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Diarista é chamada de 'gentalha' e 'lixo' após cancelamento; Polícia apura

Hygino Vasconcellos

Colaboração para o UOL, em Porto Alegre

10/11/2020 12h59Atualizada em 10/11/2020 14h53

A diarista Maria José de Souza Marques, 54 anos foi chamada de "gentalha", "lixo" e "vagabunda" pelo cerimonialista Valeriano Pinto Coelho Filho após desmarcar uma faxina na casa dele em Anápolis (GO), cidade a 51 km de Goiânia. A situação aconteceu na manhã da última sexta-feira (6), e a diarista registrou ocorrência ontem à tarde na polícia.

Em posicionamento por vídeo encaminhado ao UOL, o cerimonialista reconheceu que mandou o áudio, mas "em um momento de nervoso". Em seguida, classificou o trecho da fala como "ridículo" e pediu perdão para a diarista. Por outro lado, frisou que quem divulgou a gravação foi a família dela com a intenção de prejudicá-lo.

À reportagem, Maria José disse que trabalha há cinco anos em uma lanchonete e que precisou desmarcar com o cerimonialista, pois foi chamada ao estabelecimento. O áudio dela foi enviado às 7h23 da última sexta, mas Filho respondeu horas depois, às 9h34. A diarista tentou ainda se explicar, mas foi bloqueada por ele.

"Eu me senti como ele falou: um lixo. Fiquei desnorteada. Estou com 54 anos e nunca ninguém me ofendeu igual ele me ofendeu", conta a diarista.

Em nota, a Polícia Civil de Goiás comunicou que "o fato foi registrado na 6ª Delegacia Distrital de Polícia (DDP) de Anápolis, que investiga o crime de injúria". "O delegado responsável já iniciou as investigações e a vítima será a primeira a ser ouvida no procedimento", acrescentou.

'Não cruza meu caminho, vagabunda'

No áudio dela ao cerimonialista, a diarista explica que estava se arrumando para sair quando foi avisada que o mocotó acabou na lanchonete. Por isso, ela teria que ir até o estabelecimento e desmarcaria a faxina. A diarista pede desculpas e o orienta a procurar outra pessoa.

Em resposta, Filho começou dizendo que iria, de fato, achar outra pessoa e que ela não era "digna" de frequentar a casa dele. "Você para mim não passa de um lixo. Entendeu? Sabe por que você vive nessa vidinha de merda sua? Porque você é lixo", disse o homem. Em seguida, diz que tem vontade de "quebrar tijolo por tijolo na sua cabeça" e a chama de vagabunda.

Na sequência, o cerimonialista diz que mocotó é "comida de pobre" e que tem ódio de se misturar com "gentalha" igual a ela. "Não cruza meu caminho, vagabunda. Se você não tem hombridade de honrar seus compromissos, eu tenho. E eu estou te falando: o dia que eu te encontrar na rua, eu vou cuspir nessa cara horrorosa sua, nojenta, vagabunda, vai para o inferno", finaliza Filho.

Para o UOL, a diarista chamou o áudio de "absurdo". "Eu sempre trabalhei certinho. Não podia aceitar isso", lamentou.

Maria conta que fez no máximo oito faxinas na casa do cerimonialista e que não é amiga dele. "Eu não tenho intimidade com ele. Não tenho compromisso com ele, não sou funcionária dele", contou.

'Fui vítima', diz cerimonialista

A reportagem entrou em contato com o cerimonialista na manhã de hoje. Logo após o repórter se identificar, Filho pediu que fosse chamado no WhatsApp para o envio de um vídeo, encaminhado minutos depois. Na gravação, ele chama a diarista de "Zezinha" e começa dizendo que queria "esclarecer esse episódio tão desagradável".

No vídeo, diz que conhece a diarista "há muitos anos" e que ela não é sua funcionária, mas "esporadicamente" limpa a casa dele. O cerimonialista contou que tinha um chá com duas clientes de Goiânia e que precisava dos serviços da Maria.

"Em um momento de nervoso, eu mandei um áudio para ela. Eu não postei em redes sociais, eu não a difamei, não a caluniei. Eu mandei para ela um áudio realmente ridículo, digamos assim, porque não é o meu perfil", conta.

Em seguida, salientou que, durante a pandemia, entregou cestas básicas e que ajudou a conseguir 5 mil tijolos e cimento para construir um muro na casa da diarista.

"Enfim, eu quero pedir perdão para ela pelo áudio que eu mandei. Eu acho que quem expôs esse fato na mídia foi a família dela, não fui eu. Em momento nenhum eu denegri a imagem dela perante a sociedade, ou perante os moradores do bairro dela ou de moradores do meu bairro. Isso me acarretou um desgaste muito grande, porque as pessoas se acham no direito de comentar sobre vidas que não conhecem por um profissional de 32 anos de mercado. E aí você escuta comentários desagradáveis, pessoais", disse em vídeo.

O cerimonialista disse que está recebendo ligações de pessoas xingando, ofendendo e o humilhando. "Eu quero ver quem vai ajudar a fazer o muro na casa dela. Espero que isso sirva para a ajudá-la, porque para mim (balança a cabeça)... Infelizmente, eu só fui a vítima da mídia. Ela foi a minha vítima e eu fui vítima da mídia errada", complementou.

Logo após, falou que sempre tratou muito bem a diarista quando ela esteve em sua casa. "A Zezinha também é uma pessoa explosiva igual eu, não leva desaforo para casa, é queixo duro, mas ela sabe que todas as vezes que ela veio na minha casa, foi muitíssimo bem recebida", acrescentou o cerimonialista.

Por último, frisou que as pessoas deveriam conhecer a história dele. "Em momento nenhum, eu fiz isso publicamente. Não fiz isso publicamente. Esse caso veio à tona pela família dela que fizeram isso, de certa forma, para me prejudicar, para levantar a mídia já que eu tenho um nome na cidade, profissionalmente", afirmou.

Ele novamente pede perdão e diz que só deve satisfação a ela

Confira íntegra dos áudios:

Maria José
"Valeriano, não vou poder ir, não. O homem me ligou agora e estava me arrumando para ir para sua casa. O mocotó lá acabou e eu tenho que descer para fazer. Infelizmente, entendeu? Me desculpa aí, tenta arrumar outra pessoa, tá bom?"

Valeriano
"Com certeza, vou arrumar uma outra pessoa. Uma pessoa digna de frequentar minha casa e limpar as minhas sujeiras. Você não é digna de limpar nada. Você, para mim, não passa de um lixo. Entendeu? Sabe por que você vive nessa vidinha de merda sua? Porque você é lixo. O dia que eu te ajudei com as desgraças daqueles tijolos, foi por causa do [nome de homem]. Dá vontade de ir aí e quebrar tijolo por tijolo na sua cabeça, vagabunda. Vai fazer mocotó que é comida de pobre, que é isso que você sabe fazer. Não me misturo, tenho ódio de me misturar com gentalha igual a você. Você, nunca mais na sua vida, porca, vagabunda. Vai limpar bosta da p... que te pariu. Ou melhor, p... que te pariu não, porque você é filha de criação, você é lixo. Você nem família tem na vida, entendeu? Não cruza meu caminho, vagabunda. Se você não tem hombridade de honrar seus compromissos, eu tenho. E eu estou te falando: o dia que eu te encontrar na rua, eu vou cuspir nessa cara horrorosa sua, nojenta, vagabunda, vai para o inferno."