Morte do líder do Hamas pode significar "nova fase" nos conflitos no Oriente Médio, apontam especialistas
O anúncio feito por Israel, na quinta-feira (17), da morte do líder do Hamas, Yahya Sinwar, durante uma operação militar na Faixa de Gaza, marca uma etapa decisiva na guerra desencadeada pelo ataque do movimento palestino a Israel em 7 de outubro de 2023. Os palestinos e as famílias dos reféns israelenses esperam o fim do conflito, que já dura mais de um ano. Enquanto isso, o Hezbollah do Líbano anunciou nesta sexta-feira (18) que estava iniciando uma nova fase de escalada em seu confronto com Israel.
Yahya Sinwar, considerado o mentor do 7 de outubro, foi morto durante uma operação em Rafah, no sul da Faixa de Gaza, com o primeiro-ministro Benyamin Netanyahu assegurando que a morte marca "o início do fim" da guerra em Gaza.
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O Hezbollah do Líbano anunciou nesta sexta-feira que estava iniciando uma nova fase de escalada em seu confronto com Israel, enquanto o Irã declarou que "o espírito de resistência (seria) fortalecido" após a morte de Yahya Sinwar.
Os líderes ocidentais consideram que o assassinato do líder do Hamas oferece uma oportunidade para encerrar o conflito, mas o primeiro-ministro israelense disse que a guerra não havia terminado e que Israel ainda pretende resgatar os reféns mantidos em Gaza. Para os parentes e associações mobilizadas pelos reféns, agora é o momento de trabalhar pela libertação deles. Ainda há 101 reféns nas mãos do Hamas.
O diretor do Centro Francês de Pesquisa sobre o Iraque (CFRI), Abel Bakawan, disse em entrevista à RFI acreditar que neutralizar do chefe do Hamas é uma 'vitória de três dimensões' para Israel:
"Sinwar foi designado desde o 7 de outubro como o engenheiro, como aquele que planejou, organizou e colocou em execução o massacre coletivo do 7 de outubro. Então, sua eliminação, nesta escala, é uma vitória. Depois, é preciso considerar que Sinwar é o chefe militar do Hamas, então sua morte significa também a eliminação do comandante militar do grupo. Além disso, desde a morte de Ismail Haniyeh, Sinwar era também o chefe político do grupo. Ou seja, ao mesmo tempo, Israel eliminou o responsável do 7 de outubro, do chefe militar e do chefe político do Hamas", afirma o pesquisador especialista em Oriente Médio.
As famílias dos reféns israelenses mantidos pelo Hamas na Faixa de Gaza observam que, embora a morte de Yahya Sinwar tenha representado um avanço significativo, ela poderia colocar em risco seus entes queridos.
Exército israelense divulgou detalhes da morte de Yahya Sinwar
O exército israelense divulgou imagens apresentadas como os últimos momentos da vida do líder do Hamas, informa o correspondente especial da RFI em Jerusalém, Nicolas Feldmann.
Em um vídeo capturado por um drone, um homem pode ser visto sentado em uma poltrona no primeiro andar de um prédio em ruínas, com o rosto escondido por um keffiyeh (tecido tradicional usado por homens de partes do Oriente Médio).
As imagens foram feitas na quarta-feira, em Rafah, em uma operação que não teve como alvo direto Yahya Sinwar. O líder do Hamas teria se refugiado em um prédio antes de ser "eliminado". Foi o fim de uma "caçada que durou um ano", de acordo com o exército israelense.
Nenhuma reação dos líderes do Irã
Nenhuma autoridade iraniana de alto escalão reagiu ainda à morte do líder do Hamas. Somente o representante do Irã nas Nações Unidas emitiu uma declaração dizendo que a morte de Yahya Sinwar como mártir "será um exemplo para os jovens palestinos que continuarão seu caminho para a libertação da Palestina".
Uma autoridade do Hamas disse na sexta-feira que o movimento islâmico palestino "não pode ser eliminado", apesar da morte de seus dirigentes, sem confirmar que seu líder, Yahya Sinwar, havia sido morto em Gaza.
"Parece que Israel pensa que a morte de nossos líderes significa o fim de nosso movimento e da luta do povo palestino", mas 'o Hamas é um movimento liderado por pessoas que buscam liberdade e dignidade e que não pode ser eliminado', disse à AFP Bassem Naïm, membro do gabinete político do Hamas.
A morte de Sinwar ocorre após a decapitação do Hezbollah libanês e o assassinato de Ismael Haniyeh em Teerã, em 31 de julho. O ataque ocorre ainda em um momento em que Israel avalia uma resposta ao ataque de 200 mísseis contra o Estado judeu em 1º de outubro.
O chefe da Guarda Revolucionária disse novamente na quinta-feira que o Irã atacaria Israel novamente em um eventual ataque contra o território iraniano e que o sistema americano de mísseis antibalísticos THAAD não protegeria o Estado judeu.
Mas os iranianos temem que, após suas bem sucedidas operações contra o Hamas e o Hezbollah, Israel decida atacar o Irã ainda com mais força, como disse o primeiro-ministro israelense.
Uma "nova fase" na guerra?
O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, conversou por telefone na quinta-feira com os líderes da Arábia Saudita e do Catar para discutir o fim do conflito no Oriente Médio, anunciou o Departamento de Estado dos EUA.
No Egito, o outro grande mediador desse conflito, fontes da mídia próximas ao governo indicam que as autoridades já estão se preparando para fazer propostas durante a visita regional de Antony Blinken, indicou o correspondente da RFI no Cairo, Alexandre Buccianti.
Essas fontes especificam que já estão em andamento contatos com o movimento palestino Fatah e o Hamas para uma reunião a ser realizada entre seus representantes no Cairo. Os mediadores egípcios tentarão reunir as duas partes para administrar a Faixa de Gaza no futuro por meio da Organização para a Libertação da Palestina (OLP). Enquanto isso, o Egito manifesta preocupação e alerta contra uma escalada descontrolada do conflito, que poderia arrastar toda a região para a turbulência.
O pesquisador especialista em Oriente Médio e diretor do Instituto Europeu de Geopolítica, Sébastien Boussois, confirma que essa "morte de mártir" de Sinwar provavelmente "desencadeará novas vocações" e aposta que "haverá sucessores".
"A eliminação física desses indivíduos não resolve o movimento em si. Com tudo o que aconteceu, infelizmente acho que os novos jovens obviamente vão querer se doutrinar ou pelo menos se envolver nessa luta e nessa ideologia. É de se temer uma corrida desenfreada", afirma.
Uma autoridade do Hamas disse na sexta-feira que o movimento islâmico palestino "não pode ser eliminado", apesar da morte de seus dirigentes, sem confirmar que seu líder, Yahya Sinwar, havia sido morto em Gaza.
"Parece que Israel pensa que a morte de nossos líderes significa o fim de nosso movimento e da luta do povo palestino", mas 'o Hamas é um movimento liderado por pessoas que buscam liberdade e dignidade e que não pode ser eliminado', disse à AFP Bassem Naim, membro do gabinete político do Hamas.