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O genocídio armênio e o peso da Turquia

16.abr.2015 - Os ossos de vítimas do genocídio armênio de 1915 em exposição em um pequeno memorial na capela em Antelias, Líbano - Bryan Denton / The New York Times
16.abr.2015 - Os ossos de vítimas do genocídio armênio de 1915 em exposição em um pequeno memorial na capela em Antelias, Líbano Imagem: Bryan Denton / The New York Times

26/04/2015 10h29

O centenário do genocídio armênio está sendo lembrado  em todos os continentes. Na Armênia e nos países onde há maior presença da diáspora (Rússia, Estados Unidos, Iran, França e, numa menor medida, Argentina) as cerimônias são mais expressivas e envolvem os dirigentes nacionais.

Numa declaração impactante, o papa Francisco considerou a tragédia como "o primeiro genocídio do século 20". Outros líderes mundiais usaram a mesma qualificação que foi retomada pela maioria dos órgãos da mídia.

Porém, deve ser observado que, entre 1904 e 1907, já havia ocorrido na atual Namíbia o genocídio do povo herero perpetrado pelas tropas coloniais alemãs (em 1915 a região tornou-se colônia britânica). A existência deste extermínio é notória e foi reconhecida pela própria Alemanha. Outro ponto importante se refere à palavra e ao conceito de genocídio. Como é sabido, os sucessivos governos turcos obstinam-se a negar o genocídio de 1915, afirmando que muçulmanos turcos e cristãos armênios morreram no caos das violências intercomunitárias da época.

Embora o uso da palavra esteja proibido nas escolas turcas desde de 2003, muitos jovens não aceitam mais essa versão dos fatos e reconhecem o crime contra a humanidade cometido pelos dirigentes de seu país. Num anúncio pago, recusado pelo New York Times, mas publicado no Washington Post nesta semana, um lobby turco-americano pretende que não há "consenso acadêmico" sobre o genocídio dos armênios.

Apesar disso, além do Vaticano, 21 países, como a Argentina e o Uruguai, reconhecem o genocídio de 1915. Outros países, como o Brasil, Israel e os Estados Unidos, não acatam oficialmente o termo de genocídio --ato planificado de extermínio étnico--, embora reconheçam a existência de massacres de armênios em 1915. Note-se que 44 dos 50 Estados americanos EUA, como também a Câmara dos Representantes, já qualificaram o genocídio do povo armênio, como foi o caso no Brasil, dos Estados do Paraná, São Paulo e do Ceará.

Aliado da Turquia e em conflito fronteiriço com a Armênia, o Azerbaijão também milita ao lado de Ankara pelo não reconhecimento do genocídio. Contudo, é essencialmente para não contrariar a Turquia que os Estados Unidos, Israel, o governo britânico (excluídos o País de Gales, a Irlanda do Norte e a Escócia), a União Europeia (excluído o Parlamento Europeu) e muitos outros governos, incluindo o Brasil, não empregam oficialmente a palavra "genocídio" para caracterizar a tragédia de 2015.

Depois de fazer em 2008 um discurso no Senado afirmando que se fosse eleito presidente reconheceria o genocídio dos armênios, Obama voltou atrás.

De permeio às cerimônias de luto e lembrança suscitadas em toda a parte pelo centenário do genocídio, transparece a influência da Turquia nas relações internacionais.