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Vitória na Copa do Mundo "enterra" ultranacionalismo e racismo alemão

Torcedores fazem festa durante passagem do ônibus com os jogadores da seleção da Alemanha em Berlim - AFP PHOTO / DPA / WOLFGANG KUMM
Torcedores fazem festa durante passagem do ônibus com os jogadores da seleção da Alemanha em Berlim Imagem: AFP PHOTO / DPA / WOLFGANG KUMM

16/07/2014 08h45Atualizada em 16/07/2014 10h26

A vitória da seleção alemã na Copa do Mundo e os festejos com que os jogadores foram recebidos em Berlim têm um grande significado para a identidade nacional alemã.

De início, observe-se que o avião com os jogadores da Mannschaft (a seleção) chegou em Berlim, e não em Frankfurt, como era o caso antigamente. Berlim, de novo grande capital europeia, de novo a grande capital da Alemanha reunificada. Adicionando mais significação à vitória, a jogada que valeu a Copa foi marcado pelos dois únicos jogadores da seleção alemã nascidos após a reunificação, Andre Schürrle, que deu o passe, e Mario Götze, autor do gol contra a Argentina.

Muitos comentaristas salientaram o fato de que a Mannschaft é não somente a seleção da reunificação, mas também uma equipe multicultural. Ao lado de seus companheiros de equipe, Boeteng, cujo pai é do Gana, Mustafi, de origem albanesa, Khedira, filho de um tunisino, Özil, com dupla nacionalidade alemã e turca, Podolski e Klose, com nacionalidade alemã e polonesa, representam a nova nação alemã.

Como é sabido, em 1954, 1974 e 1990, quem ganhou a Copa foi a equipe da Alemanha Ocidental, representando uma parte apenas do povo alemão, ainda entravado pela catastrófica derrota na Segunda Guerra Mundial e ainda dividido.

Assim, na Copa do Mundo de 1974, realizada na Alemanha Ocidental, as seleções das duas Alemanhas se enfrentaram em Hamburgo num jogo altamente simbólico. Liderados por Beckenbauer, os alemães ocidentais foram derrotados pelos alemães orientais por um a zero.  Sparwasser, autor do gol que deu a vitória à Alemanha Oriental, fugiu em 1988 para a Alemanha Ocidental.

Mas foi em 1954, quando a Alemanha Ocidental tornou-se campeã do mundo depois de vencer em Berna a mítica seleção da Hungria, que o orgulho alemão renasceu. Na época, os prisioneiros de guerra alemães ainda estavam sendo liberados das prisões russas e as chagas da Segunda Guerra ainda estavam abertas. O filme alemão "O Milagre de Berna" (2003), de Sönke Wortmann, dramatiza este grande acontecimento.

Em 1966, na Copa realizada na Inglaterra, os ecos da Segunda Guerra continuavam presentes. Na partida decisiva entre a Alemanha Ocidental e a Inglaterra, jogada em Wembley, ocorreu o célebre “gol de Wembley”, marcado pelo atacante inglês Hurst nos minutos finais da prolongação do jogo. Houve grande debate sobre a validade do gol, que os jogadores alemães, junto com muita gente, contestavam, afirmando que a bola não havia cruzado a linha do gol. Mais tarde, soube-se que os dirigentes da equipe alemã decidiram não insistir nas reclamações porque tal atitude poderia parecer “revanchismo” contra o país que havia vencido a Alemanha na Segunda guerra.

Tudo isso agora é passado. Forjada pela mestiçagem cultural e pela democracia, a equipe vencedora da Copa do Mundo no Brasil enterra definitivamente o ultranacionalismo criminoso e racista alemão.