França atravessa turbulência política e financeira que faz juros da dívida pública disparar

Além da mobilização de agricultores contra a assinatura do acordo de livre comércio entre a União Europeia (UE) e o Mercosul, a França atravessa dias de ebulição política para definir o orçamento de 2025, que traz medidas para reduzir o déficit público de 6,2% do PIB e a dívida do país, que alcançou cerca de € 3,2 trilhões em novembro, algo em torno de R$ 18,8 trilhões. A imprensa francesa analisa os próximos passos de uma crise que poderá ser fatal para o governo.

Segundo o diário econômico Les Echos, o estado de deterioração das contas públicas na França chegou a um nível tão dramático que investidores têm preferido comprar títulos da dívida pública da Grécia ao invés dos franceses. Esta situação exaspera economistas e parte da população.

Muitos temem um agravamento da conjuntura com a instalação de uma grave crise financeira na segunda maior economia da União Europeia. Os juros pagos pelo país para financiar sua dívida nos mercados alcançaram quase € 54 bilhões em um ano, cerca de R$ 340 bilhões, e se continuarem nesta trajetória, passarão a ser o primeiro item de despesas do orçamento, superior aos gastos com defesa, saúde e educação.  

Entretanto, para a oposição de esquerda e de extrema direita, a votação do orçamento tornou-se "o momento" ideal para pressionar o primeiro-ministro de direita Michel Barnier, que apresentou propostas consideradas "injustas" para sanear as contas, prejudiciais aos trabalhadores e aposentados.

As quatro peças orçamentárias em tramitação na Assembleia e no Senado preveem aumento de impostos, redução de isenções fiscais e cortes nos gastos públicos, mas de forma desequilibrada, segundo seus detratores. As bancadas de esquerda e de extrema direita já deram sinais de que poderão se unir nos próximos dias para aprovar uma moção de censura ao governo na Assembleia e derrubar Barnier. 

"Incendiários"

Em seu editorial nesta quinta-feira (28), intitulado "Os incendiários", o jornal Le Figaro diz que, nas últimas horas, o preço que a França precisou pagar para contrair empréstimos nos mercados saltou para o seu nível mais elevado em 12 anos, em comparação com a Alemanha.

"O máximo da humilhação é que este custo é tão alto, se não for superior ao da Grécia, que afundou na crise do euro", em 2008-2009, escreve o diário. "Não é preciso ser um vencedor do Prêmio Nobel de Economia para compreender a situação: os credores internacionais aplicam um prêmio de risco à incerteza e à irresponsabilidade, que abominam", afirma o editorial, destacando que os juros da dívida aumentam na mesma espiral "incendiária" que as ameaças da oposição.

Para complicar o cenário, a esquerda radical, apoiada pela extrema direita, tenta nesta quinta-feira revogar a criticada reforma que elevou a idade mínima de aposentadoria para 64 anos, no ano passado. O texto, apresentado pelo partido de equerda radical França Insubmissa (LFI), prevê reduzir a idade legal para 62 anos.

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O projeto de lei, aprovado sem incidentes na semana passada em uma comissão parlamentar, também revoga medidas adotadas por uma reforma previdenciária anterior, de 2013. A França Insubmissa utiliza uma janela parlamentar de 24 horas, que é concedida uma vez por ano para cada força política da Assembleia encaminhar textos de sua escolha. 

O resultado dessa votação só será conhecido no final do dia. Os partidos da base governista depositaram centenas de emendas para atravancar o debate e impedir a votação, que obrigatoriamente precisa estar concluída à meia-noite, de acordo com o regulamento da casa.

O Le Figaro condena "essa estranha aliança" entre a esquerda radical e a extrema direita, que estão dispostos a derrubar o governo e criar instabilidade às finanças do país. 

Pesquisa aponta que franceses não excluem renúncia de Macron

O Le Monde publica os recentes resultados de uma pesquisa da empresa de consultoria Elabe. "A ampla maioria dos franceses acredita que o presidente da República deveria se demitir, caso o governo venha a ser censurado", nota Bernard Sananès, presidente do instituto de pesquisa.

Um pouco mais da metade dos entrevistados considera Emmanuel Macron responsável pela atual situação política, criada com a dissolução da Assembleia Nacional, em junho, e o rombo no déficit público. "Para os franceses, presidente e primeiro-ministro estão no mesmo barco", revelou esta sondagem.

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