Israel ordena moradores do sul do Líbano a 'não voltarem' para suas casas
O exército israelense advertiu os moradores do sul do Líbano neste sábado (12) a "não voltarem" para suas casas, enfatizando que suas tropas continuam a enfrentar combatentes do movimento islâmico libanês Hezbollah na região. A atual ofensiva israelense reaviva na população libanesa as lembranças e traumatismos de conflitos passados com Israel, especialmente as agressões de 1982 e o trágico episódio de 2006, uma guerra que durou 34 dias e deixou mais de 1.000 mortos.
O exército israelense advertiu os moradores do sul do Líbano neste sábado (12) a "não voltarem" para suas casas, enfatizando que suas tropas continuam a enfrentar combatentes do movimento islâmico libanês Hezbollah na região. A atual ofensiva israelense reaviva na população libanesa as lembranças e traumatismos de conflitos passados com Israel, especialmente as agressões de 1982 e o trágico episódio de 2006, uma guerra que durou 34 dias e deixou mais de 1.000 mortos.
As forças israelenses continuam a "atacar as posições do Hezbollah dentro ou perto de suas aldeias", disse Avichay Adraee, porta-voz do exército israelense para o público de língua árabe, em uma mensagem oficial em árabe publicada no X netse sábado (12).
"Para sua própria proteção, não voltem para suas casas até segunda ordem. Não se dirijam para o sul; qualquer pessoa que se dirija para o sul corre o risco de colocar sua vida em perigo", acrescentou o porta-voz das forças militares de Israel, anunciando uma possível retaliação contra o envio de mísseis do Hezbollah a Haifa, no norte de Israel, também neste sábado.
O movimento islâmico libanês Hezbollah afirmou haver disparado "mísseis" contra uma base militar israelense perto de Haifa, a maior cidade do norte de Israel.
Em um comunicado, o grupo pró-iraniano disse que havia disparado "uma série de mísseis em uma base ao sul de Haifa, tendo como alvo uma fábrica de explosivos". No dia anterior, o Hezbollah reivindicou a responsabilidade por um ataque de drone em uma base aérea em Haifa.
Feriado sagrado e críticas internacionais
Israel, que comemora o feriado sagrado de Yom Kippur neste sábado, enfrenta neste momento uma série de críticas internacionais sobre sua ofensiva militar no Líbano e os disparos de seus soldados contra as forças de manutenção da paz.
Israel explicou na sexta-feira que havia disparado contra uma "ameaça" perto de uma posição da Força Interina das Nações Unidas (UNIFIL) no sul do Líbano, onde seu exército conduz uma vasta ofensiva aérea e terrestre contra o Hezbollah, um aliado do Hamas palestino.
"Dois soldados da força de paz do Sri Lanka ficaram feridos", depois de dois soldados indonésios no dia anterior, informou a UNIFIL, que registrou explosões pela segunda vez em 48 horas.
Na sexta-feira, o Hezbollah pediu aos israelenses que se afastassem de locais militares em áreas residenciais no norte do país. "O exército do inimigo israelense está usando casas (...) como centros de reunião para seus oficiais e soldados" em várias regiões do norte de Israel e 'tem bases militares' nas principais cidades do norte, incluindo 'Haifa, Tiberíades e Acre', disse o grupo pró-iraniano.
Enquanto Israel celebra o importante feriado judaico do Yom Kippur, sirenes de ataque aéreo soaram em pelo menos cinco cidades no norte do país na noite de sexta-feira, de acordo com o exército israelense. Em Gaza, tiros e explosões foram ouvidos no distrito de Al-Zeitoun, na Cidade de Gaza.
Na sexta-feira, o presidente norte-americano Joe Biden juntou-se ao coro de críticas internacionais aos disparos contra os soldados da UNIFIL e pediu que Israel pare de atacar as forças de paz da ONU.
O presidente francês Emmanuel Macron disse que era "totalmente inaceitável" que as forças de paz fossem "deliberadamente alvejadas pelas forças armadas israelenses" e alertou que a França "não toleraria" novos tiroteios, em uma cúpula de líderes mediterrâneos da UE no Chipre.
Trauma dos libaneses
Os recentes ataques do exército israelense nos subúrbios ao sul de Beirute, reduto do Hezbollah, reavivaram a memória traumática dos bombardeios israelenses de 2006, que causaram na época mais de 1.000 mortes de civis, 30% dos quais eram crianças com menos de 12 anos, além de mais de um milhão de refugiados e a destruição da maior parte da infraestrutura do país.
A atual ofensiva israelense revive memórias de conflitos passados, em especial as operações de 1982 e o trágico episódio de 2006. Para Éric Verdeil, pesquisador do CERI (Centro de pesquisas internacionais) e professor da Sciences-Po, as raízes dessas tensões remontam ao final da década de 1960, quando a população xiita do sul do Líbano foi envolvida na luta entre a Organização para a Libertação da Palestina e o exército israelense. "Em 1982, os israelenses foram até Beirute. Desde então, houve o que muitas vezes é chamado no Líbano de "rodadas", ou seja, ciclos de guerra, dos quais o episódio de 2006 foi o mais violento e destrutivo".
Por enquanto, "parece difícil imaginar o exército israelense querendo penetrar tão longe quanto Beirute, como fez em 1982", conjectura Éric Verdeil. Entretanto, ele teme uma estratégia baseada na força de ataque aéreo do Tsahal. "Ao contrário dos conflitos terrestres, o exército israelense tem domínio absoluto sobre o ar, e pode até bombardear ainda mais, já que suas bombas parecem ser muito mais fortes hoje em dia. Os libaneses parecem estar assistindo impotentes à repetição dos mesmos ciclos de guerra desde a década de 1960", concluiu o especialista.
(Com AFP e Franceinfo)