Deputados franceses debatem e realizam voto simbólico sobre o acordo de livre comércio UE-Mercosul
A oposição do governo e dos agricultores franceses ao acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul ganha um novo capítulo nesta terça-feira (26). A Assembleia dos Deputados da França debate nesta tarde o texto do tratado negociado há mais de 20 anos e defendido pela Comissão Europeia.
"Mercosul: por que a França diz não" é a manchete do jornal Libération, que traça um panorama dos pontos positivos e negativos do compromisso no centro da crise agrícola. Para o diário, não há dúvidas de que a pecuária francesa é a grande perdedora do acordo. Se aprovado, ele permitirá a entrada de 99 mil toneladas de carne, contra quem os criadores de gado da França "não terão nenhuma chance de concorrer", diz.
Libé explica que a produção de carne na França está em declínio há vários anos, devido ao aumento nos preços resultantes das diversas normas europeias e aos hábitos alimentares da população, que consome cada vez menos produtos de origem animal. Do outro lado do Atlântico, o Brasil e a Argentina - isentos das rígidas regras antiagrotóxicos que encarecem a produção francesa - estão no topo do ranking da criação intensiva a baixo custo.
No entanto, o jornal destaca que o tratado trará uma inesperada turbinada ao setor automotivo. O texto prevê a supressão das taxas aduaneiras para todos os veículos europeus novos que entrarem na América do Sul. A previsão é que as exportações de carros registre um aumento entre 95% a 114%. No entanto, ela beneficiará principalmente a Alemanha cujas construtoras BMW, Mercedes e principalmente a Volkswagen, tiveram um aumento nas vendas de mais de 11% no ano passado, apenas no Brasil.
Rara concordância na classe política francesa
"A Assembleia de Deputados é majoritariamente contra o tratado de livre comércio com o Mercosul", diz o jornal Le Figaro no título de uma matéria. Segundo o diário, em uma rara situação, toda a classe política francesa parece concordar sobre uma questão: a oposição ao acordo. Liderados pelo primeiro-ministro Michel Barnier, os parlamentares debaterão e realizarão um voto simbólico nesta tarde sobre o texto do compromisso.
Le Figaro salienta que o resultado da sessão não terá nenhuma incidência direta na aprovação do acordo. Por outro lado, a iniciativa tem o poder de enviar "um sinal forte" à Comissão Europeia sobre o posicionamento da França. A matéria lembra que o país não é o único a protestar contra o tratado, que também é contestado na Bélgica, na Holanda, na Áustria, na Polônia e na Itália.
"Agricultura: a realidade diante da crise" é a manchete do jornal La Croix, que foi até a região de Drôme, no sudeste da França, acompanhar o cotidiano de um agricultor. O setor reforça nesta terça-feira sua mobilização em diversos pontos do país para denunciar a concorrência considerada desleal da possível entrada massiva de produtos sul-americanos no bloco europeu, caso o acordo entre a União Europeia e o Mercosul seja aprovado.
Entrevistado pelo diário, o agricultor francês Pierre Alban é um dos que estará nas ruas hoje protestando. Além do texto do compromisso, ele também reclama da baixa remuneração e denuncia as dificuldades que sua fazenda enfrenta. Uma situação que, segundo La Croix, resulta na falta de renovação do setor na França. "Daqui a dez anos, um terço dos agricultores do país atingirão a idade mínima para a aposentadoria", afirma o jornal.
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