Lula defende permanência de G20 Social e cobra de países ricos financiamento para florestas
Em discurso a representantes da sociedade civil que participaram do G20 Social, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou dos países ricos ajuda para financiar a proteção das florestas. Este é um dos maiores desafios das negociações travadas na Conferência do Clima de Baku (COP29), no Azerbaijão, e um dos temas mais difíceis enfrentados pelos diplomatas que costuram o comunicado final da cúpula do G20, a ser aprovado pelos líderes do grupo no Rio de Janeiro, na segunda (18) e terça-feira (19).
Vivian Oswald, correspondente da RFI no Rio de Janeiro
Lula disse que a mudança do clima "já não é mais uma questão da ministra [do Meio Ambiente] Marina Silva ou da USP, mas o que estamos vendo acontecer no nosso quintal, na nossa rua, no nosso bairro. O clima está mudando e, se tem um responsável, ele se chama ser humano", disse.
O presidente afirmou que "todo mundo" fala da Amazônia, mas que, durante a COP30, sob presidência brasileira e cuja sede será a capital do Pará, será a vez de a Amazônia dizer ao mundo o que quer.
"As pessoas têm que saber que, embaixo de cada copa de árvore, tem um ser humano, tem um pescador, tem um seringueiro, tem um indígena, tem um pequeno trabalhador rural, tem um extrativista. E a pessoa tem que saber que, para que a gente possa proteger a nossa floresta, esse povo tem que comer, e, para ele comer, os países ricos têm que ajudar a financiar a proteção da nossa floresta", ressaltou.
Distância entre os mercados e a rua
Lula voltou a criticar a distância entre o que chamou de a voz dos mercados e voz das ruas. Segundo ele, apesar do legado robusto de realizações que a edição brasileira do G20 deixará para o mundo, ainda há muito a se fazer.
"Para chegar ao coração dos cidadãos comuns, os governos precisam romper com a dissonância cada vez maior entre a voz dos mercados e a voz das ruas. O neoliberalismo agravou a desigualdade econômica e política que hoje assola as democracias", salientou.
Lula reforçou que o G20 se consolidou com uma o principal fórum de cooperação econômica mundial e como importante espaço de concertação política, mas destacou que a economia e a política internacional não são monopólio de especialistas e nem de burocratas.
"Elas não estão só nos escritórios da bolsa de Nova Iorque ou na bolsa de São Paulo, nem só nos gabinetes de Washington, Pequim, Bruxelas ou Brasília. Fazem parte do dia a dia de cada um de nós, alargando ou estreitando as nossas possibilidades. Os membros do G20 têm o poder e a responsabilidade de fazer a diferença para muita gente", afirmou.
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O presidente também aproveitou para fazer alusão à pauta que está em discussão no Brasil sobre a escala 6X1 de trabalho, ao ressaltar que o G20 precisa discutir medidas para reduzir o custo de vida e "promover uma jornada de trabalho mais equilibrada". Na plateia, estudantes da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) carregavam faixas sobre o tema.
Em uma referência implícita ao ataque a bomba desta semana à Praça dos Três Poderes, em Brasília, Lula disse que é preciso preservar o espaço público para que o extremismo não gere retrocessos e ameaça de direitos. O presidente ainda não comentou o episódio publicamente.
O petista ainda destacou a necessidade do compromisso com a paz, para que a rivalidade geopolítica e os conflitos "não nos desviem do caminho do desenvolvimento sustentável".
G20 Social 'é apenas o começo'
Já de improviso, o presidente afirmou que encerramento do G20 Social, criado na presidência brasileira do grupo, não pode significar um fim, como acabou acontecendo com o Fórum Social Mundial, mas espera que seja o início de um novo processo. "Vocês estão fazendo a abertura de uma luta que vocês vão ter que dar sequência durante 365 dias por ano. Isto aqui é apenas o começo", disse, lembrando que a mobilização permanecente é fundamental.
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Quero receber"Para impulsionar os trabalhos da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, é preciso avançar a tributação dos super-ricos. Para garantir o cumprimento das metas de triplicar o uso de energias renováveis, é [preciso] antecipar a neutralidade de emissões e para levar adiante nosso chamada ação pela reforma da governança global, assegurando instituições multilaterais mais representativas", frisou.
O presidente ainda lembrou que o mundo gastou, nos últimos anos, US$ 2,4 trilhões em armamentos e "não gastou quase nada para dar comida para as pessoas que precisam tomar café da manhã, almoçar e jantar". Após reunião bilateral do secretário-geral da ONU, António Guterres, o brasileiro afirmou que vai pedir que o G20 Social seja reeditado nas próximas edições do G20.
Lula recebeu do G20 Social um documento com as conclusões das sessões plenárias sobre as prioridades do G20 e os desafios globais. O documento pede "vontade política e a institucionalização de instâncias como a Cúpula Social do G20 para possibilitar a construção de uma agenda coletiva que honre o compromisso com a justiça social e com a paz global".
No domingo (17), Lula participará do encerramento do Urban20, o fórum de prefeitos dos países do G20. Na parte da tarde, terá os primeiros encontros bilaterais com lideranças internacionais, que também estão previstos para a tarde de terça.
A lista completa de reuniões ainda não foi fechada, mas estão confirmadas as bilaterais com os presidentes Joe Biden, dos Estados Unidos, e Emmanuel Macron, da França.
Com AFP
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