Snowden e a luta contra o Big Brother
Num congresso universitário recente reunindo grandes especialistas europeus de história diplomática a conversa no almoço girou em torno de Chelsea (ex-Bradley) Manning, WikiLeaks, Assange e Edward Snowden. A opinião unânime dos participantes foi a de que a divulgação maciça de documentos da National Security Agency (NSA) e outras informações sigilosas americanas é um divisor de águas.
A política secreta, a diplomacia e circulação de informações confidenciais dos governos e das grandes empresas ficarão marcadas para sempre por esses gigantescos vazamentos. Ficou claro o risco engendrado pela terceirização – Snowden era funcionário de um firma que prestava serviços para a NSA - das tarefas de segurança tradicionalmente aos Estados.
Os observadores mais pessimistas acham que a terceirização da coleta e análise das informações secretas, iniciada nos Estados Unidos durante a presidência de George W. Bush, já tira a liberdade de manobra do governo Obama.
No meio tempo, Snowden continua sendo homenageado pelos que atribuem às suas revelações o grande mérito de denunciar o "Big Brother", o sistema de espionagem governamental e empresarial que destrói as liberdades públicas. Na revista "New Yorker", o editorialista John Cassidy havia proposto o nome de Snowden como o "homem do ano" da revista "Time", título que ele já recebeu do jornal londrino "The Guardian".
Para Cassidy, se Snowden não tivesse agido, "o avanço constante da espionagem generalizada teria continuado e a maioria das pessoas não saberia nada disso tudo. Agora o 'Big Brother' e os seus auxiliares levaram uma chacoalhada e foram obrigados a ser um pouco mais transparentes".
Porém, surgiu também um debate paralelo: quem é o dono das milhares de informações coletadas por Snowden?, pergunta Mark Ames no Pandodaily, um site de notícias de Silicon Valley.
Snowden entregou todo os documentos extirpados da NSA aos jornalistas Laura Poitras e Glenn Greenwald, que mora no Rio de Janeiro. Recentemente, foi anunciado que o dono de Ebay, Pierre Omidyar, estava investindo 250 milhões de dólares para se associar com Greenwald e Poitras numa nova empresa de mídia.
Ames observa que os dois jornalistas são agora os únicos detentores dos milhares de arquivos – entre 50.000 e 200.000 – com as informações confidenciais coletadas por Snowden.
Para o jornalista da "New Yorker", teria sido compreensível que Greenwald e Poitras gerissem esses dados no contexto de sua própria atividade jornalista.
Mas parece chocante constatar que eles vão ganhar muito dinheiro com isso. Sobretudo quando se sabe que Snowden está bloqueado na Rússia sem ter tirado nenhum proveito pessoal desses dados, que Assange está enclausurado na embaixada do Equador em Londres por ter vazado documentos no WikiLeaks e que Manning está cumprindo uma pena de 35 anos numa prisão militar americana.
Pior ainda, Omidyar não é confiável, acrescenta Ames, que já denunciou o dono de Ebay por manipulação de informações.
De maneira indireta, é o velho debate sobre a liberdade de imprensa, iniciado por intelectuais do século XVIII às vésperas da Revolução Americana (1776) e da Revolução Francesa (1789), que ressurge na Internet e nas telas dos computadores.
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