Maduro deve tomar posse na Venezuela em meio à tensão e a protestos da oposição
Nicolás Maduro tomará posse na Assembleia Nacional para seu terceiro mandato nesta sexta-feira (10). O opositor Edmundo González Urrutia garante que estará na Venezuela para assumir a presidência, uma vez que ele também reivindica vitória na última eleição presidencial. A população do país segue apreensiva diante de um cenário de tensão marcado por um forte esquema de segurança nas ruas e a ameaça de novas prisões.
Por Elianah Jorge, correspondente da RFI Brasil em Caracas
Nicolás Maduro deverá tomar posse por volta das 10h da manhã (hora local) na Assembleia Nacional, onde será ratificado presidente para o terceiro mandato consecutivo pelo líder da casa, o deputado Jorge Rodríguez. De lá, ele deve seguir até o palácio presidencial de Miraflores, localizado no centro de Caracas, de onde vai falar aos seus apoiadores.
Maduro antecipou que a primeira ação de seu novo mandato será decretar a formação de um grupo para avaliar reformas na Constituição de 1999, outorgada por seu padrinho político Hugo Chávez (1954-2013). A meta, segundo ele, é "unificar a Venezuela ao redor de um projeto comum" e "definir com clareza o modelo de desenvolvimento venezuelano para os próximos 30 anos" e, assim, "democratizar até o infinito a vida política e social da Venezuela".
Com o novo mandato, Maduro, que assumiu a presidência em 2013, deverá ficar no poder até 2031.
Mas essa posse vem sem grande pompa. Entre os convidados, estarão os presidentes de Cuba, Miguel Díaz-Canel, e da Nicarágua, Daniel Ortega. Os demais participantes serão representantes de alguns países com os quais a Venezuela ainda mantém relações diplomáticas. O Brasil deverá ser representado pela embaixadora Glivânia Maria Oliveira.
González promete tomar posse
Ainda é um mistério se Edmundo González Urrutia conseguirá entrar na Venezuela. Nesta quinta-feira (9), ele esteve na República Dominicana, última etapa do giro internacional até chegar à Venezuela. Ele afirmou que "nos vemos em Caracas, em liberdade", garantindo que estará aqui para hoje tomar posse.
Antes, Gonzalez foi recebido pelos presidentes de Argentina, Uruguai, Estados Unidos e Panamá, onde levou as atas de votação da eleição, que, segundo a oposição, confirmam sua vitória nas urnas. O material foi depositado em um cofre no Banco Nacional.
Uma recompensa de US$ 100 mil (cerca de R$ 610 mil) está sendo oferecida a quem denunciar o paradeiro do opositor. Há semanas, o ministro de Interior e Justiça Diosdado Cabello mostrou em seu programa semanal de TV algemas que seriam usadas no opositor de 75 anos assim que ele pisar na Venezuela. Em setembro passado, o ex-diplomata estava asilado na Espanha, para onde fugiu alegando sofrer pressões do governo venezuelano.
Edmundo Gonzalez afirma ter vencido o pleito de julho passado com 60% dos votos. Ele precisou se asilar na Espanha em setembro passado, para escapar das pressões do chavismo. No entanto, seu respaldo político vem em grande parte do exterior.
Na tarde desta quinta-feira, Donald Trump, que toma posse nos Estados Unidos próximo dia 20, em mensagem pelas redes sociais afirmou que González é o "presidente eleito". O Canadá também fez o mesmo reconhecimento. O governo da Colômbia preferiu manter distância e manifestou "profunda preocupação e rejeição ao aumento e à gravidade das denúncias de violações de direitos humanos que estão acontecendo na Venezuela antes do dia 10".
Ex-presidentes, aliados de Edmundo González, se dispuseram a apoiar o opositor, mas foram advertidos que seriam presos caso entrassem na Venezuela.
Corina explicará interceptação
María Corina Machado afirmou na noite desta quinta-feira (9) que está em um lugar seguro e mais determinada do que nunca. Ela disse que nesta sexta-feira dará detalhes sobre o que aconteceu ontem à tarde.Após aparecer no protesto em defesa da vitória de Edmundo González, depois de 133 dias na clandestinidade, Corina saiu em moto.
Em seguida foi interceptada por veículos conduzidos por aliados do chavismo. Houve disparos. Um dos motociclistas da equipe da opositora foi baleado, mas está fora de perigo. Pelas redes sociais, a equipe informou que María Corina foi levada por agentes estatais a um lugar para gravar vídeos e, em seguida, liberada. Pouco após a ação, começaram a circular pelas redes sociais imagens da opositora anunciando que estava bem.
Diosdado Cabello, o ministro de Interior e Justiça, desmentiu a líder opositora e afirmou que "ela está louca para que nós a capturemos. Este era o plano dela: dizer que foi capturada. Uma invenção, uma mentira".
O Ministério Público seguiu a linha de Diosdado e, por meio de um comunicado, afirmou que a interceptação de María Corina Machado foi "uma grave operação psicológica para incitar atos de violência" em momentos prévios à posse de Nicolás Maduro.
"Tumba do fascismo"
A organização Fórum Penal informou que pelo menos 16 pessoas foram presas nesta quinta-feira durante as manifestações. As detenções aconteceram em várias partes do país. Mas este número poderia ser maior.
Manifestantes em diversas partes de Caracas evitaram que agentes de segurança estatais levassem pessoas que estavam na concentração opositora. Julio Balsa, jornalista da equipe de María Corina Machado, desapareceu na tarde desta quinta-feira enquanto cobria os protestos.
A vice-presidente garantiu ontem que a "tumba do fascismo estará na Venezuela". A declaração foi feita na abertura do Festival Internacional Antifascista, do qual participam mais de mil representantes de 25 países. "Cavaremos aqui esta tumba para que não se atrevam a privatizar a vida dos povos", afirmou Delcy Rodríguez.
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos criticou o uso do terrorismo de Estado para espalhar medo e controlar a população. O organismo exigiu o fim da perseguição a opositores, jornalistas e defensores dos direitos humanos, além da liberação de todas os detidos por motivos políticos.
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