Obra que simboliza multiculturalismo, "razão de ser dos Jogos Olímpicos", é inaugurada em Paris

A escultura da artista americana Alison Saar para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Paris 2024 foi inaugurada na tarde deste domingo (23), no jardim Charles-Aznavour, na avenida Champs-Elysées, em Paris. A obra foi revelada 33 dias antes da cerimônia de abertura dos Jogos, que acontece em 26 de julho.

Intitulada "Salon", a obra de Alison Saar, de 68 anos, pretende ser um "espaço que promove o diálogo e permite encontros", segundo a artista. A estátua inclui vários elementos produzidos por ela na região do Puy-de-Dôme, no centro da França.  

Composta por bronze e uma rocha vulcânica resistente, a obra inclui uma grande figura feminina negra sentada, que segura ramos de oliveira em uma mão e uma chama dourada na outra. Seis assentos, dispostos em um círculo de 5,40 m de diâmetro, simbolizam a África Ocidental, a América Central, a França, China e Europa e a origem das Olimpíadas. No centro do círculo estão os anéis olímpicos.

Em uma entrevista coletiva, o presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, aproveitou a ocasião para lembrar que os "preparativos estão indo muito bem". De acordo com ele, "o entusiasmo é ainda maior quando você anda por Paris. As instalações olímpicas estão quase prontas, a cidade está cercada de bandeiras e as pessoas no Trocadéro apontam com alegria os anéis olímpicos na Torre Eiffel", diz.   

Em relação à escultura, Thomas Bach declarou que "a obra é um convite ao diálogo, à troca, ao encontro e à partilha" e pediu a celebração da "unidade de toda a humanidade em nossa diversidade". Segundo ele, "esta é a razão de ser dos Jogos Olímpicos: reunir as diferentes culturas do mundo em uma competição pacífica que promove o diálogo", acrescentou à imprensa.

Questionado se essa declaração era uma mensagem política à França, no contexto das eleições legislativas antecipadas de 30 de junho e 7 de julho, o representante do COI respondeu que "não era cidadão francês e não tinha direito a voto".

Artista dedica obra à identidade feminina negra

Pouco conhecida na França, Alison Saar foi escolhida pelo Comitê Olímpico Internacional e pela cidade de Paris "por seu compromisso com os valores humanistas e de paz do Olimpismo" e "seu desejo de ter produção local para apoiar o artesanato francês e reduzir o uso de carbono", de acordo com informações divulgadas à imprensa.

Há 40 anos, o seu trabalho tem como foco a identidade feminina negra. "Eu mesma sou mestiça, então a maior parte do meu trabalho se concentra na minha ancestralidade africana", explicou a mulher que queria "romper com a imagem do homem branco padrão encontrada na maioria dos monumentos e esculturas".

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Suas esculturas e instalações, feitas de materiais recuperados e naturais, incorporam elementos de várias tradições culturais africanas, afro-americanas e caribenhas.  Entre suas obras mais famosas está uma escultura de Harriet Tubman, ex-escrava e ativista antiescravagista, o primeiro monumento (2008) em homenagem a uma mulher negra em Nova York.   

Nos Estados Unidos, suas obras foram expostas no Metropolitan Museum of Art e no Whitney Museum, em Nova York, e no Lacma, em Los Angeles. Nascida em 5 de fevereiro de 1956 em Los Angeles, a artista vem de uma família de artistas. Sua mãe, Betye Saar, é conhecida pelas instalações sobre questões raciais e sexistas. Seu pai, Richard Saar, de origem alemã, é ceramista e restaurador de obras de arte.   

A escultura olímpica criada para Paris-2024 é seu primeiro projeto no espaço público fora dos Estados Unidos.  Alison Saar sucede ao francês Xavier Veilhan, que criou um conjunto de esculturas intitulado "O Público" para os Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2021

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