Pequim rejeita tese da CIA de que Covid-19 "vazou" de laboratório chinês
A China rejeitou nesta segunda-feira (27) a possibilidade de que a pandemia de Covid-19 teria iniciado depois que o vírus escapou de um laboratório. A reação ocorre depois que a Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA) indicou no fim de semana que acredita que essa seja a teoria "mais provável".
"A conclusão científica à qual teve acesso o grupo de especialistas conjunto da China e da Organização Mundial da Saúde, com base em visitas a laboratórios de Wuhan, é que é extremamente improvável que tenha ocorrido um vazamento de laboratório", disse a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Mao Ning. Segundo ela, a informação foi amplamente reconhecida pela comunidade internacional e científica.
A declaração ocorreu depois que a CIA, principal agência de inteligência dos Estados Unidos, afirmou no sábado (25) que privilegia a hipótese de que o vírus tenha vazado de um laboratório chinês em vez da possibilidade de que a doença tenha sido transmitida por animais. A questão sobre a origem da pandemia jamais foi esclarecida.
"A CIA estima, com baixo grau de confiança e com base em todo o conjunto de relatórios disponíveis, que a origem da pandemia de Covid-19 relacionada a pesquisas é mais provável que a origem natural", indicou um porta-voz da agência.
Pequim ainda acusou os Estados Unidos de instrumentalizarem a questão da origem da Covid, "bem como parar de sujar e jogar a culpa em outros países", sublinhou a porta-voz do governo chinês nesta segunda-feira. Mao Ning também apressou as autoridades americanas a responderem "o mais rápido possível às preocupações da comunidade internacional" e de "trabalhar de maneira pró-ativa com a OMS" sobre os primeiros casos suspeitos.
No entanto, o presidente americano, Donald Trump, assinou na última segunda-feira (20) um decreto para que os Estados Unidos deixem a Organização Mundial da Saúde, frequentemente criticada pelo líder republicano durante seu primeiro mandato. Ao assinar o documento, o novo presidente disse que o país foi "roubado" pela organização. O chefe da Casa Branca também afirmou ser "injusto" que os Estados Unidos tenham contribuído mais com a OMS do que a China.
Principal doador da OMS, Washington fornecia, até então, um financiamento vital para manter diversas operações da organização. Acredita-se que sua saída gere uma reestruturação significativa da instituição da ONU, podendo causar interrupções em iniciativas de saúde global.
China na mira da CIA
A CIA é liderada desde a semana passada - quando teve início o segundo mandato de Donald Trump - por John Ratcliffe. Durante audição no Senado, o ex-procurador e ex-deputado conservador declarou que sua direção produziria "análises perspicazes, objetivas, vindas de todas as fontes", sem jamais deixar visões políticas ou pessoais alterarem seu julgamento ou contaminarem seu trabalho.
No entanto, Ratcliffe também anunciou sua intenção de deixar Pequim na mira, declarando que a agência deve "continuar a se concentrar e trabalhar mais contra as ameaças representadas pela China e o Partido Comunista no poder".
O novo diretor da CIA foi deputado pelo Estado do Texas de 2015 a 2020, período no qual integrou o grupo que defendeu Trump em seu primeiro processo de destituição. Em entrevista ao canal de TV Fox News no domingo (25), Ratcliffe prometeu cumprir o objetivo do novo presidente de deixar a política "fora do serviço de inteligência".
Fim da proteção a Fauci
Na sexta-feira (24), Trump anunciou ter acabado com o dispositivo de proteção a Anthony Fauci. Uma das principais personalidades de luta contra a Covid-19 nos Estados Unidos, o consultor e cientista de 84 anos era alvo de ameaças de morte desde a pandemia.
Conhecido por seu compromisso com a ciência, ele rebateu diversas vezes declarações infundadas de Trump durante a crise sanitária e criticou abertamente movimentos conspiracionistas e antivacinas.
"Você não pode se beneficiar de uma proteção pelo resto de sua vida porque você trabalhou para o governo", disse Trump durante uma coletiva de imprensa na Carolina do Norte, na sexta-feira. "Posso indicar alguns números de telefone de ótimos agentes de segurança", ironizou o novo chefe da Casa Branca. Ao ser questionado sobre como se sentiria se algo ocorresse a Fauci, Trump rebateu: "não seria minha responsabilidade".
(RFI com informações da AFP)
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