Ascensão de 'droga do sexo' deixa polícia em alerta | Podcast UOL Prime #38
Mateus Araújo e Tiago Dias
Do UOL, em São Paulo
03/10/2024 05h30
A metanfetamina é conhecida como a "droga do sexo" por potencializar a excitação. Sua crescente popularização no Brasil, especialmente nos últimos quatro anos, está diretamente ligada ao fenômeno do "chemsex", festas de sexo movidas a drogas. Não por acaso, seu público-alvo são jovens de classe média e alta.
O repórter do UOL, Tiago Dias, conta que os relatos são de pessoas que estão transando e não percebem quando o dia virou. Elas reservam quartos de hotéis, fecham janelas e se "esquecem do mundo".
"A pessoa está ali, se sentindo como uma máquina sexual, um prazer extremo, e em um delírio de que aquilo ali é uma coisa muito única."
"O efeito é muito parecido com a cocaína, mas muito mais potente e duradouro", relata Tiago. A droga age na liberação de dopamina, serotonina e noradrenalina, provocando aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial, além de causar uma euforia extrema e sensação de autoconfiança.
"E isso vai causando danos dentro do cérebro. Você adquire uma dependência muito forte ao usar duas ou três vezes", conta.
O podcast UOL Prime, apresentado por José Roberto de Toledo, traz nesta quinta-feira (3) uma entrevista com os repórteres Tiago Dias e Mateus Araújo sobre a disseminação de metanfetamina em São Paulo. O episódio explora por que essa droga está se popularizando tão rapidamente, trazendo uma série de riscos à saúde pública.
Ao contrário de outras drogas comercializadas na rua, a "tina", como é chamada por alguns usuários, é negociada principalmente nas redes sociais, em aplicativos de encontros.
"Teve um caso que acabou não saindo nenhuma matéria. Uma mãe descobriu que o filho estava usando. Ele trabalhava com OnlyFans, produzindo vídeos de sexo, e ela foi descobrindo vendo o comportamento dele. Ele quebrou a casa inteira, ameaçou bater nela e ela não entendia o que estava acontecendo, porque ele não tinha nenhum histórico com outra droga nem nada", conta Tiago.
A droga está no radar da Polícia Federal, que vê um aumento expressivo no volume de apreensões. No Aeroporto Internacional de Guarulhos, os casos começaram a ser registrados em 2013. A partir de 2020, a PF passou a registrar a droga por quilo, chegando em pó e cristais. Antes, ela era encontrada apenas em comprimidos. Desde então, o recorde de apreensões foi registrado em 2023, com um total que soma quase 74 kg.
Em julho deste ano, uma operação do Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico de São Paulo encontrou 1,9 kg da droga em um apartamento de luxo no bairro da Aclimação, região central da capital. Foi um recorde que ligou um alerta na polícia do estado.
Na entrevista, os repórteres falam sobre os detalhes da operação. A droga estava em formato de cristais que podem ser liquefeitos ou esmagados para virar pó e serem consumidos.
A investigação trouxe à tona um esquema internacional de tráfico envolvendo a China como fonte da droga. Seis pessoas foram presas na operação - quatro homens chineses e duas mulheres brasileiras.
"A polícia começou a mapear e entender que em torno deles tem um esquema: a droga vem da China e esse grupo distribui em São Paulo", conta Mateus Araújo.
Além do aumento na apreensão, há também uma mudança em relação à origem da droga que chega ao Brasil. Segundo o delegado Rodrigo Weber de Jesus, chefe da PF no Aeroporto de Guarulhos, "antigamente a gente tinha ocorrências mais ligadas à Europa. Hoje em dia, os últimos casos de apreensão estão mais ligados à América do Norte ou América Central".
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