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Em Miami (EUA), matam Fidel Castro várias vezes por ano

Irmão de Fidel, Raúl conversa com o escritor García Márquez durante parada militar em Havana, Cuba - AP Photo/ Javier Galeano
Irmão de Fidel, Raúl conversa com o escritor García Márquez durante parada militar em Havana, Cuba Imagem: AP Photo/ Javier Galeano

Jorge Ramos

21/05/2014 00h01

Aqui em Miami matam Fidel Castro várias vezes por ano. Há algumas semanas, ouvi que ele tinha morrido, alguém tuitou que havia soldados vigiando as ruas de Havana e, como sempre ocorre, poucos dias depois Fidel reapareceu (neste caso, em uma foto com uma das filhas de Hugo Chávez). Como diz a canção, "no estaba muerto, andaba de parranda" (não estava morto, andava de farra). Já perdi a conta das vezes que o declararam morto.

Não é nenhum segredo que muitos meios de comunicação dos EUA têm pronto o obituário e planos de cobertura para quando o ditador de 87 anos de idade morrer. Suspeita-se que não poderá existir castrismo sem Fidel e que depois de sua morte haverá uma inevitável abertura democrática na ilha. Mas isso não é certeza. Muitos acreditavam que não haveria chavismo sem Chávez, e Nicolás Maduro demonstrou que sim, é possível (mesmo que se leve a Venezuela à ruína e ao despotismo).

Fidel, seu irmão Raúl e sua experiência morrem em câmera lenta. O capitalismo pouco a pouco se infiltrou na ilha. Seus habitantes finalmente podem sair se conseguem um visto. E, por mais que a ditadura tente bloquear as redes sociais na internet e os sinais de televisão, a engenhosidade dos cubanos se impõe sobre as absurdas proibições.

A verdade é que há 20 anos o regime cubano vem buscando a maneira de que o mundo o reconheça como legítimo. Mas não é fácil. Uma ditadura é uma ditadura.

Depois da desintegração da União Soviética em 1991, os irmãos Castro sentiram o chão tremer. E há provas de que já em 1994 buscaram aproximar-se dos EUA para normalizar as relações. A Tchecoslováquia, Polônia e vários países da órbita soviética haviam deixado para trás seu totalitarismo comunista. E o próximo a cair, supunha-se, seria Cuba.

Em um almoço na casa do escritor William Styron em Martha’s Vineyard, Massachusetts, em setembro de 1994, o presidente Bill Clinton resistiu à pressão do próprio Styron, do escritor mexicano Carlos Fuentes e do Nobel colombiano Gabriel García Márquez para restabelecer relações com Cuba, segundo lembrou em um artigo para o "The New York Times" o produtor de cinema Harvey Weinstein, que também esteve na reunião. Clinton não cedeu.
Longe disso, o próprio Clinton me disse, no ano passado, que não eram verdadeiros os rumores de que ele havia pedido a García Márquez nessa ocasião que falasse com Fidel para facilitar um encontro. O caso é que Garcia Márquez se transformou em um canal informal de comunicação entre Cuba e os EUA.

Em maio de 1998, García Márquez foi à Casa Branca ver o secretário-geral de Clinton, Mack McLarty, com uma mensagem confidencial de Fidel. O ditador cubano estava disposto a cooperar com os EUA em uma investigação de terrorismo, segundo lembrou há pouco em um artigo o próprio McLarty.

Dessas aproximações nada surgiu. A comunidade cubano-americana do sul da Flórida é muito forte politicamente, e continua sendo impensável que o Congresso em Washington suspenda o embargo americano. Além disso, a derrubada de dois pequenos aviões da organização Irmãos ao Resgate em 1996 isolou ainda mais Cuba, não só dos EUA, mas também da União Europeia. A mensagem foi clara: nada com Cuba até que melhore seu histórico criminoso de direitos humanos, democratize seu sistema político e abra espaços para a imprensa e a dissidência interna.

Mas isso não aconteceu. E assim chegamos a 2014. Cuba é uma das nações mais fechadas do planeta. Seus dois ditadores ainda mantêm o controle à base de medo e de um bem azeitado sistema repressivo. Mas o regime não dá mais.

Não me atrevo a prognosticar o rápido fim do castrismo, porque os Castro enterraram qualquer sinal de otimismo. Todos os que disseram "nos vemos no Ano Novo em Havana" se enganaram ou estão mortos.

Enquanto isso, continuo escutando --e descartando-- rumores sobre a iminente morte de Fidel. Mas sou dos que acreditam que Fidel não precisa morrer para que Cuba mude.

Não, os ditadores não devem morrer no poder. Devem morrer na prisão.