Após coletiva de imprensa de Macron, jornais insistem: por que dissolver a Assembleia de Deputados?

Os jornais franceses desta quinta-feira (13) analisam o discurso do presidente Emmanuel Macron, durante coletiva de imprensa, na véspera, após a dissolução da Assembleia de Deputados no domingo (9) e a convocação de eleições legislativas antecipadas. Os diários são unânimes em expressar sua incompreensão com a decisão do chefe de Estado, que pode abrir o caminho para uma nova vitória da extrema direita no país, após o sucesso do partido Reunião Nacional nas eleições europeias.

 

"Macron brinca de assustar" é o título de uma matéria do jornal Libération, que não poupa críticas à atitude do presidente durante sua fala na quarta-feira (12). Para o diário, o chefe de Estado apresentou um "quadro binário" das forças políticas da França, dividindo-as de forma simplória em extrema direita e extrema esquerda. Segundo Macron, "ou os eleitores se posicionam atrás dele ou eles estarão comprometidos com radicais", diz a matéria.

Libé disseca o discurso do presidente e afirma que "em seu universo paralelo, a dissolução da Assembleia de Deputados não é uma aposta sem sentido", como se a onda que colocou Jordan Bardella, candidato do Reunião Nacional, na liderança de 93% das cidades francesas no último domingo, "fosse milagrosamente desaparecer antes das eleições legislativas, em pouco menos de três semanas". O diário também critica o fato de o presidente atribuir 50% dos votos das eleições europeias aos extremos, "colocando no mesmo saco" dois partidos ultranacionalistas, pequenas legendas soberanistas e o partido França Insubmissa, da esquerda radical.  

"Pacto com o diabo"

O jornal Le Figaro também reproduz em sua manchete a expressão utilizada na véspera por Macron - "extremos" - para designar todas as forças políticas que não aceitarem se unir à maioria presidencial. O chefe de Estado "quer impor o seu campo como a única opção possível", diz o diário, lembrando que, durante sua fala, o presidente classificou de "pacto com o diabo" a aliança do chefe do partido de direita Os Republicanos com a extrema direita, e de "indecente" a aliança da esquerda com o partido França Insubmissa.

"Pulo no vazio"

"Um pulo no vazio" é o título do editorial do Le Figaro, que afirma que o presidente falou durante quase duas horas e não respondeu à pergunta que todos se fazem desde a noite de domingo: por que dissolver a Assembleia de Deputados? Sem essa decisão, a questão da chegada à cúpula do poder do partido Reunião Nacional não seria evocada nos três próximos anos, antes das eleições presidenciais de 2027, avalia o editorialista. Para piorar, reitera Le Figaro, as propostas de Macron não passaram de uma repetição de seu rascunho de campanha de 2022, com o reforço da autoridade, endurecimento da justiça, mais segurança, maior controle da imigração.

Mesmo tom do jornal econômico Les Echos, que salienta a promessa de Macron de "governar de forma diferente", lembrando que o mesmo discurso já foi adotado diversas vezes pelo chefe de Estado, como durante a crise dos coletes amarelos e a pandemia de Covid-19. "O presidente se apresentou, novamente, como o campo da razão", mas "recusando-se a aprofundar suas propostas, o que deixou uma impressão de incerteza", diz o diário. Além disso, sete anos após o início de seu primeiro mandato e três dias após a derrota de seu partido nas eleições europeias, seu poder de convencimento é mínimo, conclui o jornal Les Echos

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