Haiti: chefe de gangue acusa idosos de prática de vodu e ordena massacre que matou quase 200 pessoas

Um novo massacre ocorreu no Haiti, o segundo em um espaço de dois meses. Na segunda-feira (9), o governo haitiano condenou o "massacre desprezível" do fim de semana no distrito de Cité Soleil, nos arredores da capital Porto Príncipe, onde pelo menos 184 morreram, de acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos. Vingança contra idosos estaria na origem do ataque. 

"O Governo da República condena nos termos mais fortes possíveis o massacre desprezível perpetrado em 6 e 7 de dezembro de 2024", escreveu o gabinete do primeiro-ministro haitiano em um comunicado à imprensa. "Esse ato bárbaro de crueldade insuportável custou a vida de mais de cem homens e mulheres, principalmente idosos indefesos", continuou, descrevendo o episódio como um "ataque direto à humanidade e à ordem republicana".

O secretário-Geral da ONU também condenou "veementemente" o ataque e pediu que os responsáveis sejam punidos. Antonio Guterres "pede às autoridades haitianas que conduzam uma investigação minuciosa e garantam que os autores dessas e de outras violações dos direitos humanos sejam levados à justiça", disse Stéphane Dujarric, transmitindo as condolências do secretário-geral às famílias das vítimas desses "atos horríveis".

O massacre, que custou a vida de 184 pessoas, ocorreu em Cité Soleil, um distrito carente frequentemente apresentando como sendo a maior favela do Haiti. Com uma população de cerca de 300 mil pessoas, a área está sob o controle da coalizão "Viv Ansanm" (Vivendo Juntos). E foi o autoproclamado líder de um desses grupos armados, Monel Felix, que ordenou esse massacre de violência sem precedentes.

"Maldição"

De acordo com fontes da ONG haitiana de defesa e proteção dos direitos humanos CPD, o filho de Monel Felix adoeceu. O líder não suportou a situação e culpou os idosos de Cité Soleil e praticantes do culto vodu.

"Ele decidiu punir cruelmente todos os idosos e praticantes de vodu que, em sua imaginação, eram capazes de lançar uma maldição sobre seu filho", explicou a organização com sede no Haiti em um comunicado à imprensa. 

A operação começou em um salão comunitário onde os aposentados jogam cartas e dominó todas as tardes. As gangues invadiram o local e forçaram todos a irem para a casa de Monel Felix, onde as execuções começaram após o anoitecer. Elas continuaram por vários dias. O saldo de mortos pode aumentar ainda mais, pois, de acordo com informações da CPD, 80 pessoas ainda estão presas no local. 

"Esses últimos assassinatos elevam o número de mortos no Haiti este ano para impressionantes 5 mil", disse Volker Türk, o Alto Comissário da ONU para Direitos Humanos.

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Durante décadas, o Haiti sofreu com a instabilidade política crônica e uma crise de segurança ligada à presença de gangues armadas acusadas de assassinatos, sequestros e violência sexual generalizados. Mas a violência das gangues, já endêmica nesse país caribenho, piorou desde fevereiro, quando grupos armados lançaram ataques coordenados em Porto Príncipe para derrubar o então primeiro-ministro, Ariel Henry. 

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