Por que apenas 9% dos plásticos no mundo são reciclados?

Na segunda-feira (25) começaram em Busan, na Coreia do Sul, negociações com vista à adoção de um tratado internacional contra a poluição por plásticos. Os meios a serem implementados pelos países estão longe de ser unanimidade, mas a constatação de que o problema é urgente é compartilhado pelas nações presentes na reunião. O mundo produz 460 milhões de toneladas de plástico todos os anos, um número que deve mais do que duplicar até 2050, a grande maioria deles não é reciclada.

De cada 100 quilos de produtos plásticos, 79 acabarão na natureza, 12 serão incinerados e apenas 9 reciclados. "Reciclado" é na verdade uma palavra pretensiosa, porque, na grande maioria dos casos, as técnicas utilizadas levam à perda de valor do produto. Uma vez processada, uma garrafa plástica de água não dará origem a outra garrafa, mas será utilizada para obter fibras de poliéster de qualidade inferior, que serão usadas na indústria têxtil.

Além desta degradação, a reciclagem do plástico é um processo muito complicado. Existem milhares de plásticos diferentes, com técnicas de processamento específicas para cada um. Isto tem consequências particularmente graves na fase de triagem de resíduos. Uma garrafa de água é geralmente feita de PET, um dos plásticos mais comuns. Porém, ela não pode ser reciclada junto com outra feita do mesmo material, mas de cor verde, já que os processos são diferentes.

Ultrapassar a cifra de 9%

Além da difícil classificação, as técnicas utilizadas para o processamento são complexas, porque muitos plásticos contêm aditivos químicos, que permitem obter produtos mais ou menos impermeáveis, flexíveis ou coloridos. Estes aditivos podem, no entanto, ser prejudiciais à saúde, sobretudo a dos trabalhadores que realizam o tratamento, tornando a operação ainda mais complicada e às vezes até impossível.

Finalmente, muitos plásticos estão contaminados por materiais diversos que vão desde películas aderentes cobertas de molho de tomate até embalagens nas quais a cola do rótulo não quer sair. Estas contaminações podem impedir a reciclagem de lotes inteiros que acabam no incinerador.

Apesar destas dificuldades, existe um consenso mundial para ir além dos 9% de reciclagem de plástico realizada atualmente. Esta ambição, no entanto, enfrenta dificuldades. Em primeiro lugar, existem as questões financeiras para generalizar a reciclagem a todo o mundo, que envolveria a criação de canais de coleta, classificação e processamento.

Existem outros mecanismos que estão nas mãos dos produtores. Os processos de tratamento podem ser simplificados através da harmonização e padronização dos plásticos que saem das fábricas, por exemplo. A utilização de aditivos químicos pode ser limitada e as empresas podem ser transparentes quanto ao seu uso, que muitas vezes é mantido em segredo.

Um problema nas negociações de Busan

Estas medidas estão sendo discutidas por representantes de quase 180 países na Coreia do Sul para finalizar o tratado que limita a poluição por plásticos. A questão é ainda mais importante para os países produtores de petróleo, que veem este material como uma saída cada vez mais central para os hidrocarbonetos que produzem. Estas nações se opõem a qualquer redução na produção para lidar com a poluição cada vez maior e defendem a reciclagem como a solução para todos os problemas.

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Para enfrentar os países produtores de petróleo, as outras nações formaram a coligação "alta ambição", que defende que, dado os baixos índices de reciclagem e o fato de uma meta de 100% não ser realista, é necessário limitar a produção.

O objetivo apresentado por alguns países é reduzir a produção de plásticos em 40% até 2040 em comparação com o nível de 2025. No entanto, as negociações avançam lentamente, e o final da reunião de Busan pode ser complicado.

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