Governo da Bolívia sufoca tentativa de golpe de Estado liderado pelo comandante do Exército

Após fracassar na tentativa de golpe, o general Juan José Zúñiga foi preso, denunciando ter sido tudo preparado como um "autogolpe" do presidente Luis Arce para enfrentar a baixa popularidade. A Bolívia vive uma crise econômica e financeira que afeta o presidente e a governabilidade.

Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires

Como nos clássicos golpes militares dos anos 70, o comandante do Exército boliviano, general Juan José Zúñiga, cercou com carros de combate e tropas militares a Praça Murillo em La Paz, em frente ao Palácio Quemado, de onde o presidente Luis Arce denunciou um "golpe de Estado".

"Cumprimentamos e expressamos o nosso mais sincero agradecimento às organizações sociais e a todo o povo boliviano que foram às ruas a manifestar a sua rejeição à intentona golpista que afeta a imagem internacional da democracia boliviana", disse o presidente, após ter superado uma jornada que gerou incerteza generalizada no país e na região.

Um dos carros de combate chegou a chocar diversas vezes contra a porta de entrada do Palácio Presidencial numa tentativa de entrar à força.

A rebeldia militar levou pânico à população desorientada que correu para se abastecer com dinheiro, combustíveis, medicamentos e comidas.

Entrada à força

O general Zúñiga chegou a entrar no Palácio Quemado e a discutir com o presidente numa cena transmitida pela TV. O militar exigia a liberação dos "presos políticos" em referência aos líderes políticos e aos militares condenados por terem ocupado o poder após a renúncia do ex-presidente Evo Morales em 2019.

Luis Arce disse que não aceitaria a insubordinação e deu ordens para o golpista recuar. Logo depois, numa rápida cerimônia, o presidente destituiu o general rebelde e renovou a cúpula militar.

Continua após a publicidade

"Faremos respeitar a democracia ganha com o voto nas urnas do povo boliviano", avisou Arce durante a posse de José Sánchez Velásquez, o novo comandante do Exército.

Enquanto isso, membros do governo e militantes gritavam "golpistas não passarão".

O general golpista se retirou da Praça com os soldados e com os carros de combate, enquanto o governo emitia uma ordem de prisão.

Autogolpe

À noite, ao ser preso, o general Zúñiga denunciou um "autogolpe". Disse que agiu por "ordem do presidente" para "levantar a sua popularidade".

"O presidente me disse: 'a situação está muito difícil, muito crítica. É necessário prepararmos alguma coisa para levantar a minha popularidade'. Eu lhe perguntei: 'Vamos com os blindados'?. Ele me responde 'vamos'. Então, no domingo à noite, os blindados começam a descer (dos quartéis)", revela Zúñiga.

Continua após a publicidade

A essa altura, a comunidade internacional já tinha manifestado o seu repúdio à fracassada tentativa de golpe.

Mais cedo, o ex-presidente Evo Morales tinha advertido que havia "aquartelamento" em diversas unidades militares.

No dia anterior, o general tinha dito que "se o ex-presidente Evo Morales tentasse voltar à Presidência, seria preso".

"As Forças Armadas são o braço armado do povo, o braço armado da pátria", defendeu o general agora preso.

A Constituição proíbe um terceiro mandato de Evo Morales, quem pretende voltar ao poder contra o seu ex-aliado, o presidente Luis Arce.

Deixe seu comentário

Só para assinantes