"Não é só meu cargo que está em risco", diz premiê da França antes da votação de uma moção de censura

A poucas horas de um voto que deve derrubar o atual governo, a imprensa francesa desta quarta-feira (4) analisa o impacto da provável destituição do primeiro-ministro, Michel Barnier, para o presidente Emmanuel Macron. Em uma manobra rara, a esquerda e a extrema direita prometem se aliar para votar moção de censura que levará à queda do premiê francês e de seus ministros. 

Para o Libération, seis meses depois da dissolução da Assembleia Nacional, a posição do presidente francês nunca foi tão frágil. "Ainda que ele finja não ter sido afetado, Macron está na linha de frente, mais impopular do que nunca", escreve o jornal.

O presidente francês decretou em junho passado a dissolução da Assembleia Nacional para evitar uma moção de censura ao governo precedente, de Gabriel Attal, e agora deve encontrar um sucessor para Michel Barnier, em pleno voto do orçamento para 2025. Para o diário, a escolha do novo primeiro-ministro deve ser rápida.

"Será que para sua reinauguração, Notre-Dame de Paris reconstruída terá um governo desconstruído?", ironiza o jornal Le Figaro, que diz que com a provável queda de Barnier, a pressão se volta contra Macron.

A reinauguração da catedral acontece no próximo sábado (7) e tem prevista a presença do chefe de governo e de seus ministros. A aposta bem-sucedida de reconstruir Notre-Dame, cinco anos após o incêndio que devastou o monumento, seria arruinada por "cinzas políticas", diz o jornal. A reportagem cita possíveis sucessores do primeiro-ministro, da direita e do centro, lembrando que o debate sobre uma eventual demissão de Macron "ganha força" a cada dia, o que coloca o presidente ainda mais sob pressão.

Esquerda e extrema direita juntas

A Assembleia Nacional começará a examinar a partir das 16 horas locais (meio-dia em Brasília) a possível saída de Michel Barnier, nomeado para o cargo em 5 de setembro. Duas moções de censura foram apresentadas na segunda-feira (2), na sequência da decisão do primeiro-ministro de recorrer ao artigo 49.3 da Constituição, uma cláusula especial da Constituição francesa, para que o projeto de lei de financiamento da Seguridade Social fosse adotado sem votação dos deputados.

Para Le Monde, os chefes de Estado e de governo da França ainda se recusam a acreditar na moção de censura. Prova disso foi a combatividade do primeiro-ministro durante a entrevista aos canais de tevê TF1 e France 2, na noite de terça-feira (3), quando Barnier fez novamente um apelo "à responsabilidade dos deputados". Ele disse esperar que "os interesses maiores do país" prevaleçam.  

"Não é só o meu cargo que está em risco", observou Barnier. "Isto vai muito além da minha condição", acrescentou o chefe do Governo destacando a situação orçamentária difícil do país, com um déficit previsto de 6,1% do PIB em 2024. 

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Barnier dramatizou a questão, repetindo que a moção de censura tornaria "tudo mais difícil e mais sério". De acordo com o primeiro-ministro que está há poucos meses no cargo, os sinais são de alerta nos níveis orçamentário, financeiro, econômico e social. 

Já Macron, em visita à Arábia Saudita, buscou relativizar a situação e disse a jornalistas que "confiava na coerência das pessoas". De Riad, onde faz uma visita de Estado, o presidente disse "não acreditar no voto de censura", apontando um "cinismo insuportável" do partido Reunião Nacional (RN), de extrema direita, que anuncia se juntar com a esquerda na votação.

Esta manhã, o presidente do RN, Jordan Bardella, declarou abertamente a sua intenção de votar a favor da moção de censura, seja qual for o partido político por trás dela.

De acordo com jornal Le Parisien, apenas uma reviravolta pouco provável faria com que a extrema direita não votasse a favor da moção de censura ao governo.

O RN e a coligação de esquerda Nova Frente Popular (NFP) apresentaram as suas respectivas moções de censura. A primeira a ser analisada será da NFP.

"Sim, votarei a favor desta moção de censura", confirmou Boris Vallaud, presidente da bancada socialista na Assembleia Nacional.

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A esquerda e a extrema direita combinadas tem votos suficientes para derrubar o governo.

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