Na Alemanha, aproximação entre direita e extrema direita se intensifica, na reta final para eleições

Os conservadores alemães deram mais um passo em direção à extrema direita nesta sexta-feira (31), ao tentarem aprovar juntos um projeto de lei sobre imigração, algo inédito no país desde a Segunda Guerra Mundial.

O texto foi rejeitado por uma margem estreita no Parlamento alemão (350 votos contra e 338 a favor), mas, a três semanas das eleições legislativas, essa iniciativa — a segunda em apenas três dias — marca uma ruptura significativa na política alemã. Até então, os partidos mantinham um "cordão sanitário", recusando qualquer cooperação com a extrema direita no nível nacional.

O chanceler social-democrata Olaf Scholz alertou para o risco de que essas duas forças políticas acabem governando juntas, como já ocorreu em outros países.

O projeto de lei apresentado pela União Democrata-Cristã (CDU/CSU) visava restringir o reagrupamento familiar de imigrantes e facilitar a detenção de estrangeiros sem documentos. No entanto, mesmo dentro do partido conservador, houve divisões: Friedrich Merz, candidato da CDU ao cargo de chanceler, revelou que 12 deputados da própria legenda não apoiaram a proposta.

Polarização política em torno da imigração

A ofensiva da direita sobre a questão migratória ocorre após o assassinato em 22 de janeiro de um homem em Aschaffenburg, no oeste da Alemanha, por um afegão, um episódio que gerou grande comoção no país.

Atualmente, Merz lidera as pesquisas para as eleições legislativas de 23 de fevereiro, com cerca de 30% das intenções de voto. No entanto, o fracasso da proposta pode enfraquecê-lo politicamente.

Alice Weidel, candidata da extrema direita (AfD), classificou a rejeição do projeto como um "desmonte" de Merz e espera atrair parte do eleitorado conservador, já que seu partido tem cerca de 20% das intenções de voto.

Por outro lado, os partidos de esquerda condenaram veementemente a aliança parlamentar entre direita e extrema direita. Rolf Mützenich, líder dos deputados social-democratas, afirmou que o Parlamento estava "abrindo as portas do inferno". A ministra das Relações Exteriores, Annalena Baerbock (Verdes), questionou: "Qual será o próximo passo?".

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Olaf Scholz também atacou Friedrich Merz, acusando-o de falta de credibilidade. "Ele diz que não fará coalizão com a AfD, mas não podemos confiar nele", afirmou o chanceler em um podcast da revista Die Zeit.

Um cenário semelhante ao da Áustria?

A situação alemã lembra a da Áustria, onde o partido conservador ÖVP afirmou que jamais se aliaria à extrema direita, mas agora considera formar um governo com o FPÖ, que pode até assumir a chancelaria.

Na quarta-feira, os conservadores já haviam rompido o tabu da política alemã ao aprovar, com apoio da AfD, uma moção parlamentar contra a imigração. Embora não tenha caráter vinculativo, o episódio abriu um precedente preocupante para muitos setores políticos.

Desta vez, trata-se de um projeto de lei concreto, evidenciando uma aproximação parlamentar cada vez mais explícita entre os dois partidos.

Ainda não está claro se essa movimentação beneficiará os conservadores nas eleições. Algumas pesquisas indicam que o apoio à CDU não aumentou, e a imagem de Merz pode ter sido afetada negativamente. "Ele mostrou que busca o poder a qualquer custo", avaliou o cientista político Hajo Funke, do jornal Rheinische Post.

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A extrema direita alemã, por sua vez, espera dobrar seu desempenho em relação a 2021. Embora os outros partidos ainda recusem qualquer aliança com a AfD, o partido acredita que, até as eleições de 2029, o "cordão sanitário" que o isola politicamente terá desaparecido.

(Com AFP)

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