Partido de Mandela sela acordo histórico com sigla de centro-direita na África do Sul

O Congresso Nacional Africano (ANC, na sigla em inglês), partido histórico de Nelson Mandela, concluiu nesta sexta-feira (14) um acordo histórico com a Aliança Democrática (AD), de centro-direita e proveniente principalmente da comunidade branca sul-africana. Um governo de união nacional foi a única forma do ANC permanecer no poder, depois de perder a maioria no Parlamento nas eleições legislativas de maio.

A aliança de opositores, considerada impossível após 30 anos de domínio absoluto do ANC, marca uma virada na história política sul-africana desde o fim do apartheid, a ascensão do partido de Nelson Mandela e a sua eleição como presidente da República, em 1994.

"Hoje, a África do Sul é um país melhor do que era ontem. Pela primeira vez desde 1994, nos comprometemos com uma transferência pacífica e democrática do poder a um novo governo, que será diferente do anterior", disse o líder da Aliança Democrática, John Steenhuisen, em um discurso.

"Deste dia em diante, a Aliança Democrática co-governará a República da África do Sul num espírito de união e cooperação", acrescentou, descrevendo o governo como o "novo normal".

Esta é uma revolução também para a Aliança Democrática, que tem trabalhado para apagar a sua imagem de grande partido "branco" e liberal, que defende os interesses das classes ricas, e visto com suspeita pelos eleitores do ANC.

A coligação incluirá ainda o Partido da Liberdade Nacionalista Zulu Inkatha (IFP) e a Aliança Patriótica (PA).

Derrota inédita

Esta recomposição política ocorre na sequência do revés sofrido pelo ANC nas eleições de 29 de maio, quando o partido obteve apenas 159 dos 400 assentos na Assembleia Nacional. A Aliança Democrática ficou em segundo lugar, com 87.

Privado da maioria absoluta pela primeira vez desde o fim do apartheid, o partido de Mandela passou duas semanas em negociações para dar origem a este acordo de governo. A aliança permitiu que o presidente Cyril Ramaphosa, 71 anos, permaneça no poder para um segundo mandato presidencial, como confirmado em uma sessão da nova Assembleia Nacional nesta sexta-feira. Na África do Sul, o presidente é eleito pelos parlamentares por voto secreto na assembleia.

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"Este dia marca o início de uma nova era, na qual deixamos de lado as nossas diferenças e nos unimos para o bem de todos os sul-africanos", escreveu Sihle Zikalala, membro do comitê executivo nacional do ANC, na rede X.

Nos termos do acordo, o cargo de vice-presidente da Assembleia Nacional será atribuído a um membro da Aliança Democrática.

Na quinta, o secretário-geral do ANC, Fikile Mbalula, afirmou que o governo "gravitará para o centro", depois que os partidos de esquerda rejeitaram um pacto. "Conseguimos um grande avanço no acordo comum sobre a necessidade de trabalharmos juntos", declarou Mbalula.

O partido de esquerda Economic Freedom Fighters (EFF), liderado pelo ex-militante do ANC Julius Malema e que ficou em quarto, não foi incluído na coalizão. As negociações não prosperaram, indicou Mbalula.

Já o partido uMkhonto weSizwe (MK), criado há apenas seis meses pelo ex-chefe do ANC e ex-presidente Jacob Zuma, terceiro lugar nas eleições, não foi mencionado, mas Mbalula indicou que as conversas com a legenda vão continuar.

Decepção com Ramaphosa

A mudança rumo ao centro negociada no acordo de coalizão poderia prejudicar a já desgastada popularidade do presidente Ramaphosa. O ex-sindicalista, que se tornou um rico empresário, chegou ao poder em 2018 após a queda de Zuma por acusações de corrupção. Ele chegou a ser descrito por Mandela como um dos dirigentes mais talentosos de sua geração.

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Ramaphosa prometeu uma nova era para a África do Sul, mas, segundo seus críticos, decepcionou na sua gestão da economia, com o desemprego atingindo recordes históricos. A perspectiva de uma aliança com a AD também gerou descontentamento no seu partido.

Com Reuters e AFP

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