'Por meio da violência de suas ideias': jornal lembra como Le Pen evocava temas da extrema direita na França
Centenas de pessoas celebram na França a morte do ex-líder da extrema direita Jean-Marie Le Pen, enquanto sua filha, Marine Le Pen, líder do partido de extrema direita Reunião Nacional, o RN, teria recebido a notícia com lágrimas, segundo testemunhas em relatos ao jornal Le Parisien. Nesta quarta-feira (8), a imprensa francesa traz ângulos diversos da morte do criticado fundador da Frente Nacional, percursor do RN, anunciada na terça-feira pouco depois do meio-dia.
Segundo informações da polícia divulgadas nesta quarta-feira, três pessoas foram detidas em Paris na manifestação que teve a presença de 650 pessoas na Praça da República, no centro da capital. Outros sete opositores foram detidos pela polícia na cidade de Lyon, durante o ato que também contou com centenas de pessoas. Tanto em Lyon quanto em Paris, os participantes entoaram slogans antifascistas em cartazes e soltaram fogos de artifício.
O ministro do Interior, Bruno Retailleau, criticou as manifestações populares de comemoração ao falecimento de Le Pen e escreveu no X que "nada justifica" celebrar uma morte "mesmo de um adversário político" e qualificou os festejos como "vergonhosos".
O atual primeiro-ministro da França, François Bayrou, que se referiu a Jean-Marie Le Pen como foi uma figura da vida pública francesa e um "combatente", foi acusado de minimizar os muitos escândalos que marcaram a carreira política do ex-líder da extrema direita francesa. Já que Jean-Marie Le Pen teve cerca de 20 condenações por negar crimes contra a humanidade e incitar o ódio racial.
Crimes que foram relembrados pelo jornal católico La Croix, nesta quarta-feira. A edição aponta que Jean-Marie Le Pen se dizia católico, mas tinha um relacionamento difícil com a Igreja, cujos bispos, "se opuseram por muito tempo ao seu partido, identificado como promotor da rejeição aos outros".
O editoral relembra as polêmicas de Le Pen em sua vida política, que, segundo o texto, trazia os temas da extrema direita para o primeiro plano da sociedade francesa "por meio da violência de suas ideias e de suas palavras, condenadas em várias ocasiões". Como, por exemplo, quando foi declarado culpado por um tribunal de Paris por contestar crimes contra a humanidade, ao dizer que as câmaras de gás, nas quais milhões de judeus foram executados durante a Segunda Guerra Mundial, foram um "detalhe" da história.
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Pronunciamento de Marine Le Pen
A filha caçula de Jean-Marie, Marine Le Pen, de 56 anos, não se pronunciou imediatamente após a divulgação da morte e somente prestou homenagem ao pai nesta quarta-feira quando escreveu na rede X que pessoas que o amavam, hoje choram sua morte. "Muitas pessoas que ele ama estão esperando por ele lá em cima. Muitas pessoas que o amam estão de luto por ele aqui embaixo", declarou.
Un âge vénérable avait pris le guerrier mais nous avait rendu notre père. La mort est venue nous le reprendre.
? Marine Le Pen (@MLP_officiel) January 8, 2025
Beaucoup de gens qu'il aime l'attendent là-haut. Beaucoup de gens qui l'aiment le pleurent ici-bas.
Bon vent, bonne mer Papa !
O Le Parisien recordou que em meados de novembro, o nonagenário já havia sido hospitalizado em estado crítico no oeste de Paris, depois foi transferido várias vezes antes de ir para uma unidade de cuidados paliativos perto de onde moram suas filhas e sua ex-esposa Pierrette, nos arredores da capital.
O jornal descreveu como a filha mais nova, herdeira de seu legado de extrema direita na França, recebeu a notícia. Segundo fontes do diário, Marine Le Pen soube da morte do pai por jornalistas que haviam sido alertados pela reportagem da AFP, durante uma escala técnica em Nairóbi (Quênia) no avião da companhia Air Austral que a levava de volta de uma viagem a Mayotte, território francês no Oceano Pacífico, recentemente devastado por um ciclone em meados de dezembro. Le Pen teria reagido "com lágrimas nos olhos, em silêncio".
De acordo com uma reportagem do Le Monde, inclusive, a filha mais nova de Le Pen parece seguir os passos do pai. Como mostra uma reportagem que trata sobre as consequências que a França enfrenta a respeito do arquipélago francês de Mayotte. Marine Le Pen culpa imigrantes pelos problemas de "ocupação" em Mayotte, e, em visita ao local, a "política de extrema direita manteve sua posição de salvadora, sem oferecer soluções", critica a edição.
Outros lados da política sobre Le Pen
Do lado oposto da esfera política francesa, a líder dos deputados do partido de esquerda radical, a França Insubmissa, Mathilde Panot, defendeu na quarta-feira o "espírito Charlie" nas manifestações que comemoraram a morte de Jean-Marie Le Pen, se referindo ao atentado ao jornal satírico Charlie Hebdo, que completou dez anos esta semana. Enquanto Jérôme Guedj, socialista, considerou "inútil se alegrar com a morte de um homem, seja ele quem for".
"Aqueles que estão chocados com o que aconteceu ontem [terça], os jovens que continuam a 'irritar a Frente Nacional', estão no espírito Charlie pela manhã e depois, à noite, estão chocados com o fato de as pessoas poderem fazer uma piada ou realizar um comício simbólico sobre a morte de um líder de extrema direita" que era um 'inimigo da República', disse Mathilde Panot na rádio francesa RTL.
?? Maréchal, le voilà. Jean-Marie Le Pen est mort à 96 ans.
? Libération (@libe) January 7, 2025
C'est la une de Libé ce mercredi. pic.twitter.com/3HKaNhSyh1
Segundo o jornal de esquerda, Libération, Le Pen "conseguiu unir uma extrema direita fragmentada nos anos 1960 e 1970" e, fez isso "usando táticas provocativas para colocar suas batalhas racistas e identitárias no centro do debate político".
A edição data também a morte política de Le Pen em 2015, quando foi expulso do partido que ele mesmo havia fundado em 1972, por sua própria filha, Marine Le Pen, atual líder da extrema direita na França.
O funeral de Jean-Marie Le Pen será realizado no sábado em sua cidade natal, La Trinité-sur-Mer, no oeste da França.
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