No Irã, diretor da AIEA prepara nova rodada de negociações com EUA sobre programa nuclear
O diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi, chegou nesta quarta-feira (16) a Teerã, onde se reuniu com o chefe da Organização de Energia Atômica do Irã, Mohammad Eslami, nesta quinta-feira (17). Antes de desembarcar no país, Grossi disse que o Irã "não estava longe de obter a bomba nuclear".
O diretor-geral da AIEA está em Teerã para "preparar" as negociações entre o Irã e os Estados Unidos sobre o programa nuclear iraniano, que ocorrerão neste sábado (19) em Roma. Os países ocidentais suspeitam que o Irã queira produzir armas nucleares. Teerã rejeita as acusações e alega que o objetivo do seu programa nuclear é civil e visa a produção de energia.
A AIEA, a agência nuclear da ONU com sede em Viena, é encarregada de verificar se o programa nuclear do Irã é pacífico. "Não basta dizer à comunidade internacional 'não temos armas nucleares'.
"Precisamos ser capazes de verificar", disse Grossi nesta quarta-feira (16), em entrevista ao jornal Le Monde. As discussões neste sábado serão indiretas e terão a mediação de Omã. Elas se concentrarão principalmente na flexibilização das sanções e nas questões nucleares.
O Irã é o único país do mundo sem arsenal atômico que enriquece urânio a 60%, nível próximo aos 90% necessários para fabricar armas atômicas. O acordo assinado em 2015 com as potências ocidentais limitou essa taxa a 3,67%.
O país também continua a acumular grandes estoques de material físsil, que sustenta uma reação de fissão nuclear em cadeia e é essencial para a produção de material nuclear, de acordo com a AIEA.
Important to meet with Foreign Minister @araghchi during my timely visit to Iran. Cooperation with @IAEAorg is indispensable to provide credible assurances about the peaceful nature of Iran's nuclear programme at a time when diplomacy is urgently needed. pic.twitter.com/wlmsghttIK
? Rafael Mariano Grossi (@rafaelmgrossi) April 16, 2025
Rafael Grossi reuniu-se na quarta-feira em Teerã com o ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araghchi. "A cooperação com a AIEA é indispensável para fornecer garantias sobre a natureza pacífica do programa nuclear do Irã em um momento em que a diplomacia se tornou urgentemente necessária", escreveu no X.
Para Araghchi, a discussão com Grossi foi útil. "Nos próximos meses, a Agência pode desempenhar um papel crucial na solução pacífica da questão nuclear iraniana", declarou em uma mensagem no X.
"Estamos dispostos a confiar em Grossi e em sua missão de manter a agência longe da política e da politização, concentrando-se em seu mandato técnico", acrescentou o ministro iraniano. Segundo ele, "os 'encrenqueiros' estão se reunindo para atrapalhar as negociações em andamento".
Had useful discussion with visiting IAEA chief Grossi. In the coming months, the Agency can play a crucial role in peaceful settlement of the Iranian nuclear file.
? Seyed Abbas Araghchi (@araghchi) April 17, 2025
As variety of spoilers are gathered to derail current negotiations, we need a Director General of Peace.
Our... pic.twitter.com/bwWokSnGZj
As negociações indiretas entre Araghchi e o enviado do presidente Donald Trump para o Oriente Médio, Steve Witkoff, mediadas por Omã, começaram em 12 de abril em Mascate. Para o chanceler iraniano, a questão do enriquecimento de urânio era "inegociável".
Aragchi também é esperado na Rússia na quinta-feira para discutir a questão nuclear. Ele transmitirá ao presidente russo, Vladimir Putin, uma mensagem escrita do líder supremo do Irã, Aiatolá Khamenei.
A Rússia ratificou o acordo nuclear internacional assinado com o Irã em 2015, que deixou de respeitá-lo após a saída dos Estados Unidos em 2018. França, Reino Unido, China e Alemanha também assinaram o documento.
O texto prevê o fim das sanções internacionais contra o Irã, que deveria limitar seu nível de enriquecimento de urânio e autorizar a AIEA a visitar suas instalações nucleares. Segundo a agência, o país estava respeitando seus compromissos até a retirada dos EUA do acordo em 2018 por Donald Trump e o restabelecimento das sanções americanas.
Desde seu retorno à Casa Branca, Trump pediu ao Irã que negocie um novo texto, mas ameaçou bombardear o país caso não haja consenso "diplomático".
O presidente iraniano, Massoud Pezeshkian, deu a entender na quarta-feira que queria "concluir" um acordo com os Estados Unidos sobre o programa nuclear. Na terça-feira, Khamenei, que tem a última palavra em questões estratégicas, elogiou as negociações em andamento, mas disse estar "cético" sobre o resultado.
Com informações da AFP
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