Volta aos holofotes: Trump faz live com Musk em movimento estratégico
Donald Trump havia sido banido da rede social por quase dois anos após a invasão do Capitólio dos EUA em 6 de janeiro de 2021.
Como parte do retorno à plataforma, Trump tuitou pela primeira vez em agosto de 2023, quando ele postou um mugshot — foto de rosto usada para registro oficial da polícia — logo após se apresentar à justiça da Geórgia.
Na primeira mensagem de retorno, Trump pergunta aos seguidores se eles estão melhores agora do que quando ele era presidente, para logo criticar a situação econômica do país e dizer que os Estados Unidos de hoje são uma "nação em declínio".
Problemas técnicos levaram ao atraso da transmissão
Durante duas horas, Elon Musk e Donald Trump abordaram os mais diversos temas que envolvem a campanha eleitoral do republicano.
A conversa transmitida via X, o antigo Twitter, em uma espécie de sala de bate-papo pública em formato de áudio, sofreu um atraso de mais de 40 minutos devido a problemas técnicos, em função do grande número de pessoas tentando se conectar.
Musk disse que o excesso de solicitações para ingressar na sala de bate-papo era o resultado de um ataque cibernético que sobrecarregou a página e que, na pior das hipóteses, eles prosseguiriam a conversa com um número menor de ouvintes ao vivo e publicariam a conversa mais tarde.
Fisicamente, Elon Musk se encontrava em Austin, no Texas, e Trump em sua residência de Mar-a-Lago na Flórida. O pontapé inicial da conversa foi dado com uma reflexão sobre o atentado sofrido pelo candidato semanas atrás. Trump disse que sua fé em Deus foi reforçada após o episódio e Musk aproveitou para tecer elogios a reação de Trump ao tiro que quase custou sua vida, explicando que o gesto o levou a endossar publicamente a candidatura do republicano.
O tópico seguinte foi a crise migratória da fronteira sul dos Estados Unidos, momento no qual o nome da candidata Kamala Harris veio à tona, e ambos teceram críticas sobre a ineficácia da atual vice-presidente em controlar a entrada de imigrantes sem documentados ao país.
Entrevista é tentativa de Trump de voltar aos holofotes
A conversa foi articulada como uma oportunidade para Trump chegar a vários de seus eleitores de forma direta e também para o X tentar se reativar como um lugar de referência para difusão de informação, já que o meio vem sofrendo com a perda da credibilidade desde que Elon Musk assumiu a empresa.
A audiência do ex-presidente no X é muito maior do que na sua plataforma, a Truth Social, que se tornou uma empresa de capital aberto no início deste ano e foi criada após ele ser banido do Twitter em 2020. Trump tem pouco mais de 7,5 milhões de seguidores no Truth Social, enquanto sua conta no X é seguida por 88 milhões de pessoas.
Além disso, o perfil de Elon Musk, que hospedou a entrevista, conta com mais de 193 milhões de seguidores.
Apesar da crise de credibilidade, o X já foi palco de alguns dos momentos mais marcantes das eleições de 2024. Após se negar a participar de um debate das primárias republicanas, Trump lançou sua própria contraprogramação, uma entrevista gravada com o ex-apresentador do Fox News, Tucker Carlson, que foi transmitida através X. Além disso, o presidente Joe Biden também utilizou a rede social para dar a notícia de sua desistência da campanha.
Antes disso, em uma transmissão em maio de 2023, o governador da Flórida, Ron DeSantis, usou a plataforma para anunciar oficialmente sua candidatura presidencial. Na ocasião, a rede social também apresentou problemas técnicos para iniciar a transmissão semelhantes aos que aconteceram nesta segunda, já que mais de 400 mil pessoas tentaram se conectar.
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Quero receberAntes da conversa com Trump, Musk postou que estava conduzindo "alguns testes de escalonamento do sistema" para lidar com um grande volume de participantes.
O alinhamento de Musk com a extrema-direita
Durante a conversa com Trump, Elon Musk rebateu os comentários sobre seu alinhamento com a extrema-direita. Ele relembrou que até se autodenominava democrata e chegou a apoiar a campanha de Barack Obama.
Nos últimos anos, porém, as publicações e ações do bilionário em sua rede social ganharam um caráter que atende muito a essa linha de pensamento extremista.
Musk tem utilizado o X para tentar influenciar o discurso político em todo o mundo. Como, por exemplo, no confronto com o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Morais, a quem acusou de censura por determinar o bloqueio de perfis que estariam espalhando fake news através da plataforma.
Recentemente, Musk chegou a publicar falsas alegações de que os democratas estariam transportando secretamente imigrantes para votar nas eleições americanas.
Além disso, durante a conversa desta segunda, Trump e Musk, chegaram a citar o presidente da Argentina, Javier Milei, associado à extrema-direita, como um bom exemplo de governante. Ambos teceram elogios às mudanças executadas por ele na economia argentina que, segundo Trump, reproduzem o modelo de administração "Make America Great Again" ("Faça a America Grande Novamente", em português), aplicado a fazer a "Argentina Great Again".
O homem mais rico do mundo, dono da Tesla, e investidor de programas espaciais, comprou a empresa que controlava o Twitter em novembro de 2022. Desde então, a conta de Trump foi restabelecida, embora o ex-presidente tenha se abdicado de twittar, insistindo que estava mais feliz no seu próprio site, o Truth Social.
Campanha de Trump tenta recuperar o rumo frente a um novo adversário
A entrevista desta segunda se soma a outras tentativas recentes do ex-presidente de voltar aos holofotes, já que, desde o anúncio de Kamala como candidata, ele perdeu o protagonismo obtido junto à mídia desde o atentado.
Após a desistência de Joe Biden da corrida pela Casa Branca, Donald Trump tem tido dificuldade para realinhar sua campanha que antes estava focada nos ataques ao democrata com relação a sua idade avançada.
Na busca por reencontrar a rota, a campanha do republicano promoveu recentemente uma entrevista coletiva de Trump em Mar-a-Lago, assim como a participação em um evento da Associação Nacional de Jornalistas Negros dos Estados Unidos (NABJ) no qual questionou a identidade racial de Kamala Harris e, por último, acusou a campanha da democrata de incluir pessoas criadas com inteligência artificial nas imagens de seu comício em Detroit para gerar a ideia de que ela estaria atraindo multidões.
Lembrando, que na entrevista de Mar-a-Lago, Trump chegou a se comparar a Martin Luther King Jr. ao comentar sua capacidade de atração do público para seus eventos.
A reação da campanha de Kamala à conversa entre Musk e Trump
Apenas alguns minutos após o início da conversa, a campanha de Kamala Harris enviou um comunicado por e-mail chamando a atenção para a entrevista, "as duas piores pessoas que você conhece estão ao vivo esta noite", dizia o título da mensagem.
No corpo do e-mail, a campanha da democrata diz que Musk não apenas prometeu doar milhões de dólares para ajudar a reeleger Trump, mas também está usando a plataforma que comprou, "para espalhar a agenda desequilibrada e odiosa do republicano para milhões de usuários".
"Musk já arruinou o Twitter ao permitir que o discurso de ódio e a desinformação inundassem a plataforma. Agora, Musk está usando sua vasta fortuna e amplo alcance para tentar controlar a nossa democracia", alertava a mensagem.
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