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Datena: 'Não sou amigo do Bolsonaro'

26/08/2021 12h29Atualizada em 26/08/2021 17h50

O apresentador José Luiz Datena entrevistou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) diversas vezes em seu programa Brasil Urgente, na Band. Apesar de ter atendido ligações ao vivo do presidente, ele nega qualquer intimidade com o chefe do Planalto.

"Eu não sou amigo do Bolsonaro, não frequento a casa dele, nem ele frequenta a minha casa", enfatizou.

Datena participou hoje do UOL Entrevista, conduzido pelo apresentador Diego Sarza e com participação dos colunistas Josias de Souza e Mauricio Stycer.

Relação com Bolsonaro

Questionado sobre a proximidade com Jair Bolsonaro, Datena falou que já chegou a ser próximo dele, mas que hoje não tem mais contato.

"Surgiu realmente por uma questão de oportunidade. Depois, passou a ser uma fonte jornalística importante, em momentos difíceis do país", afirmou. O comunicador entrevistou o presidente várias vezes em seus programas na TV e na rádio. Hoje, faz críticas.

"Ele [Bolsonaro] me passava mensagens, às vezes de madrugada. Hoje eu não tenho afinidade e nem troco mensagens e nem converso com ele. Ele seguiu o caminho dele e eu segui o meu caminho. Nem como fonte [jornalística] eu falo com o presidente."
José Luiz Datena

Datena lembrou que se aproximou do Bolsonaro depois que foi chamado para entrevistar o então candidato à Presidência da República, que estava internado após ter sido esfaqueado em 2018. "Quem é que não tem interesse em entrevistar um cara que é candidato a presidente e obviamente tem chances de ganhar? É evidente que eu fui lá e entrevistei ele, é dever jornalístico", disse.

Quando ele [Bolsonaro] queria falar alguma coisa e ligava para mim, eu emendava perguntas que ele não respondia para outros jornalistas. Como ele tinha me ligado, ele era obrigado a responder. Eu perguntei uma vez se ele ia dar golpe, claramente há muito tempo atrás, e ele: 'Ah, Datena, você acha que quem vai dar golpe vai avisar?' Bom, agora ele está avisando, né?
José Luiz Datena

Datena disse ainda que não se considera amigo do presidente. "Eu vi o Bolsonaro presencialmente umas quatro vezes e nunca confundi fonte, que é importante para qualquer jornalista, com o jornalismo. Se eu deixei de fazer perguntas capitais em momentos capitais foi por incapacidade do momento".

Golpe e Forças Armadas

Durante a entrevista, Datena duvidou da possibilidade de Bolsonaro dar um golpe de Estado e ainda de um eventual apoio das Forças Armadas, afirmando que o presidente "não cumpriu quase nada do que prometeu aos policiais".

"Eu duvido que os militares de hoje estivessem alinhados a qualquer tipo de atividade golpista do presidente Bolsonaro, que está ficando desmoralizado. Eu duvido que comandantes militares estejam alinhados com o presidente da República. Eu duvido até que ele queira dar golpe. O que ele me falou foi que quem quer dar golpe não avisa. Ele está avisando demais que daria golpe. Acho que isso é falácia e está perdendo cada vez mais a força", comentou.

Datena compartilhou o que o preocupa em relação a esse assunto: "A minha preocupação é outra, é de criar o caos. Porque o que o Bolsonaro está fazendo é chegar próximo do caos, ou da anarquia."

Disputar a presidência ou Senado

Datena é o único pré-candidato confirmado do PSL, partido que consagrou Jair Bolsonaro (agora sem sigla), para concorrer à presidência da República nas eleições de 2022. Com um histórico de desistir de candidaturas próximo à data do pleito, o comunicador se mostrou ainda incerto em relação ao cargo que irá tentar no próximo ano.

Seria ótimo disputar a presidência da República, eu gostaria, mas tem espaço para o Senado e tem espaço para o governo de São Paulo.
José Luiz Datena

Segundo o comunicador, a confirmação dele para a corrida à presidência vai depender também dos resultados das pesquisas. "Também não adianta ser mané. Se eu sair com 3% nas pesquisas contra 40% do Lula, 35% do Bolsonaro e 15% do Ciro, por que é que eu vou disputar uma eleição que eu não vou ter chances de ganhar? Agora se eu tiver de 7 a 10 pontos percentuais, eu vou para cima dos caras", afirmou.

Outro fator na decisão do jornalista é a "permissão" de Johnny Saad, proprietário e presidente da Band. "Se o Johnny falar para mim que não quer que eu vá para a política, eu não vou, porque eu tenho respeito pelo Johnny, pela família toda", afirmou, dizendo que a chegada de Faustão na emissora é "o que mais me motivaria a ficar na Band."

"Não sei se ele quer se livrar de mim, mas meio que ele [Johnny] está me aconselhando a entrar na política dessa vez. Acho quase impossível eu não entrar na política dessa vez", acrescentou. "A Band está em uma fase excepcional, mas sabe aquilo de achar que posso fazer mais pelo meu país?", falou.

Experiência política

Por mais que não tenha experiência prática na política, Datena não se sente em desvantagem. "Talvez eu seja o político mais experiente sem ter participado de política até agora. Se bem que tem determinadas experiências políticas que eu não quero ter", completou.

O comunicador disse ainda que antes pensava ser injusto pleitear um cargo de governo enquanto ainda trabalha em rádio e televisão. "Poderia complicar um pouco a cabeça do eleitor e confundir o carinho dele por você com sua capacidade de administrar o país", falou.

Entretanto, ele afirmou que mudou de opinião nos últimos tempos. "Roubar eu, não roubo. Ter boas intenções, eu tenho. Pensar no povo brasileiro, eu penso todos os dias fazendo um programa que é de origem de segurança pública e muito voltado para o social, voltado para o povo", disse.