Rússia diz que ataques da Ucrânia com armas americanas são "sinal" de que Kiev e Ocidente "querem escalada"
A Rússia prometeu nesta terça-feira (19) uma resposta "adequada" ao ataque de Kiev a seu território, com mísseis americanos ATACMS. O chefe da diplomacia russa, Sergei Lavrov, afirmou que o conflito caminha para "uma nova fase" e anunciou que as possibilidades de utilização de armas nucleares foram ampliadas.
"Consideraremos isto como uma nova fase na guerra ocidental contra a Rússia e reagiremos em conformidade", disse ele à imprensa à margem da cúpula do G20 no Rio. Para ele, os mísseis americanos de precisão não podem ser usados ??por Kiev "sem a ajuda de especialistas e instrutores americanos", acusando diretamente os Estados Unidos de terem ajudado o Exército ucraniano.
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Os ataques acontecem após o sinal verde dado por Washington a Kiev, no domingo (17), para usar mísseis de longo alcance contra o território russo.
Para o Kremlin a utilização destes armamentos representava uma linha vermelha a não ser ultrapassada. Em setembro, Vladimir Putin advertiu que se o uso de mísseis ocidentais de longo alcance pela Ucrânia contra o território russo, sinalizaria que "os países da OTAN estariam em guerra com a Rússia".
O presidente russo ainda não falou publicamente sobre o ataque ucraniano, mas de acordo com Moscou o alvo eram instalações militares.
Uso de armas nucleares
Segundo o relato do exército russo, "às 3h25, o inimigo atingiu um local na região de Bryansk", não muito longe da fronteira com a Ucrânia, com "mísseis táticos ATACMS". Cinco projéteis foram destruídos e outro danificado pela defesa antiaérea russa.
O ataque foi confirmado por uma autoridade à AFP, sob anonimato. O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky disse simplesmente, numa conferência de imprensa em Kiev, que seu país tinha estes mísseis e iria "utilizá-los".
Vladimir Putin levantou repetidamente a possibilidade de usar armas nucleares desde o início da ofensiva em fevereiro de 2022.
Na terça-feira, o presidente russo respondeu à decisão americana de permitir o uso de suas armas, assinando o decreto que formaliza a nova doutrina nuclear da Rússia, que amplia a possibilidade de recurso a armas atômicas em caso de ataque "massivo" por parte de um país não nuclear, mas apoiado por uma potência nuclear. Uma referência clara à Ucrânia e aos Estados Unidos.
"Era necessário adaptar os nossos fundamentos (da doutrina nuclear) à situação atual", defendeu friamente Dmitri Peskov, porta-voz do governo russo.
Ajuda de outros países europeus
A Ucrânia exigiu durante meses permissão dos Estados Unidos para atacar alvos militares em território russo, visando perturbar a logística de seu exército, agora apoiado por soldados norte-coreanos.
Diane do Parlamento ucraniano, Volodymyr Zelensky estimou nesta terça-feira que o resultado da estratégia chegaria em 2025. "Esta fase determinará quem vencerá", disse, garantindo que "a Ucrânia pode derrotar a Rússia", mesmo que "seja muito difícil". Mas Zelensky reconheceu, pela primeira vez, que a Ucrânia poderá ter de esperar até depois de Putin para "restaurar" a sua integridade territorial, pois os russos a ocupam quase 20% de seu território.
No âmbito diplomático, a volta de Donald Trump à Casa Branca gera temores de que a Ucrânia seja forçada a fazer concessões.
Neste contexto, a Polônia e outros Estados europeus afirmaram estar "prontos para assumir a responsabilidade do apoio militar e financeiro" a Kiev, conforme o chefe da diplomacia polonesa, Radoslaw Sikorski, após uma reunião em Varsóvia com vários outros ministros de Relações Exteriores europeus.
(Com AFP)