"Vocês estão prontos para votar em Kamala Harris?": Biden dá adeus à campanha em 1° dia da Convenção Democrata

O primeiro dia da Convenção Nacional do partido Democrata foi marcado pela despedida oficial do presidente americano, Joe Biden, da campanha: um dos últimos momentos de sua carreira política. "Eu amo o meu trabalho, mas eu amo mais o meu país", disse o presidente nesta segunda-feira (19), em Chicago. 

Luciana Rosa correspondente da RFI, de Chicago

A introdução do discurso foi feita pela primeira-dama, Jill Biden, e pela filha do casal Ashley, que descreveu o pai como um defensor dos direitos das mulheres. 

O carinho pela família Biden foi reforçado com a chegada do presidente ao palco, no primeiro dia da Convenção Nacional do partido Democrata. "Nós amamos Joe", diziam as milhares de placas levantadas pelo público no United Center. Em seguida, os participantes repetiram um uníssono "obrigado" ao homem que afirma ter dado o seu melhor, seu coração e sua alma ao seu país. 

Mas longe do tom melancólico, Joe Biden utilizou o momento para enumerar os sucessos de seu governo e quase deixar claro que a proposta de Kamala para governar o país se deve muito ao programa iniciado por ele.

"Vocês estão prontos para votar pela liberdade, pela democracia e pela América. Vocês estão prontos para votar em Kamala Harris?", questionou com uma energia e vivacidade o homem que foi levado a desistir da candidatura devido a problemas de saúde.

O abraço final de Biden em Kamala Harris, após o término do discurso, e a reunião das famílias de ambos no palco resumem o emotivo e histórico momento vivido nesta segunda-feira em Chicago.

Hillary Clinton ovacionada

A ex-senadora e ex-secretária de Estado Hillary Clinton foi a primeira grande oradora da noite, sendo ovacionada pelo público presente no United Center. Vestida de branco, cor que identifica o movimento sufragista, ela teve dificuldade para começar o discurso, tamanha comoção causada por sua chegada. Nem mesmo a aparição surpresa da candidata Kamala Harris, momentos antes, foi capaz de levantar o público como a chegada da primeira mulher a disputar uma eleição presidencial pelo partido, em 2016.

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"Há muito entusiasmo nesse salão. Algo está acontecendo na América", disse Hillary, traduzindo o clima de animação que seu partido vem experimentando desde que Kamala Harris foi escolhida para substituir Biden.

Hillary pediu apoio para Harris, não por quem ela é, mas pelas causas pelas quais ela luta. Entre elas, os direitos reprodutivos, que segundo a ex-primeira-dama serão totalmente restaurados, caso a democrata vença a disputa para a Casa Branca. Hillary aproveitou também para agradecer o atual presidente Joe Biden pela vida dedicada a servir e liderar o país.

Protesto do lado de fora 

Poucas horas antes do início do evento, enquanto Joe Biden visitava a arena onde discursaria, uma multidão marchava pelas ruas de Chicago pedindo o fim da Guerra em Gaza. Considerada a maior "pedra no sapato" do atual governo, o conflito se tornou um dos principais pontos de controvérsia da campanha de Harris, já que muitos não acreditam que ela atuará de forma diferente com relação ao apoio dado pelos Estados Unidos à Israel.

"Biden, você não pode se esconder. Nós vamos te incriminar por genocídio", cantavam as vozes do lado de fora do United Center. Os manifestantes ainda chamaram o presidente de "Genocide Joe" e referiram-se de maneira semelhante à Kamala.

Para os ativistas que se dirigiram a Chicago para se manifestar durante esta semana, a teoria de que um candidato democrata seria um mal menor, quando comparado ao líder republicano Donald Trump, não faz sentido. De acordo com as centenas de jovens que marchavam pela capital do Estado de Illinois é hora de que candidatos independentes tenham sua chance no cenário eleitoral americano.  

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Durante seu discurso, Biden chegou a citar as manifestações e reconheceu que os ativistas têm uma parcela de razão.

Aborto no centro da campanha

Três testemunhas de mulheres vítimas do cancelamento do decreto Roe vs. Wade - que autorizava a prática do aborto em nível nacional até 2022 -  precederam o grande discurso da noite, confirmando o tema como central na campanha democrata de 2024.

Entre os testemunhos, destacou-se o da jovem Hadley Duvall, que se emocionou ao contar como sobreviveu ao estupro cometido pelo padastro quando ela tinha apenas 12 anos. A gestação resultante da violência pôde ser interrompida já que o fato ocorreu antes da decisão da Corte Suprema americana. Em sua fala, a jovem afirmou que hoje, nos Estados Unidos, muitas meninas que passam pelo mesmo trauma estão sendo obrigadas a seguir adiante com a gravidez. 

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