foi morto a facadas no oeste do país e uma pessoa foi morta a tiros e outras duas ficaram feridas durante a noite em Bursa (noroeste).

O partido pró-curdo DEM, o grande favorito em muitas localidades da região, disse ter identificado irregularidades "em quase todas as províncias curdas". Em particular, ele denunciou o registro suspeito, em sua opinião, de várias dezenas de milhares de membros das forças de segurança nas listas eleitorais das regiões curdas. Uma delegação de observadores da França chegou a ter acesso negado a uma seção eleitoral na região, de acordo com a associação de advogados MLSA.

Que desafios aguardam a oposição turca?

Esta vitória do CHP é um resultado promissor para a oposição face às eleições presidenciais marcadas para 2028. Especialmente porque desta vez o CHP avançou sozinho, ao contrário das eleições presidenciais, aonde os partidos da oposição se uniram.

O carismático prefeito de Istambul, Ekrem Imamoglu, estaria em uma boa posição se decidisse entrar na corrida presidencial. Mas 2028 ainda é uma perspectiva distante, especialmente porque o AKP, com mais de duas décadas no poder, mantém o controle sobre todas as engrenagens da administração e do Estado.

A oposição também está sob grande pressão para não decepcionar seus eleitores. Mas o CHP também está muito fraturado, especialmente desde a sua derrota nas eleições presidenciais e legislativas do ano passado. A formação social-democrata continua desunida, atravessada por diversas correntes e disputas durante a nomeação de alguns candidatos, como em Izmir.

Finalmente, o presidente da Câmara de Istambul enfrenta problemas jurídicos. Processado por insultar o Conselho Superior Eleitoral turco, foi condenado a mais de dois anos e meio de prisão, mas recorreu. Entretanto, continua a exercer suas funções, mas com esta ameaça que poderá travar as suas ambições políticas.

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