Rússia, EUA, China, Coreia do Norte: qual país tem mais armas nucleares?

Hoje, nove países do mundo possuem, comprovada ou alegadamente, armas atômicas. É o chamado "clube nuclear". Neste contexto, o temor de uma possível Terceira Guerra Mundial sempre vem a tona com embates e rusgas entre Estados Unidos, Rússia, China e Coreia do Norte - justamente as nações com maior poderio.

Em 1968, esforços internacionais de paz levaram à assinatura do TNP (Tratado de Não-Proliferação Nuclear), que entrou em vigor em 5 de março de 1970. Atualmente, conta com a adesão de 189 países, cinco dos quais são reconhecidos como "Estados com armas nucleares" (EAN ou NWS, do inglês nuclear-weapon states).

São eles, em ordem de fabricação das bombas: Estados Unidos, Rússia (ex-União Soviética), Reino Unido, França e China. Eles possuem a grande maioria das armas nucleares conhecidas do mundo e, nos termos do tratado, podem mantê-las e também desenvolver pesquisas na área - mas são proibidos de repassar tecnologia bélica a outras nações. Esses também são os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU e vencedores da Segunda Guerra Mundial.

Três países que nunca fizeram parte do TNP realizaram testes nucleares ostensivos depois que o tratado entrou em vigor: Índia, Paquistão e Coreia do Norte. A nona nação do clube é Israel, amplamente creditado como detentor de armamento atômico, mas que se recusa a confirmar ou negar a informação e ainda não conduziu testes - detonações deste tipo não conseguem ser escondidas, pois são detectáveis.

Vale destacar que a Coreia do Norte assinou o TNP, mas se retirou em 2003, realizando os primeiros testes nucleares três anos depois. Quatro outros países já possuíram bombas atômicas no passado: África do Sul, que desmontou seu arsenal antes de aderir ao tratado, Belarus, Cazaquistão e Ucrânia —as armas das três antigas repúblicas soviéticas foram repatriadas para a Rússia.

Um levantamento do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (Sipri), de 2019, estima haver 13.890 ogivas nucleares pelo mundo - sendo 3.750 ativas, ou seja, implantadas estrategicamente. Em 1986, no fim da Guerra Fria, este número chegou a 70.300.

Rússia e Estados Unidos possuem cerca de 92% dessas armas, mas têm reduzido mutuamente seus armamentos atômicos desde a dissolução da União Soviética. Por outro lado, relatórios recentes do Pentágono revelam a ampliação gradual do arsenal nuclear da China, Índia, Paquistão e Coreia do Norte. Além disso, há um forte candidato a décimo país com bomba atômica: o Irã, que nos últimos anos ameaçou sair do TNP.

Guerra nuclear?

Uma guerra nuclear seria potencialmente catastrófica não apenas para os países envolvidos, mas para o mundo em geral. Diversos riscos afastam essa possibilidade, entre eles:

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  • destruição mútua
  • perdas irreparáveis de cidades inteiras e milhões de habitantes
  • potencial inverno nuclear
  • prejuízos para o mundo todo, perdendo muito mais do que se ganharia com a guerra
  • vencer a guerra e se conquistar um território inútil, devido aos danos e à radiação

Para uma guerra atômica, a estratégia deve ser bem diferente daquela para conflitos convencionais. No primeiro ataque, seria preciso destruir ao máximo a capacidade do oponente de contra-atacar. Caso contrário, os dois lados serão alvejados e poderão se destruir mutuamente.

Muitas das armas não estão em terra, mas em submarinos nucleares cuja localização é incerta. Há temores em relação a grupos terroristas, como a Al Qaeda ou o Estado Islâmico, que poderiam fabricar uma bomba atômica rudimentar, caso tenham acesso a urânio ou plutônio enriquecido.

Conheça os detalhes dos projetos nucleares das principais nações que já possuem estes armamentos:

Estados Unidos

Militares dos Estados Unidos fotografam momento da explosão da bomba atômica em Hiroshima, no Japão, em 6 de agosto de 1945
Militares dos Estados Unidos fotografam momento da explosão da bomba atômica em Hiroshima, no Japão, em 6 de agosto de 1945 Imagem: EFE
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  • Ogivas: 5.500
  • Ogivas ativas: 1.375
  • Primeiro teste nuclear: 1945

As primeiras armas nucleares do mundo foram desenvolvidas pelos EUA, durante a Segunda Guerra Mundial, por meio do Projeto Manhattan - uma força-tarefa em resposta ao nazismo, em cooperação com o Reino Unido e o Canadá, que mobilizou cientistas, engenheiros e militares, entre 1942 e 1947. O físico Robert Oppenheimer, diretor do projeto, é considerado o "pai da bomba atômica".

A primeira delas foi detonada em 16 de julho de 1945 e menos de um mês depois os Estados Unidos dispararam duas bombas sobre as cidades de Hiroshima e Nagasaki, no Japão, em 6 e 9 de agosto, respectivamente. Nas explosões devastadoras, morreram entre 129 mil e 226 mil pessoas, a maioria civis. Até hoje, esta foi a única vez que armas nucleares foram usadas em uma batalha.

O Projeto Manhattan, na verdade, teve início em 1939, quando Franklin Roosevelt, então presidente norte-americano, recebeu uma carta assinada pelos cientistas Leo Szilard e Albert Einstein, alertando sobre um possível projeto da Alemanha nazista para construção de armas atômicas. O objetivo, então, era se antecipar à bomba alemã, acabar com a guerra e evitar próximos conflitos desta magnitude.

Mais tarde, durante a Guerra Fria com a então União Soviética, os Estados Unidos também se tornaram o primeiro país a desenvolver armas termonucleares - conhecidas como bombas de hidrogênio. Elas são mais sofisticadas e potentes que as da geração anterior, funcionando por fusão (em vez de fissão) nuclear, como acontece com a energia do Sol. O primeiro teste de um protótipo aconteceu em 1952 (Ivy Mike), no Atol Enewetak, nas remotas Ilhas Marshall.

Em 1954, os EUA fizeram sua maior detonação nuclear até hoje (Castele Bravo), no Atol Bikini - com 15 megatons, foi cerca de mil vezes mais potente que a bomba de Hiroshima. É a quinta maior explosão atômica da história, excedida apenas por quatro testes soviéticos.

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Rússia (sucessora da União Soviética)

Míssil nuclear russo na Praça Vermelha, em Mosocu, Rússia, durante o desfile militar marcando o 75º aniversário da derrota nazista na Segunda Guerra Mundial
Míssil nuclear russo na Praça Vermelha, em Mosocu, Rússia, durante o desfile militar marcando o 75º aniversário da derrota nazista na Segunda Guerra Mundial Imagem: Mikhail Svetlov/Getty Images
  • Ogivas: 6.257
  • Ogivas ativas: 1.456
  • Primeiro teste nuclear: 1949

A segunda nação a desenvolver armas nucleares foi a antiga União Soviética (URSS); o primeiro teste aconteceu em 1949, chamado RDS-1. Este projeto foi realizado, parcialmente, com informações obtidas via espionagem nos Estados Unidos, durante e após a Segunda Guerra.

O objetivo era atingir um balanço de forças durante a Guerra Fria. A URSS detonou o explosivo mais poderoso de nossa história, a Tsar Bomba - sua potência teórica é de 100 megatons, mas foi reduzida intencionalmente para 50 durante o teste. Outras bombas soviéticas, com cerca de 20 megatons, ocupam o segundo, terceiro e quarto postos da lista.

China

China, de Xi Jinping, garante que só usará bombas para reagir a ataques
China, de Xi Jinping, garante que só usará bombas para reagir a ataques Imagem: Reprodução
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Ogivas: 350
Ogivas ativas: desconhecido
Primeiro teste nuclear: 1964

A China detonou seu primeiro dispositivo de arma nuclear (batizado 596) em 1964, na área de testes Lop Nur. Foi uma resposta aos Estados Unidos e à União Soviética, que protagonizavam a Guerra Fria. Em 1967, testou sua primeira bomba de hidrogênio - foi o salto de tecnologia fissão-fusão mais curto da história.

O país é o único do TNP a garantir uma política de "não primeiro uso"; ou seja, só usará suas armas nucleares em resposta a um ataque.

Coreia do Norte

7.out.2016 - Imagem de satélite da região em torno do local do teste nuclear de Punggye-Ri, na Coreia do Norte
7.out.2016 - Imagem de satélite da região em torno do local do teste nuclear de Punggye-Ri, na Coreia do Norte Imagem: Airbus Defense & Space and 38 North via Reuters

Ogivas: 45
Ogivas ativas: 0
Primeiro teste nuclear: 2006

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A Coreia do Norte é o único país, até hoje, que assinou e posteriormente se retirou do TNP - o anúncio de saída ocorreu em janeiro de 2003, depois que os Estados Unidos a acusaram de manter, secretamente, um programa de enriquecimento de urânio. Dois anos depois, ela assumiu possuir armas atômicas funcionais - mas isso gerou dúvidas na comunidade internacional, pois não havia evidências concretas.

Em 2006, realizou a primeira detonação nuclear, pouco potente, mas que confirmou seu poderio. Em 2016, iniciou os testes com bombas de hidrogênio - também bem menores que de seus rivais, com potência estimada de 250 quilotons. Mantém um programa nuclear ativo e cada vez mais sofisticado, violando normas internacionais.

O Conselho de Segurança das Nações Unidas condena as atividades nucleares do país e impõe sanções cada vez mais severas às forças armadas e à economia norte-coreana. Em 2018, a Coreia do Norte anunciou a suspensão dos testes - um sinal para negociar um acordo de paz com os EUA, que ameaça retaliações, que por diversas vezes beiraram um confronto direto.

Em 2022, Kim Jong Un declarou uma possível retomada dos testes nucleares e de mísseis de longo alcance. "A política hostil e a ameaça militar dos Estados Unidos atingiram uma linha de perigo que não pode ser ignorada", disse o presidente. Vale lembrar que o país conta com o apoio da China e, em menor medida, da Rússia.

Bomba atômica brasileira?

De acordo com o tratado, os cinco EANs têm o direito de manter suas bombas, mas os demais países que assinaram o TNP se comprometem a nem tentar construir armas nucleares - algo considerado injusto por algumas nações, pois concentra o poder de domínio e destruição mundial nas mãos das potências. Eles podem desenvolver tecnologia nuclear apenas para usinas de eletricidade, medicamentos, aparelhos médicos e outras atividades com fins pacíficos.

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O Brasil tem tecnologia e capacidade para produção de armas nucleares, mas renunciou à sua produção e isso trouxe importantes impactos de soft power e smart power. Atualmente, temos um parque de centrífugas para enriquecer urânio e estamos produzindo um submarino com reator nuclear para movimentar os motores, garantindo autonomia de navegação por todo o extenso litoral. Ou seja: a tecnologia é destinada à propulsão do submarino, e não a um armamento.

Fonte: Vitelio Brustolin, pesquisador da Universidade Harvard e professor do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (INEST-UFF).

*Com informações da matéria publicada em fevereiro de 2022

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