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O massacre de Connecticut e a imagem dos Estados Unidos na Europa

Policiais vigiam entrada da escola que foi alvo de massacre a tiros na última sexta (14) - Don Emmert
Policiais vigiam entrada da escola que foi alvo de massacre a tiros na última sexta (14) Imagem: Don Emmert

16/12/2012 14h42

O massacre na escola primária do Connecticut causou comoção no mundo inteiro. Paralelamente às condolências enviadas ao governo e ao povo americano pelo papa Bento 16, pela rainha da Inglaterra, pelos dirigentes da União Europeia (UE) e de seus países membros, a mídia da Europa debate de novo o uso de armas de fogo nos Estados Unidos.

No último mês de julho, após o massacre no cinema de Aurora, no Colorado, registrei aqui neste espaço a incomprensão que existe entre europeus e americanos a respeito da pena de morte e do uso generalizado de armas de fogo nos Estados Unidos. Agora, os comentários da imprensa européia assumem um tom mais severo.

O título do editorial "The Guardian" é sem concessões: "No que se refere à armas e violência, os EUA são um Estado fracassado". A definição "Estado fracassado" (failed State) atribuída pelo jornal londrino alude ao ranking publicado pela revista "Foreign Policy", listando os países cujo governo é ineficiente, sem controle sobre parte de seu território e incapaz de garantir a segurança e os serviços públicos (na lista de 2012, a Somália, classificada em 1° lugar, é o país cujo Estado é o mais fracassado e a Finlândia, no 177° lugar, é o país cujo Estado é o mais eficaz).

Como outros jornais americanos e europeus, o parisiense "Le Monde" observou que Obama, ao exprimir sua grande emoção pela tragédia de Connecticut, evitou anunciar medidas concretas de restrição ao uso de armas de fogo. Quando ocorreu a matança no cinema de Aurora, no mês de julho, em plena campanha presidencial, tanto Obama como seu rival Mitt Romney, também haviam desconversado quanto à proibição do porte de armas.

O motivo da omissão das principais lideranças políticas americanas é bem conhecido: segundo as sondagens, 73% dos americanos se opõem à qualquer restrição ao porte de armas. Sabe-se também que o número de armas na mão dos americanos passou de 200 milhões em 1995, para 270 milhões nos dias de hoje.

Segundo uma reportagem do "Washington Post", as cifras mostram que a média per capita dos Estados Unidos --9 armas para cada 10 americanos-- é a maior do mundo. No mundo desenvolvido, os EUA tem a segunda mais alta taxa de assassinatos por armas de fogo, inferior somente à taxa do México, atravessado pela guerra dos cartéis de narcotraficantes.  

Frente à tragédia que ensanguentou a escola de Connecticut a algumas semanas do início de seu segundo mandato, a fala moderada de Obama sobre a necessidade de "medidas significativas" para impedir outros massacres, decepcionou os americanos partidários do controle das armas de fogo e boa parte da imprensa europeia. Com o noticiário sobre os novos detalhes do assassinato cruel das vinte crianças de 6 e 7 anos, além dos sete adultos que também morreram no atentado, aumentam as pressões sobre a Casa Branca e o Congresso.

Liderando uma coalização de 600 prefeitos favoráveis ao controle, Michael Bloomberg, prefeito de Nova York, declarou logo após o discurso de Obama: "O apelo a 'medidas significativas' é insuficiente. Nós já ouvimos esta retórica precedentemente. O que não vimos ainda é liderança do presidente ou do Congresso. Isto tem que acabar agora. Esta tragédia nacional deve ter uma resposta nacional".

No seu editorial deste domingo (16), o jornal londrino "The Independent" ilustra a perplexidade dos europeus com a violência americana. "Mais uma vez, o resto do mundo olha a América com horror, simpatia e incompreensão", dizem as primeiras linhas no editorial que se conclui com a esperança  de que Obama consiga dar um basta nos massacres. "Se conseguir implementar qualquer restrição à venda de armas no seu segundo mandato, ele [Obama] merecerá o triunfo da discreta grandeza".