Pesquisa revela que 62% dos franceses defendem 'direito à blasfêmia' nos 10 anos do atentado ao Charlie Hebdo

Setenta e seis por cento dos franceses consideram a liberdade de expressão como um direito fundamental, incluindo a liberdade de desenhar caricaturas relacionadas com todas as religiões, segundo uma pesquisa Ifop realizada para a Fundação Jean-Jaurès e publicada neste 7 de janeiro, data em que a França recorda os 10 anos do atentado terrorista contra o jornal satírico Charlie Hebdo. A mesma pesquisa  aponta que 62% dos franceses defendem o direito à blasfêmia, incluindo desenhos que mexam com dogmas de todas as religiões.

 

No caso dos atentados terroristas contra o Charlie Hebdo, foi uma caricatura do profeta Maomé que atiçou a ira dos jihadistas. Dez anos depois, o jornal satírico chegou às bancas com uma edição especial de 32 páginas. Na capa, um homem aparece sentado, sorridente, folheando o número histórico, sentado em cima de um fuzil sob a manchete "Indestrutível". 

Em editorial, o diretor da publicação, Riss, um dos sobreviventes do ataque, escreve que 10 anos depois, "Charlie Hebdo continua vivo", assim como as causas do drama que atingiu ao jornal satírico e a determinação dos atuais integrantes da redação.

O que nos confortou durante esses dez anos foram as pessoas que encontramos, na França ou no exterior, que nos disseram: "Que bom que vocês estão aqui", e nós respondemos: "Que bom que vocês também estão aqui", diz o editorial.

Concurso de desenhos para "Rir de Deus": desenho brasileiro é selecionado

Dentro da edição histórica, o jornal satírico publica uma seleção de ilustrações de diversos autores do mundo inteiro com o tema "Para rir de Deus", um concurso lançado pela icônica redação especialmente para o número deste 7 de janeiro de 2025.

Entre os trabalhos escolhidos, figura o de um brasileiro, que assina pelo nome de "Rodrigo". O desenho mostra a "santa tríade" - Pai, Filho e Espírito Santo - tapando respectivamente os olhos, ouvidos e a boca, numa referência irônica ao silenciamento causado pela religião.

Outros grandes jornais franceses dedicam extensa cobertura sobre o assunto. Libération dedica uma edição especial, para lembrar do atentado e de suas consequências. O diário lembrou todos os nomes das 12 vítimas do ataque na sede do Charlie Hebdo, mas também da policial morta no dia seguinte em Montrouge, e das vítimas do hipermercado judaico em uma cidade no leste de Paris "para que seus nomes nunca sejam esquecidos", diz o editorial.

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Le Monde reconstitui em detalhes o ataque que dizimou parte da redação do Charlie Hebdo, mas também traz uma reportagem para falar das consequências diretas da série de ataques que se seguiram na França, para os serviços de informação e segurança. Novas leis foram criadas para permitir que os serviços recorreram a técnicas de acesso à informação como escutas telefônicas e de comunicação eletrônica. O arsenal policial e jurídico foi extremamente reforçado contra o terrorismo, constata o diário francês.

Le Figaro afirma em manchete que a França continua sob ameaça do terrorismo islâmico e se pergunta se 10 anos depois, os franceses ainda se sentem "Charlie", em referência à expressão "Eu sou Charlie", criada à época em solidariedade ao jornal. A constatação é de que se muitos deles defendem a liberdade de expressão, parte dos jovens se distancia da imagem do jornal satírico, pois 31% dos jovens, entre 18 e 24 anos, afirmam que Charlie Hebdo não deveria publicar caricaturas do profeta Maomé, lembra o diário.

Le Figaro também lembra que a saúde financeira do jornal, que tem uma tiragem de 50 mil exemplares toda semana, é robusta e reforçada pelas doações recebidas desde a época do atentado, e .

Ameaça nunca esteve tão presente na França, diz ministro

Segundo o ministro do Interior, Bruno Retailleau, a ameaça terrorista continua elevada na França, principalmente depois dos atentados recentes na Alemanha e em Nova Orleans. Ele ordenou às direções da polícia em todo o país o reforço da segurança nos grandes eventos públicos de 2025. Em entrevista ao jornal Le Parisien, o ministro afirma temer novos ataques neste ano, devido à libertação prevista de cerca de 60 jihadistas de prisões francesas. 

Retailleau citou nove atentados de terroristas islâmicos evitados na França no ano passado, sendo três durante os Jogos Olímpicos. Segundo o ministro do Interior, "a França pode ser atacada a qualquer momento".

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