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Guerra na Ucrânia: Quando Rússia e EUA podem usar armas nucleares?

O 'cogumelo' formado pela explosão de uma bomba nuclear Imagem: Reprodução/History Conflicts

Do UOL, em São Paulo

04/12/2024 05h30

O risco do uso de armas nucleares no conflito entre Rússia e Ucrânia vem tomando ainda mais corpo após Vladimir Putin alterar o estatuto nuclear da Rússia na semana passada. A regra russa agora permite disparar bombas nucleares em caso de ataque de países não nucleares, que é justamente o caso da Ucrânia.

Por outro lado, o presidente Joe Biden, principal aliado ucraniano, recebeu de oficiais americanos a sugestão de enviar bombas nucleares à Ucrânia antes de passar o cargo a Donald Trump, segundo o jornal The New York Times. A atitude, no entanto, violaria o Tratado sobre a Proibição de Armas Nucleares. Único país a já ter disparado armas nucleares, os EUA consideram suas armas uma ferramenta de dissuasão.

Entenda o que dizem as regras internas de Rússia e EUA sobre o uso de armamento nuclear.

Quais países têm armas nucleares?

Oficialmente, há cinco Estados nucleares. São eles Estados Unidos, Rússia, China, França e Reino Unido. Outros, como Índia, Paquistão e Coreia do Norte já disseram ter detonado bombas atômicas com sucesso e possuem arsenais nucleares, mas não são considerados estados nucleares pelo Tratado de Não-Proliferação Nuclear por terem realizado testes após a assinatura do documento.

Rússia é o país com maior número de armas nucleares, segundo a Federação de Cientistas Americanos. A entidade afirma que Putin tem 5.580 bombas sob seu controle, enquanto os Estados Unidos possuem 5.044. Os dois países são responsáveis por cerca de 87,6% das armas atômicas; calcula-se que há um total de 12.121 no mundo.

Ucrânia já teve armas nucleares. Enquanto fazia parte da União Soviética, a então República Socialista Soviética Ucraniana era um dos quatro países onde o Kremlin deixava suas bombas nucleares. Com a dissolução da União Soviética em 1991, a Ucrânia se tornou independente e passou a guardar o terceiro maior arsenal nuclear do mundo —embora ainda controlado pela Rússia. Em 1994, a Ucrânia entregou as bombas ao governo russo para se tornar membro do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares.

Israel não assume, mas é estimado que possua cerca de 90 bombas nucleares. O Estado desenvolve tecnologia nuclear desde 1958, mas mantém uma política ambígua sobre seu programa nuclear. A Associação de Controle de Armas aponta que "acredita-se universalmente que Israel possui armas nucleares armazenadas num estado parcialmente desmontado, embora não esteja claro exatamente quantas".

Programa Nuclear dos Estados Unidos só pode ser ativado com permissão de presidente

O presidente dos EUA, Joe Biden, discursa à nação no Rose Garden da Casa Branca em Washington, DC, em 7 de novembro de 2024, após Donald Trump vencer a eleição presidencial Imagem: SAUL LOEB/AFP

EUA mantém armas nucleares como ferramenta estratégica. No Livro de Assuntos Nucleares, revisado em 2020, os EUA apontam que seu arsenal serve principalmente para "dissuasão nuclear". A intenção, segundo o Departamento de Defesa do país, é "complicar a tomada de decisões do adversário e refletir uma abordagem sensata e estabilizadora para dissuadir uma série de ataques em um ambiente de segurança dinâmico".

Postura nuclear do país busca "equilíbrio". Os EUA dizem buscar manter "um sistema de dissuasão nuclear seguro, protegido e eficaz", tomando as medidas necessárias para "reduzir o risco de guerra nuclear e a importância das armas nucleares mundialmente".

EUA tem política de não ameaçar uso de bombas atômicas contra países não nucleares. "Os Estados Unidos continuam a aderir a uma garantia de segurança negativa de que não usarão ou ameaçarão usar armas nucleares contra estados não detentores de armas nucleares, signatários do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares que estejam em conformidade com suas obrigações de não proliferação nuclear", diz a Política Declaratória Nuclear dos EUA.

Enquanto as armas nucleares existirem, o papel fundamental das armas nucleares dos EUA é impedir ataques nucleares aos Estados Unidos, nossos aliados e parceiros. Os EUA só considerariam o uso de armas nucleares em circunstâncias extremas para defender os interesses vitais dos Estados Unidos ou de seus aliados e parceiros. Política Declaratória Nuclear dos Estados Unidos

EUA são único país que já usou a bomba nuclear em combate. Aconteceu em 1945, nos ataques contra as cidades de Hiroshima e Nagasaki, no Japão, que mataram entre 150 e 246 mil pessoas, com extensa maioria civil.

Rússia mudou estatuto durante Guerra da Ucrânia

Presidente da Rússia, Vladmir Putin, discursa em reunião do Brics Imagem: Alexander NEMENOV / POOL / AFP

Rússia sempre prometeu retaliação nuclear. Desde sua primeira publicação, em 2000, o documento que estabelece a política nuclear russa aponta o uso de armas nucleares caso agressões com armas comuns contra a Rússia representem uma ameaça "à própria existência do Estado". Apenas o presidente russo está autorizado a realizar os disparos.

Mudança de estatuto é ameaça contra OTAN e Ucrânia. Agora, a Rússia se deu o direito de usar armas nucleares em resposta à agressão de um Estado, mesmo que este país não possua armas nucleares próprias. Se o agressor for apoiado por uma potência nuclear, como a Ucrânia, isso é considerado suficiente. Em tais casos, mesmo um ataque convencional à Rússia seria considerado um ataque conjunto e poderia desencadear uma resposta nuclear.

Federação Russa considera posição como "defensiva". A política "visa manter o potencial das forças nucleares ao nível suficiente para a dissuasão nuclear e garante a proteção da soberania nacional e da integridade territorial do Estado, além da dissuasão de um potencial adversário de agressão contra a Federação Russa e/ou seus aliados".

A dissuasão nuclear é assegurada pela presença nas Forças Armadas da Federação da Rússia de forças e meios prontos para o combate, capazes de infligir danos inaceitáveis garantidos a um adversário potencial através do emprego de armas nucleares em quaisquer circunstâncias, bem como pela prontidão e determinação da Federação da Rússia em utilizar essas armas. Trecho do documento Princípios Básicos da Política Estatal da Federação Russa sobre Dissuasão Nuclear

Rússia criou a ogiva mais poderosa de que se tem registro. Em 1962, foi testada a Tsar Bomba, cuja explosão é a maior causada pelo homem de que se tem notícia. Ela pesava 27 toneladas e causou explosão de 50 megatons — 1.570 vezes mais potente que as bombas lançadas em Hiroshima e Nagasaki combinadas.

Também envolvida na guerra, Coreia do Norte tem arsenal reduzido

Líder da Coreia do Norte Kim Jong Un (E) visitando uma base de mísseis estratégicos em um local não revelado Imagem: STR/AFP

Assembleia Suprema do Povo (congresso norte-coreano) alterou regra em 2022. Antes, o país previa uso de armas nucleares somente em casos de ataques diretos. Mas a política se tornou mais agressiva em 2022, adotando o disparo imediato: bombas nucleares serão lançadas automaticamente em caso de ataque contra a alta liderança ou o sistema de controle nuclear da Coreia do Norte.

Estima-se que Kim Jong Un tenha 50 ogivas à sua disposição. O país realiza testes militares com frequência, mas realizou apenas seis testes com armamento nucleares em sua história. O último deles foi em 2016, com uma ogiva montada em um foguete convencional.

Tropas norte-coreanas estão na Rússia. Cerca de 10 mil soldados norte-coreanos estão estacionados na região de Kursk, na Ucrânia, segundo o Pentágono. Em entrevista coletiva, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky chegou a dizer que poderiam ser enviadas até 100 mil tropas por Kim Jong Un, o que não foi confirmado.

China é terceira maior potência nuclear

18.nov.2024 - Presidente da China, Xi Jinping participa da Cúpula de Líderes do G20 no Rio de Janeiro Imagem: Ludovic MARIN / AFP

"Tigre de papel". As primeiras bombas nucleares da China foram desenvolvidas a partir de 1964. A função era de serem "tigres de papel" —algo aparentemente assustador, mas na realidade inofensivo, pois a China não tinha interesse de usar as ogivas em combate. No mundo de hoje, se não quisermos ser intimidados pelos outros, devemos ter armas atômicas por todos os meios", explicou Mao Tsé-Tung na época.

Governo chinês possui cerca de 500 bombas nucleares, o terceiro maior arsenal do mundo. A política nuclear chinesa se baseia em nunca ser a primeira a disparar, mas ter a capacidade de responder nuclearmente. Um estudo do Boletim de Cientistas Atômicos aponta que, em tempos de paz, as forças armadas do país não deixam as ogivas próximas aos lançadores.

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