Novo governo francês é time reciclado de políticos experientes sem garantias de durabilidade
Os franceses foram "presenteados" às vésperas do Natal com a nomeação de um novo governo, liderado pelo primeiro-ministro centrista François Bayrou. O gabinete, composto por 35 ministros e secretários de Estado, conta com dois ex-premiês de esquerda, Manuel Valls e Élisabeth Borne, que depois de terem chefiado o poder Executivo para os presidentes François Hollande e Emmanuel Macron são considerados de direita pelas decisões tomadas à frente do país.
O Partido Socialista considerou as nomeações uma "provocação" e qualificou o elenco como de "direita extrema". Já o partido de extrema direita de Marine Le Pen vê o gabinete de Bayrou como "mais do mesmo".
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A volta de Gérald Darmanin, poderoso ex-ministro do Interior agora titular da pasta da Justiça, é criticada por associações feministas por ele já ter sido investigado por pedir "favores sexuais" de mulheres em troca de acesso a programas sociais de habitação. As denúncias foram arquivadas.
Para o jornal Le Monde, o novo governo tem ares de "déjà-vu", aquela sensação de já ter visto ou vivido situação semelhante. As promessas de abertura à esquerda não se concretizaram. O primeiro-ministro nomeou personalidades experientes, a maioria deputados que já atuavam na antiga maioria presidencial. Mas é uma base tão restrita quanto a de seu antecessor, Michel Barnier, o que significa que o novo governo também poderá ser derrubado pela oposição na Assembleia Nacional.
O novo ministro da Economia, Finanças, Soberania Industrial e Assuntos Digitais, Eric Lombard, que ocupava a presidência da Caixa de Depósitos e Consignações (CDC), um banco público francês com funções semelhantes à da Caixa Econômica Federal no Brasil, pode ser considerado "de esquerda", segundo Bayrou.
"Bompard acredita que possui uma estratégia para aprovar um orçamento para 2025 associando redução do déficit público e estímulo ao crescimento econômico", destaca o Le Monde. "Embora o novo ministro da Economia seja herdeiro de uma família de ricos industriais, Lombard não se define como 'liberal' e defende um 'capitalismo mais responsável'", acrescenta o jornal.
Na avaliação do Libération, o novo ministério formado por personalidades experientes foi a forma que Bayrou encontrou para ter peso em suas decisões diante de Macron, que extrapola a função presidencial e tenta ter controle sobre as ações do Executivo.
Em seu editorial, o Le Figaro diz que muita gente vê a equipe de Bayrou como um time reciclado. Mas uma vez que a França não tem orçamento nem perspectivas eleitorais antes de setembro de 2025, "a melhor resolução a tomar é se limitar às emergências vitais". A lista de prioridades traçada pelo Le Figaro inclui: "privilegiar a poupança em vez de aumentar os impostos; dar carta branca ao ministro do Interior para conter a pressão migratória e reduzir a delinquência que assola o cotidiano dos franceses".