Reino Unido: Trabalhistas devem desbancar 14 anos de governo conservador, com avanço da extrema-direita

A extrema-direita também avança no Reino Unido, seguindo tendencia da Europa, apesar das pesquisas de opinião indicarem vitória folgada para os trabalhistas. Os britânicos vão às urnas no próximo dia 4 de julho, para eleições gerais antecipadas. 

Yula Rocha, correspondente da RFI em Londres

O Reform UK, partido de extrema direita, lançou seu plano de governo com foco na política anti-imigratória, o qual é a base da sua agenda. Em conversa com a imprensa no País de Gales, o líder do Reform, Nigel Farage, discutiu os cinco principais pontos de seu manifesto, chamado por ele de "contrato" com os eleitores.

Farage reforçou seu compromisso em deportar imigrantes sem documentação e está disposto a tirar o Reino Unido da Convenção Europeia de Direitos Humanos. O Reform também vem como uma agenda anti-ambiental propondo o avanço da exploração de óleo e gás e abandono total de corte das metas de emissão de carbono. A segurança também tem destaque prometendo prisão perpétua para traficantes de drogas. Do ponto de vista econômico, o Reform promete redução de impostos e injeção bilionária na economia e investimento no sistema de saúde pública daqui para cortar pela metade da fila de mais de 7 milhões de pessoas a espera de tratamento. Além da agenda ideológica forte contra, por exemplo, diversidade de gênero.

Quem é Nigel Farage, líder do partido Reform UK

O partido Reform UK, ou Reforma em tradução livre, é formado por dissidentes do partido conservador, no poder há 14 anos, mas de uma ala ainda mais à direita. O líder do partido é um velho conhecido em toda Europa. Nigel Farage foi um dos arquitetos da campanha que resultou na saída do Reino Unido da União Europeia em 2016 enquanto esteve à frente do partido Brexit, batizado, anos depois, de Reform que continua com uma agenda ultra-nacionalista e anti-imigratória. O líder do partido se recusa a ser classificado como de extrema direita e ameaça processar quem o chamar assim.

Farage também tem a conhecida personalidade de um líder politicamente incorreto, populista e de carisma. Mas ele precisa ser eleito como membro do parlamento e já perdeu sete eleições.

Portanto, as chances do partido vencer a maioria das cadeiras no parlamento e formar um governo nas eleições gerais do dia 4 de julho são mínimas, para não dizer nenhuma. Os trabalhistas têm cerca de 42% das intenções de voto e devem levar essas eleições com 20% de vantagem sobre o partido conservador. Mas o Reform está ganhando espaço desde que anunciou sua entrada na campanha com Nigel Farage e tem hoje cerca de 15% das intenções de voto, ameaçando o atual primeiro-ministro Rishi Sunak. A presença deles nessas eleições, portanto é uma dor de cabeça principalmente aos conservadores, de onde os eleitores devem migrar. 

Farage lançou o manifesto já se posicionando como o principal partido de oposição aos trabalhistas de olho nas eleições de 2029, ou seja, ele sabe que agora não vai vencer, mas tem cinco anos pela frente para sedimentar a base de apoio seguindo uma tendência que temos visto aqui na Europa como França, Portugal, Itália.

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Frustração dos eleitores

Há uma descrença dos eleitores com a política e em particular com os conservadores que estão no poder há catorze anos. Os britânicos estão lidando com um custo de vida elevadíssimo e estão insatisfeitos com a condução do governo atual que foi bastante conturbado e por isso o pêndulo volta para a esquerda para o principal partido, o do trabalhista de Keir Starmer que na verdade é bem moderado e está mais ao centro do partido trabalhista jogando um jogo politico muito cauteloso. Ele, inclusive, tem sido criticado por não se comprometer com muita coisa. Porém, o Reform se apresenta como uma alternativa mais radical, se vende como a real mudança e se propõe a cumprir uma agenda que polariza o país.

No primeiro dia de campanha, Farage foi cercado por apoiadores e opositores e acabou recebendo um milkshake de banana na cara.

Ameaça da extrema-direita

Os conservadores reconhecem a ameaça e têm tentado se ater a uma melhoria tímida dos indicadores econômicos como sinal de que dias melhores virão graças ao trabalho deles. Já o líder do partido trabalhista não está disposto a ter um embate direto com Farage. O foco dos trabalhistas é vencer as eleições contra a política do governo atual de Rishi Sunak. Nas palavras de Keir Starmer, os eleitores têm a opção de "escolher o mais do mesmo, ou virar a página da história e reconstruir o país". Veremos o resultado daqui a duas semanas.

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