Maduro ataca redes sociais ao mesmo tempo que crescem prisões arbitrárias na Venezuela

O número de prisões arbitrárias na Venezuela contra opositores vem aumentando. Além de receber denúncias de manifestantes por aplicativo, o presidente Nicolás Maduro também ordenou a suspensão da a rede social X. As atas de votação ainda não foram publicadas e o clima continua tenso. Em resposta à falta de nitidez no pleito presidencial, Brasil, Colômbia e México divulgaram um comunicado conjunto sobre o caso venezuelano.

Elianah Jorge, correspondente da RFI Brasil em Caracas

As prisões arbitrárias continuam em alta na Venezuela. Na noite desta quinta-feira Williams Dávila, ex-governador do estado de Mérida, foi detido de forma arbitrária ao participar de uma vigília em prol dos presos políticos. Denúncias apontam que vários homens, alguns em moto, cercaram o opositor e o levaram sem mostrar qualquer documento justificando a detenção. Américo de Grazia é outro opositor levado por forças de segurança estatais. A filha dele, através das redes sociais, denunciou que seu pai "não está preso. Ele foi sequestrado pelo regime de Nicolás Maduro". Após 24 horas de procura, a família descobriu que ele foi levado ao Helicoide, uma das piores prisões do país, localizada em Caracas. 

Nesta quinta-feira (8), centenas de pessoas fizeram vigília em praça de um bairro opositor em Caracas. Elas pediam a libertação de mais de 2.200 pessoas presas nos últimos dias. Deste número, treze são jornalistas, de acordo com o Sindicato nacional dos Trabalhadores de Imprensa.  Algumas pessoas detidas estavam protestando, mas outras simplesmente transitavam nas ruas e acabaram presas sem justificativa. Elas se unem aos mais de 300 presos políticos do país. 

O presidente Nicolás Maduro chama de "terrorista" quem protesta contra seu governo. 

Desde que Nicolás Maduro divulgou o aplicativo VenApp para receber denúncias de manifestantes, a dinâmica social mudou no país. As pessoas estão mais cautelosas, tomando precauções. Segundo Maduro, foram feitas mais de cinco mil denúncias nos últimos dias. 

Além disso, está vigente a operação "Tun-Tum". O nome remete a uma canção natalina venezuelana, mas ele foi readaptada por Diosdado Cabello, vice-presidente do Partido Socialista Unido da Venezuela. Agora a canção, outrora cantada por crianças, significa a ação de forças de segurança do Estado que tocam à porta de opositores para levá-los sem apresentar ordem de detenção. 

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O hermetismo dá a tônica das conversas. Caso a pessoa não saiba qual a tendência política da outra, a conversa é sobre amenidades. Também é motivo de angústia o uso de celulares. Agentes de segurança do Estado têm pedido para ver o celular dos cidadãos. Caso alguma mensagem ou conteúdo seja contra o governo de Maduro, a pessoa pode ser presa. Tem gente que prefere sair sem levar o celular ou então apagar informações consideradas comprometedoras. Há os que preferem evitar andar a sós nas ruas, sobretudo ao cair da noite. 

Com o surgimento das críticas ao processo eleitoral, todas as tardes o presidente Nicolás Maduro recebe seguidores no Palácio do Miraflores. Nessas alocuções ele vem arremetendo contra as redes sociais. Dia desses, criticou o Tik Tok e o Instagram - redes nas quais ele tem milhares de seguidores. Porém, a insistência do presidente recai sobre o Whatsapp. Com a ausência de meios independentes, é pelas redes sociais que o venezuelano se atualiza sobre ao acontecimento nacionais. Em especial pela rede de mensagens Whatsapp, alvo preferido de Maduro nos últimos dias. Ele chegou a pedir a seus seguidores que desinstalem a aplicação. Ele mesmo, em rede nacional de rádio e TV, desinstalou-a do celular. 

Bloqueio de X por dez dias

Mas nesta quinta-feira foi a vez da rede X, antigo Twitter. Maduro anunciou o bloqueio por dez dias da rede social de propriedade de Elon Musk. Na noite desta quinta, observatório de internet Venezuela Sem Filtro informou que a rede social X começou a ser bloqueada pelas empresas de telecomunicações da Venezuela. Para conseguir acessar o X é preciso usar VPN, sigla para rede privada individual, e assim conseguir acesso a páginas bloqueadas no país. 

Nesta sexta-feira, Nicolás Maduro deverá se apresentar à sala eleitoral do Tribunal Supremo de Justiça. Esta instância judicial acatou o pedido feito semana passada pelo presidente. Maduro quer através do aval do TSJ ter reconhecida sua questionada vitória eleitoral. No entanto, a comunidade internacional vem ativando uma série de ações. 

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O Brasil, Colômbia e México, após dias adiando, divulgaram nesta quinta-feira um comunicado conjunto. Os três países "consideram fundamental a apresentação por parte do Conselho Nacional Eleitoral dos resultados das eleições de 28 de julho separados por mesa de votação". Já a líder opositora Maria Corina Machado disse que a Venezuela está aberta a uma solução mediada por Brasil e Colômbia. Ela afirmou que não quer vingança, mas unir o país. Segundo Corina, Maduro precisa reconhecer que a melhor opção é negociar.

Já o presidente do Panamá, José Raul Molino, afirmou ter confirmado o nome de seis presidentes que participarão da cúpula organizada pelo panamenho. Líderes cogitam que a reunião sobre a Venezuela será em meados de agosto. 

O panamenho Mulino e o colombiano Gustavo Petro temem que a atual crise política venezuelana aumente ainda mais o número de imigrantes. Mulino chegou a falar em bloquear o Canal do Darien, perigoso trecho de selva que divide a Colômbia do Panamá e por onde passam centenas de imigrantes todos os dias rumo à América do Norte. Por sua vez, Gustavo Petro destacou que se nada for feito, o conflito gerado pela não publicação das atas eleitorais pode derivar em uma guerra na Venezuela.  

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